Minicurso História do Ceará
Por: Luiza Rios • 16/2/2019 • Trabalho acadêmico • 1.049 Palavras (5 Páginas) • 192 Visualizações
HISTÓRIA DO CEARÁ E A MÚSICA EM SALA DE AULA (1888-1955).
Professora
Ana Luiza Rios Martins
Justificativa
Fomentar um debate sobre as potencialidades do estudo de História e Música como ferramenta didática no ensino. A relação entre essas duas disciplinas surgiu na chamada Nouvelle Histoire, um movimento de historiadores franceses que muitos historiógrafos consideram como constituído por uma terceira geração da célebre Escola dos Annales. No Brasil as pesquisas sobre História e Música conquistaram um espaço importante na academia a partir dos trabalhos de Marcos Napolitano e José Geraldo Vinci de Moraes. Para esses autores a música representa uma dimensão cultural importante que pode contribuir no sentido de elucidar aspectos das relações sociais que permanecem ocultas em outras fontes.
Em meio aos avanços vivenciados na pesquisa histórica, verifiquei a possibilidade de trabalhar com a História do Ceará a partir da música que foi produzida pelos nossos artistas no fim do século XIX até meados do século XX. Esse primeiro recorte foi realizado na dissertação “Entre o piano e o violão: a modinha e os dilemas da cultura popular em Fortaleza (1888-1920)”, que posteriormente foi publicada pela Editora Alameda através do Edital de Incentivo às Artes da SECULT. Já o segundo é fruto da tese em andamento para o doutorado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco.
A História do Ceará se revela através da produção, circulação e recepção de uma música que nos conecta a análise crítica de uma realidade social construída por agentes culturais (jornalistas, cronistas, radialistas) que disputavam pela hegemonia de suas narrativas. Na virada do século XIX para o XX ocorreram planos de modernização em Fortaleza que incluíram a “remodelação” do espaço urbano, ou seja, a “disciplinarização” do crescimento da cidade. Com o intuito de evitar a expansão desordenada, o engenheiro Adolfo Herbster preservou o traçado xadrez de Silva Paulet, vislumbrando a possibilidade de ocupação das áreas periféricas, fato que não custou a se tornar realidade, enquanto as novas elites econômicas e intelectuais, compostas por comerciantes ligados ao comércio interno e externo, de profissionais liberais como médicos e advogados, em sua maioria bacharéis formados no exterior ou na conceituada Faculdade de Medicina da Bahia, e a classe média de pequenos comerciantes, artistas, poetas e os demais trabalhadores letrados, ocupavam e valorizavam as áreas centrais da cidade, as regiões mais afastadas e com menores condições de infraestrutura foram legadas aos pobres, negros e migrantes do interior do Estado.
Fortaleza também se transformava socialmente, com importantes obras urbanas, e culturalmente, com o surgimento da Padaria Espiritual (1892), do Instituto do Ceará (1887) e da Academia Cearense de Letras (1894). Esse sistema de ocupação dos espaços, inspirado nas reformas do Barão de Haussmann em Paris, contribuiu para que as diversões das camadas abastadas fossem isoladas em clubes e salões. Nesses ambientes as elites tentavam se distinguir socialmente se apropriando de bens culturais trazidos da Europa, como os pianos Essenfelder e Doner & Sohn, que eram encontrados em um número reduzido, e ritmos europeus como a valsa, a polca, o schottisch e a quadrilha. Já nos areais das zonas periféricas, a “arraia miúda” se divertia com suas manifestações tradicionais como os fandangos e maracatus. No entanto, essas festas eram, em grande parte, desmanchadas pelas autoridades policiais, com a justificativa que causavam muitos tumultos. Essa condição suburbana imposta a uma parcela da população cearense desfavorecida economicamente, de fato, contribuiu para o surgimento de uma cultura “à margem” do “afrancesamento” e do requinte aclamados pelas elites locais.
A pesquisa mostra como a modinha, gênero musical que nasce junto com o processo de urbanização de Fortaleza, criou uma ponte entre grupos socialmente distintos. Raimundo Ramos de Paula Filho fazia parte de um grupo de artistas que tirava elementos da rua no processo de elaboração de suas composições, o que era um contraponto ao modo mais formal do fazer musical de outros artífices, como Alberto Nepomuceno e Branca Rangel.
O centro também era um espaço de socialização por ser o ponto confluente dos trajetos urbanos. As interseções culturais foram intensas nesse ambiente em meio a tensões e conflitos,
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