A Evolução do mundo medieval

(Trabalho de Sérgio A. F. de Sousa, UAb, Lisboa, Maio de 2018.)

Quando, no Concílio de Clermont em 27 de Novembro de 1095, o papa Urbano II pregou a cruzada, impulsiona assim um movimento que se estenderia por mais de quatro séculos em diversos episódios que se desenrolam principalmente nas regiões próximas da Palestina e Oriente Médio, mas também em outros lugares, como na Península Ibérica, em referencia à qual o papa, pouco tempo depois, compararia a Reconquista à Cruzada. A razão imediata do papa ter proclamado a cruzada, vem do imperador bizantino, o qual pede ao Papa Urbano que o ajude a reunir um exército para contrariar os movimentos Selgúcidas que o ameaçam, pensando que obteria uma força de “elite” que ficaria sob o seu comando, mas “Em vez disso conseguiu vastos exércitos cujos comandantes cumpriam as suas próprias agendas de conquistas “ (NICHOLAS, 1999 p292), o que não terá sido favorável aos seus objetivos.

Um dos aspetos que é usado como justificação para esta guerra, seria o conceito de “guerra justa”, que, tal como referido no texto de Nicholas, teria sido postulado por Santo Agostinho e posteriormente revisto por São Tomás de Aquino ainda no tempo em que decorriam as Cruzadas. Este é o conceito teórico de que algumas guerras são justificadas para contrariar um “mal”, sendo que a “justa causa” era avaliada contra três critérios: a guerra tinha que ser ordenada e conduzida por uma autoridade legítima (o Papa, neste caso), ter uma justa causa e as intenções serem as de direito.

David Nicholas ainda, ao referir no texto que “As Cruzadas não eram, unicamente um movimento de entusiasmo religioso alimentado pelo simples desejo de libertar os santuários da fé cristã dos odiados infiéis” aponta para vários aspetos importantes do que passou a estar subjacente à ideia de Cruzada depois deste acto de Urbano II, um dos quais é que se passou a definir este movimento como “uma operação militar que se atribui um objectivo religioso” (BALLARD et al, 1994, p.231). Deve notar-se que a palavra “Cruzada” ainda não é usada a esta época, pois só é definida mais tarde, em 1250, para designar a expedição dos soldados a que até aí, de forma algo vaga, teria sido referida por “viajem de Jerusalém” o que é também uma referencia às peregrinações a Jerusalém - cidade que era santa tanto para cristãos como judeus e muçulmanos - as quais eram, ainda segundo o mesmo autor do texto, especialmente populares entre nobres “que eram conhecidos pelos seus temperamentos violentos” (NICHOLAS, 1999 p.291)

A Primeira Cruzada acontece logo em 1096, instigada pelas palavras do Papa que terão também influenciado a simultânea perseguição dos judeus na Europa. Em poucos anos os soldados do ocidente levam a gurra até a terra santa e, em Julho de 1099, Jerusalem cai nas mãos dos Cruzados e Balduino de Bolonha é eleito o primeiro rei Latino da cidade. A ultima leva de soldados da Primeira Cruzada é derrotada pelas tropas seljúcidas em 1101, na Asia Menor. Seguem-se muitos episódios importantes do que se pode designar, de uma forma algo generalizante, por Cruzada de Espanha, em que Saragoça cai para os cruzados em 19 de Dezembro de 1118, Afonso I de Aragão ataca a Andaluzia, para além de haverem vários episódios no oriente, também. A Segunda Cruzada é proclamada em 1145 pelo para Eugénio III, na bula Quantum praedecessores e São Bernardo de Clairevaux prega a cruzada em 1146 e 47. (SMITH, 1999, “Chronology”,)

A Segunda Cruzada tem então lugar a partir de 1147, sendo que em 13 de Abril de 1147 o Papa Eugénio autoriza que a cruzada seja levada à Espanha e também para lá das fronteiras nordeste da Alemanha, em adição ao Oriente e, logo em outubro do mesmo ano, Lisboa é capturada. Várias ordens religiosas são fundadas nesta altura, também, destacando-se a Ordem de Calatrava e a de Santiago, entre outras. É nesta época que se consagra a nova Igreja do Santo Sepúlcro. Muitos acontecimentos se registam no tempo desta Segunda Cruzada, mas é importante destacar a tomada de Damasco por Saladim em 1174 tendo finalmente tomado Jerusalém em 1187, a 2 de Outubro. Logo em 29 de outubro desse mesmo ano, o Papa Gregorio VIII proclama a Terceira Cruzada a qual tem lugar até 1192 culminando no tratado de Jafa. (IDEM)

Durante todo este tempo, a Cruzada em Espanha continua, ao mesmo tempo que o movimento se desenrola em varias àreas e frentes do norte da Europa e no oriente. Em 1198, a Quarta Cruzada é proclamada em Agosto, na altura que a Ordem dos Cavaleiros Teutónicos é criada. Esta Quarta Cruzada desenrola-se de 1202 a 1204 e vê-se a tomada de Zara, o saque de Constantinopola e a declaração de Balduino da Flandres como o primeiro Imperador Latino dessa cidade. Durante este tempo e até mais tarde, a cruzada em