As filosofias da História
Por: Bruna Krauspenhar • 9/7/2017 • Trabalho acadêmico • 3.405 Palavras (14 Páginas) • 228 Visualizações
As Filosofias da História
Conforme Reis (2011), desde quando a História assumiu um caráter científico e as escolas recusaram as filosofias da história pelo seu caráter metafísico e especulativo, essas não são completamente abandonadas pela História, que possui de algum modo pressupostos filosóficos. Neste ensaio serão tratados filósofos da história importantes no decorrer da história do pensamento.
Para percorrer a origem e o desenvolvimento da história do pensamento concernente às filosofias da história e à teoria da história na modernidade, deve-se obrigatoriamente estudar a obra de Giambattista Vico (ASSMANN, 1985, p.63). Este foi um filósofo Italiano, nascido em Nápoles em 1668. Seu percurso intelectual perpassa por dois padres jesuítas como mestres. Depois passou nove anos como preceptor do filho de um nobre em Vatolla, período em que se dedicou à estudar as obras de Platão. Em 1699 volta à sua cidade natal e passa a ocupar o cargo de professor de retórica na Universidade de Nápoles. Após ter sua candidatura a professor catedrático de Direito Civil recusada, Vico passa a dedicar-se ao que viria a ser sua principal obra, a Ciência Nova e publica sua primeira versão em 1725. Ela foi revisada em 1730 e 1744, havendo três versões diferentes. Vico morre em janeiro de 1744, não usufruindo de reconhecimento da sua obra durante sua vida.
Desvia-se da originalidade do autor ao insistir em apresentar apenas sua teoria de história cíclica, que nos debates contemporâneos tem sido tão repudiada. Conforme Gardiner (1995), Vico propôs uma teoria cíclica da História, em que as nações passam por fases de desenvolvimento, embora segundo Lenzi e Vicentini (2002), seja mais apropriado propor que sua concepção de história seria espiral, sendo que as nações possuem um curso e um recurso. Em cada era regressa é possível que fundamentos sejam retirados ou acrescentados às características gerais.
A base da filosofia de Vico é a oposição ao método de Descartes, em voga na época, de aplicar o conhecimento matemático às outras áreas do conhecimento humano. Para Vico as diferentes áreas do conhecimento exigem métodos diferentes entre si, logo a matemática não poderia ser válida para todas as ciências. A história dos homens não poderia ser conhecida através da matemática, então a teoria de Vico, em sua obra a Ciência Nova, propõe métodos para essa área do conhecimento.
Sua teoria do conhecimento defende que os homens só compreenderiam o que eles haviam feito ou o que fazem, portanto para conhecer a natureza de qualquer coisa era preciso tê-la feito. A história humana foi feita pelos homens, então o homem pode conhece-la, em contraposição aos fenômenos naturais, que foram criados por Deus e apenas ele pode compreendê-los totalmente. É importante notar que Vico procura fazer uma distinção entre a história e das ciências naturais, apresentando ao longo de sua obra as especificidades da história, assim a diferenciando-a das outras áreas do conhecimento.
Para Vico, a história contém os modos pelos quais os homens interagiram na época em que viveram, essas formas de expressão caracterizam a natureza humana. Mesmo acreditando que o homem pode conhecer a história por tê-la feito, o espírito humano sofre modificações na história, logo a mentalidade dos homens objetos de estudo não seriam a mesma que a contemporânea. A natureza humana se revela nas várias formas de expressão dos homens em épocas diferentes que podem ser compreendidas pela história. Não se pode compreender a natureza humana criando métodos a partir da mentalidade atual, pois os homens do passado, objeto de estudo, foram diferentes dos homens do presente.
Segundo o filosofo napolitano, os princípios universais e eternos da história das nações, são fenômenos que ocorrem em todas elas, que para ele são a religião, o sepultamento dos mortos e o matrimônio e em todas essas atividades são desenvolvidas cerimônias solenes.
Os filósofos, conforme Vico, ao analisar a poesia ou as instituições públicas em sua origem, por exemplo, tendiam a criar verdades eternas, como se os humanos sempre atribuíram a elas o mesmo caráter contemporâneo, como observar a poesia como sempre de caráter “puramente ornamental na vida dos povos”. Os filólogos (considerados por ele quem estuda a língua e as ações dos povos, como os historiadores, gramáticos, críticos), deveriam interpretar as histórias dessas instituições, pois cabia a eles recriar “imaginativamente o carácter das épocas em que surgiram”. A partir dos estudos dos materiais, dever-se-ia compreender racionalmente os feitos humanos e neste momento que a filosofia entraria.
Através dos esforços imaginativos para recriar a época do objeto de estudo (filólogos) e do conhecimento crítico (filósofos) pode-se interpretar as fontes históricas, recuperando a forma de pensar da sociedade que as produziu e assim buscando os feitos humanos. O material para essa interpretação estaria na linguagem, “a qual conserva em seu seio os mitos, as fábulas, as tradições e expressões do espírito humano” (VICO, 1979). Nota-se que Vico buscava uma união entre a filologia e a filosofia como característica da Ciência Nova.
Em sua teoria da história cada nação passa por fases com características especificas, que devem ser analisadas nas interpretações dos documentos. O homem percorre três fases identificados dos Vico: o período divino, heroico e humano em sua evolução. Na fase divina os homens sentiam medo da natureza e assim, a tornaram divina e tudo existia em função dos deuses, a justiça, os homens, os governos. Na era dos heróis, a característica era a força e os costumes da sociedade se baseavam no heroísmo e força, por vezes freados pela religião. O período dos homens se caracteriza pela razão, pelo reconhecimento da igualdade dos homens quanto à natureza humana.
Todas as nações estariam sujeitas a essas fases, mesmos em conhecer umas às outras. É através dessa teoria que Vico explicaria que mesmo com a Europa vivendo na época dos homens haviam nações na era dos deuses. Esse pensamento é importante pois Vico foi o primeiro europeu que se tem notícia a detectar a historicidade dos povos americanos. Ele refere-se à nação encontrada por Colombo para confirmar sua teoria, de que as nações passam por fases, estando os americanos na fase dos deuses, pois vivem em famílias, como viveram as nações romanas e egípcias na história.
Esse pensamento diferencia dos de sua época que retratavam o povo da América como inocentes que precisariam dos europeus para atingir a Verdade. Para Vico, eles passariam, mesmo desconhecendo os europeus, pelos ciclos da história das nações. Percebe-se em sua história que o sujeito não é a humanidade ou um indivíduo, mas cada uma das nações, assim cada nação segue no seu próprio tempo.
Vico faz uso da ideia de providencia divina, entendendo que haveria um sentido determinado que se manifesta na história humana. A providência divina se relaciona com a história humana, garantindo que os acontecimentos ocorram da forma que devem ocorrer ordenadamente, sendo que esse fenômeno não se manifesta nos interesses particulares dos indivíduos.
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