A ERA NAPOLEÔNICA: UMA NARRATIVA DAS BATALHAS E DO SISTEMA DE GUERRA DE NAPOLEÃO (1792-1815)
Por: Clara Lima • 28/9/2018 • Artigo • 3.635 Palavras (15 Páginas) • 198 Visualizações
A ERA NAPOLEÔNICA: UMA NARRATIVA DAS BATALHAS E DO SISTEMA DE GUERRA DE NAPOLEÃO (1792-1815)
Maria Clara Lima de Oliveira[1]
RESUMO:
O presente paper está voltado a apresentar uma narrativa dos principais acontecimentos que ocorreram no período em que é conhecido como a Era Napoleônica. Trazendo de forma concisa as características da personalidade política e militar de Napoleão Bonaparte, a sua concepção de guerra desde as táticas às estratégias no campo de batalha, e por fim uma narrativa das batalhas que marcaram a ascensão de Napoleão até seu declínio. As guerras incessantes que aconteceram na Europa entre 1792 a 1815, combinaram simultaneamente com as guerras fora do continente, e isto, trouxe conseqüências consideráveis, tanto na vitória e quanto na derrota, transformando diante disso, o mapa do mundo. As fronteiras políticas da Europa foram se redesenhando várias vezes, no decorrer de décadas de guerra. Ao longo desses vinte anos de guerra a França enquanto Estado, com seu entusiasmo e pretensão, lutou ou aliou-se a Estados do mesmo tipo, mas, do mesmo modo, a França enquanto Revolução estava a servir de inspiração a outros povos a lutarem contra a tirania e abraçarem a liberdade, com isso, vem a sofrer oposição de forças conservadoras e reacionárias. Essa linha foi se tornando tênue, pois ao final do reinado de Napoleão sob o elemento libertação, o elemento conquista e exploração imperial se sobressaia, quando as tropas francesas derrotavam, ocupavam ou anexavam algum país. Portanto as guerras desse período vieram a marcar a contemporaneidade de forma decisiva.
PALAVRAS-CHAVE: Guerras; Napoleão; Europa.
- INTRODUÇÃO
O terror que se alastrou com a Revolução Francesa, é interrompido em 27 julho de 1794, os interesses burgueses derrotam jacobinos e contra-revolucionários. As políticas que se sucederam, vieram a garantir definitivamente a afirmação das instituições burguesas na França: com o Diretório (1795-1799), o Consulado (1799-1804) e o Império (1804-1815). “A partir de então, é o exército a tornar-se o corpo responsável pela unificação e pacificação da nação francesa. Um corpo que tem na figura do general/cônsul/imperador Napoleão Bonaparte sua mais perfeita expressão.” (MONDAINI, 2008, p.194) De 1792 até o golpe de Estado dado por Bonaparte em 1799, o “18 Brumário”, a França de fato concretiza aquilo que já aspirava, à ruptura com os soberanos europeus. “Os ideais libertadores inicialmente presentes no projeto dos revolucionários franceses cedem espaço aceleradamente à vontade expansionista de conquistar o maior número possível de territórios, submetendo suas populações ao jugo francês.” (MONDAINI, 2008, p.194)As guerras napoleônicas são reconhecidas como uma guerra de transição entre o velho e o novo mundo. Onde o pensamento político do século XIX foi sendo progressivamente marcado pela obra de Napoleão e de seus seguidores. Sendo assim, o paper objetiva apresentar os tramites que levaram Napoleão a se tornar um mito, da sua ascensão ao declínio, no decorrer de suas batalhas em campo e no cenário político.
Considerado um dos maiores guerreiros de todos os tempos, comparado a Alexandre, o Grande, Cesar e Frederico da Prússia, no comando de batalhas enfrentando as maiores diversidades. Ele tinha a capacidade de mobilizar, organizar, equipar exércitos numerosos e domínio da guerra de massa, revolucionando de fato a arte da guerra que caracteriza a contemporaneidade. Ele recebeu e abraçou a formação de oficial, se dedicando a ética da profissão. Napoleão enquanto líder político expõe suas experiências ao escrever notas de rodapé na obra O Príncipe de Maquiavel, ao escrever mais de setecentos comentários na obra, revela a sua personalidade de líder político, contestando ou apoiando algumas das ideias de Maquiavel, manifestando seus pensamentos, expondo suas opiniões, como se tivesse dialogando com o próprio Maquiavel. Muitos o denominam como um verdadeiro discípulo de Maquiavel, no seu jogo de oportunismo político. Napoleão era adepto dos ideais iluministas, para ele os problemas do governo devem ser resolvidos pela razão e pelo bom senso, ou seja, o governo era uma questão de pura ciência. As concepções religiosas oscilavam “[...] entre um vago deísmo e a crença de que o homem foi feito da terra, aquecido pelo sol e organizado por um fluido eléctrico” (HAMPSON, 1969, p.139), assim partilhava dos conceitos de Voltaire, onde a fé religiosa, embora sem embasamento, era a maior preservação da humanidade.
- A OPOSIÇÃO NO INÍCIO DO CONSULADO
Nos primeiros anos no poder Bonaparte, o primeiro-cônsul, encarou oposição “[...] como Cesar ou Robespierre, era obcecado por ela e talvez a superestimasse, pois, na verdade, em geral foi de pequena monta.” (ENGLUND, 2011, p.192) No início do consulado ele não tinha tanta força para impor seu ponto de vista, tanto no plano político quanto no militar. A fraqueza da oposição tinha muitas faces e razões, em principal os opositores eram diversificados e desunidos, e com freqüência detestavam e temiam uns aos outros, até mais que Bonaparte, estes eram:
Liberais desgostosos do Instituto, dos salões e da legislatura; jacobinos radicais que se haviam oposto ao Brumário; monarquistas ensandecidos diante do sucesso de um regime moderado com laivos monárquicos; e, por fim, uma cabala de generais do exército bastante frívolos e irresponsáveis, alguns participantes dos jacobinos, outros monarquistas e outros ainda (os dois mais importantes) um pouco de cada coisa. (ENGLUND, 2011, p.192)
Napoleão põe em prática a sua incontrolável ambição pessoal e política. Com Bonaparte primeiro-cônsul, o Poder executivo submete um legislativo demasiadamente incômodo, ou seja, se afirma uma relação de continuidade, se diferenciando apenas em grau de concentração de poderes. Começa-se a então a falar sobre a necessidade de anexações territoriais em nome das “Fronteiras Naturais”, a república francesa passa a praticar uma política de anexação e ocupação. Bonaparte obtivera uma lendária reputação, ele era extremamente popular, era ambicioso, abusava constantemente de seu poder, contrariando os interesses do povo, “[...] alguns condenam Bonaparte; outros acusam a nação que se cegou ao idolatrá-lo.” (ENGLUND, 2011, p.198).
- A ARTE DA GUERRA
A guerra é uma ação recíproca, podendo se elevar a níveis extremos de usos ilimitados da força. “Existe sempre um espírito de guerra entre velhas monarquias e uma república nova. Eis a raiz das discórdias européias.” (COLSON, 2015, p.47) Napoleão não era adepto de uma política de paz, mas não era um monstro, as execuções políticas eram raras e o número de prisioneiros políticos também. A gloria militar que tanto desejava era por motivos políticos, mas não deixava de ser também por motivos pessoais. O triunfo no campo de batalha representava a grandeza e a glória. E ele não se prendia a escrúpulos diante das necessidades operacionais, muitas vezes teve de tomar decisões morais e intelectualmente arriscadas sem muito questionamento. A guerra na época napoleônica se limitava quase sempre aos exércitos, as batalhas geralmente não faziam nenhuma vítima civil, os exércitos é que eram alvos dos planos estratégicos dos adversários. “[...] Naturalmente, foi dado um passo em direção à “guerra total”, mas isto se deu progressivamente.” (COLSON, 2015, p.66)
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