História E Documento História Africana
Por: MottMott • 11/10/2024 • Trabalho acadêmico • 2.101 Palavras (9 Páginas) • 23 Visualizações
HISTÓRIA E DOCUMENTO
HISTÓRIA AFRICANA
CARL MOTT
1ª ETAPA
FICHA DE LEITURA
Título do Texto: De Fidalgo à Agudá: A Saga da Família De Medeiros do Benim
Autor: Milton Guran; Fonte: Locus, Revista de História, v.18, n.02, p.59-86; Ano: 2013
Resumo: Trata-se da identidade social dos descendentes de traficantes brasileiros estabelecidos na costa ocidental da África e de africanos escravizados no Brasil para lá retornados – os dois grupos mais conhecidos pela alcunha “agudá” ou “brasileiros” no Benim, Togo e Nigéria. Um exemplo é a família De Medeiros, fundada em meados do século XIX pelo fidalgo português Francisco José de Medeiros em seu casamento com a filha africana do negreiro brasileiro Francisco Félix de Souza.
Palavras-chave: Agudá. Brasileiro. Escravidão. Benim.
A Costa dos Escravos e os agudás
No período colonial europeu, ao longo dos séculos XVIII e XIX, a Costa dos Escravos era o nome da região costeira do atual Benim, bem como do Togo e Nigéria, na África Ocidental. A chegada dos portugueses é mencionada nas primeiras linhas do texto, com menção ao manuscrito “Cozinha Portuguesa no Daomé”, de autoria do bisneto de Francisco José de Medeiros, fundador da família De Medeiros, do Benim, personagem do título e o tema principal do texto. A família De Medeiros é das mais aristocráticas dentre os agudás, como são chamados tanto os descendentes de traficantes de escravos brasileiros e portugueses, que se instalaram na região, como os oriundos dos africanos escravizados no Brasil, que para lá retornaram. Enfim, fenômeno social raro, que é também único caso conhecido de um grupo social de matriz cultural brasileira longe de nossas fronteiras. A origem da palavra agudá é controversa, mas o mais provável é o de ser a variação da palavra “ajuda”, como os portugueses chamavam a localidade de Uidá, no Benim, entreposto de escravos, cuja base era o Forte de São João Batista da Ajuda. A família De Medeiros tem sua origem no casamento de um fidalgo português, cujo pai consta foi um dos governadores da Ilha da Madeira, com a filha caçula de uma das figuras icônicas da história do tráfico negreiro mundial, o brasileiro Francisco Félix de Souza, o Chachá de Benim.
Francisco Félix de Souza, uma história de poder
Baiano de Salvador, Francisco Félix de Souza, que foi para Benim trabalhar no forte português em Uidá, associou-se ao príncipe do Daomé para destituir o irmão e Rei do trono. Com a queda, o agora novo Rei do Daomé, concedeu ao brasileiro, em troca pelo sucesso da empreitada, o título de Vice-rei ou Chachá, como era chamado. Recebeu também o monopólio do comércio exterior, se transformando assim em um dos mais poderosos traficantes de escravos da época. A conquistada fidalguia foi então repassada à sua descendência, sendo hereditário o título de Vice-rei; no momento ocupado pelo Chachá VIII, hoje sem poder político, mas de destaque na sociedade beninense atual.
A identidade agudá
O uso da língua portuguesa foi um dos mais importantes elementos de unidade dos agudás, e que subsistiu, de certa forma, até mesmo à implantação hegemônica brutal de um novo sistema colonial, o francês, no final do século XIX. O português foi o principal código do comércio, das transações econômicas, interação local, com o qual os de origem branca brasileiros, portugueses se misturavam em curiosa identidade com os negros libertos do Brasil, retornados para a costa ocidental da África. Estes formavam uma valiosa mão de obra especializada no período em que seus atributos eram os mais requisitados (pedreiros, marceneiros, carpinteiros, alfaiates etc). Apesar de designados pelos demais africanos como “aqueles que tem maneiras de branco”, serão eles que formarão uma nova e duradoura comunidade local, diferenciada, especial, de hábitos ocidentais, inclusive vestimenta, mais próximos ao do europeu, que até hoje se manifesta, por exemplo, na culinária (é marcante a difusão da cultura da mandioca e do milho pelos agudás), arquitetura, e até mesmo na religião e nas festas populares da região.
De Medeiros, a saga de uma família agudá
O fundador da família, Francisco José de Medeiros foi capitão e proprietário de navio, que realizava regularmente a rota entre Europa e África, onde se instalou em meados do século XIX. Enquanto exerceu atividades como de tráfico de escravos e comércio de óleo de palma, casou-se sempre com mulheres de famílias influentes da localidade. Entre elas, a princesa Charlotte, de Aguê, a futura Sr. Costa Soares, outra família agudá importante, e, após desembarcar em Uidá, com Francisca, a filha do Chachá de Benim. Francisco José se tornaria, bem como sua família, num dos personagens mais influentes da comunidade “brasileira” de Uidá. A família De Medeiros representará ao longo de sua história a dimensão plural de uma família agudá, numa espécie de elite local, onde os costumes, de sobremaneira ocidentais, e as realizações individuais são vias que levam a uma ponte que interliga Europa, África e Brasil. Uma história da construção de uma cultura própria, hábitos característicos, enfim, uma comunidade de aspecto singular que se mistura com as tradições, a trajetória política e a rica evolução histórica do continente africano.
HISTÓRIA AFRICANA
CARL MOTT
2ª ETAPA
FICHA DE ANÁLISE
Título do Filme: Falares Luso-brasileiros no Benim e no Togo
Tempo de Duração: 18 minutos e 13 segundos
Direção: Mílton Guran
Tema: Os agudás. São aqueles conhecidos como “brasileiros” do Benim, descendentes de escravos libertos no Brasil e traficantes portugueses que retornaram para a África (especificamente para a costa do Benim).
Montagem: Eduardo Cantarino, Rayssa Ramos
Tempos da narrativa fílmica: O processo de unir diversas partes, os tempos, em um todo é o que caracteriza a ação de montagem, que é fator fundamental para o entendimento de uma narrativa. Mas é polêmico o debate que diz ser incipiente a narrativa fílmica do documentário por não estar, na grande maioria das vezes, no campo ficcional. Porém, destaca-se a presença da locução (a voz over) que percorre todo o documentário, filmado “em mão”, utilização de imagens de arquivo, a intensidade particular da dimensão das tomadas de rua e de festas. Procedimentos como a câmera na mão, a improvisação, utilização de roteiros próprio para abordagem e explicação do tema, a ênfase na indeterminação das tomadas, a espontaneidade, compõe entrecortes da presente narrativa fílmica.
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