O conceito de vocação em Lutero. O objeto da pesquisa.

Max Weber trata o capitalismo como conceito histórico não delimitado, esse que recebe

sua significação cultural conforme suas conexões com as realidades históricas. Descreve então,

uma ética peculiar do capitalismo que desenvolveu-se na Europa Ocidental e na América do

Norte no século XIV, precedente à Reforma Protestante e à figura de Lutero. Ética essa, que

desdobra-se a partir da conduta de vida racional pautada no tradicionalismo e da concepção de

trabalho intramundano dos grupos de pessoas que emergem para essa sociedade, adaptados e

relacionados com a forma capitalista de economia e impactados pelos movimentos religiosos.

Weber atenta para o fato de que a preponderância do interesse pelo ganho pecuniário sem

escrúpulos, ou seja, a exploração, não representam a conduta ética assumida nos países com alto

grau de desenvolvimento do capitalismo burguês, que ao invés disso, a ânsia por acúmulo de

capital esteve em grande medida associada aos laços tradicionais. Esse tradicionalismo

apresenta-se em espécie de sensibilidade e comportamento adotados para um estilo de vida

pautado na ética. Honestidade, pontualidade, presteza e frugalidade, que trazem crédito e

credibilidade são algumas das características das virtudes abordadas por essa ética.

A condição de sobrevivência do capitalismo, moderno principalmente, cria e educa para

si, através de seleções econômicas, empresários e operários. Educa através da ética que anima os

espíritos dos empresários a agir conforme a cadência da vida tradicional, conforme o montante de

lucros tradicional e de acordo com o modo tradicional de se conduzir os negócios. O capitalismo

moderno já não necessita mais do aval de qualquer força religiosa. Entretanto, no período anterior

à Lutero, com o calvinismo, os efeitos culturais sobre a noção do trabalho intramundano a partir

dos fatores religiosos em interação com a economia capitalista, em forma de crítica sobre a Igreja

Católica, passam a suprimir o afã pelas ações monásticas e a valorizar o trabalho intramundano

como um fim em si mesmo, como vocação. Habita dentro desse conceito de vocação as formas

concretas de pensamento e vida racionais, onde reside a dedicação de si ao trabalho profissional,

esse último, que caracteriza o principal elemento irracional, que segundo Weber, nem mesmo

altos ou baixos salários podem configurar. Dessa maneira, como o puritanismo, corrente radical

protestante, a profissão intramundana é tomada como missão