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O CANGAÇO: UMA REVISÃO HISTORIOGRÁFICA

Por:   •  27/3/2017  •  Artigo  •  6.607 Palavras (27 Páginas)  •  391 Visualizações

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O CANGAÇO: UMA REVISÃO HISTORIOGRÁFICA

Rodrigo Pereira[1]

RA: 913208356

Resumo

O Cangaço surgiu no final século XIX e percorreu parte do século XX, sua historiografia é relatada por muitos autores como um movimento de banditismo social de grande influência na vida dos sertanejos nordestinos. O movimento do cangaço surgiu ainda no período do coronelismo, onde os donos de grandes latifúndios ditavam as regras da maioria das cidades, principalmente do Nordeste, o que os tornava influentes e decisivos no que tangia a vida daquele que se dedicava ao cangaço. Dentro do conceito do fenômeno o cangaço, será possível analisar e procurar entender os estigmas e estereótipos empregados, como o banditismo, ao cangaço e as regiões do Nordeste. É importante que a pesquisa realizada possa extrair a representação cultural e social que existia no cangaço e a desmistificação do que é folclore ou realidade sobre a vida de Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião considerado por alguns um justiceiro e, por outros um bandido sanguinário. O que de fato pode-se afirmar é que Lampião foi o mais emblemático cangaceiro do Nordeste. Para possibilitar esta historiografia, será importante realiza-la de forma cronológica, através das obras dos principais autores e pesquisadores da cultura do cangaço e seus atores.

Palavras-chaves; Cangaço; Lampião; Nordeste; Banditismo.

Introdução

O objetivo deste trabalho é apresentar os diversos relatos sobre a historiografia do que representou o cangaço como movimento social no Brasil. Apresentar a cultura empregada na vida dos sertanejos nordestinos, a fim de facilitar o entendimento e a análise sobre o período em que o cangaço se originou.

Se faz necessário também, um breve relato do período do coronelismo, existente no Brasil durante a segunda metade do século XIX e meados do XX. O coronelismo está diretamente ligado ao cangaço através do que se conhecia como jagunços. Antônio Carlos Oliveri em seu livro O Cangaço da Coleção Guerras e Revoluções Brasileiras e em artigo sobre o coronelismo publicado em 2007 no jornal A Folha de São Paulo, define o jagunço como o capanga do coronel, o homem de armas que executava suas ordens ou as fazia cumprir por meio da violência. Este autor traz a informação de que muitas vezes o cangaceiro atuava como jagunço dos coronéis.

A partir do exposto acima será possível elucidar alguns estigmas que acompanham o movimento do cangaço e do cangaceiro, muitas vezes definidos como bandidos e outras como justiceiros.

A definição do movimento do cangaço como banditismo social será apresentado a partir do estudo realizado por Eric J. Hobsbawm em seu livro Bandidos.  Através de um dos questionamentos de Hobsbawm; ”até onde o “mito” do banditismo esclarece quanto ao comportamento real do bandido? ”, será possível definir o banditismo e seus bandidos principalmente do âmbito social. É importante informar que o cangaço será apresentado como forma de banditismo também, pelo autor Carlos Alberto Dória em seu livro O Cangaço, onde relata o ocorrido no período específico, entre 1870 e 1940.

A historiografia do cangaço não seria completa se não citar o mais influente bando de cangaceiros liderado por Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião e denominado por muitos como “O rei do Cangaço”. Lampião foi o cangaceiro mais popular no Nordeste atuando com seu bando por quase vinte anos até sua morte em 1938.

Para apresentar os principais fatos sobre o tema, será realizada pesquisa através de diversos autores além dos citados acima, a fim de possibilitar a análise e a conclusão do que significou principalmente para a região do Nordeste Brasileiro o fenômeno do cangaço.

O banditismo social  

Para que seja possível estender o banditismo ao cangaço e seus principais atores, será necessário a compreensão do banditismo de forma mais profunda e para isso o autor Eric J. Hobsbawn em 1969 fez uma valiosa contribuição para a historiografia do cangaço e do que é e representa o banditismo para a sociedade através do seu livro Bandidos.

As afirmações de Hobsbawm, abriu discussões em volta do banditismo social que figura essa mista de marginal e justiceiro que marcou o imaginário popular de parte do povo brasileiro em especial o nordestino. Por tanto Hobsbawm (1976, p.10) inicia a definição de banditismo da seguinte forma:

Para a lei, quem quer que pertença a um grupo de homens que atacam e roubam com violência é um bandido, desde aqueles que se apoderam de dinheiro destinado a pagamentos de empregados, numa esquina da cidade até rebeldes ou guerrilheiros organizados que não sejam oficialmente como tal.

Com a preocupação de construir e analisar os rebeldes primitivos e os bandidos incomuns, enquanto bandidos sociais, Hobsbawm (1976, p.19) aponta nove características que os definiriam:

iniciam suas carreiras de marginalidade; não pelo crime, mas como vítimas de injustiça; corrigem os erros; tiram dos ricos e dão aos pobres; nunca matam, a não ser em legítima defesa ou vingança justa;  se sobrevivem, retornam a sua gente como cidadãos honrados; eles são admirados, ajudados e mantidos pelos seus povos; “morrem invariavelmente, apenas por traição; são invisíveis e invulneráveis e, por último, não são inimigos do rei ou imperador, fontes da Justiça, mas apenas da nobreza local, do clero, e de outros opressores.

Portanto, para Hobsbawm não é possível que o banditismo social seja definido de forma simples e leviana principalmente pelos estudiosos como sociólogos entre outros. O autor ainda deixa claro que o banditismo não é de forma alguma exclusividade do Brasil, pois, já existia em diversos lugares, como Europa, Ásia Meridional e Oriental, mundo Islâmico e América.

Hobsbawm (1976), diz ainda que o banditismo ocorre em todos os tipos de sociedade, principalmente nas fases de transição como nas evoluções de tribos e clãs, nas sociedades modernas capitalistas e industriais, nas desintegrações consanguíneas e no capitalismo agrário.

Os bandidos sociais surgiram conforme Hobsbawm (1976), como defensores de valores combatendo assim a injustiça causada pela crescente desigualdade social, sendo identificados pela população como ladrões nobres ou justiceiros. Contudo, existem muitas razões pelas quais os bandidos se tornam revolucionários, a mais significantes é a de desejarem uma vida mais justa e igualitária, sem a exploração existente principalmente nas regiões do interior dos estados.

Hobsbawm salienta ainda que, o que torna o banditismo social significativo é a relação entre o camponês comum e o rebelde, e sobretudo as considerações feitas tanto por parte da população que os tem como vingadores e justiceiros como pelo Governo que os tem como criminosos. O autor diz que seria impossível imaginar que um bandido social roubasse a colheita de um camponês e não a do fazendeiro, pois, aqueles que o fizessem não seria considerado um bandido social por não ter sua característica principal, roubar dos ricos para dar aos pobres.

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