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Os Ensaios de História Oral

Por:   •  9/4/2021  •  Resenha  •  462 Palavras (2 Páginas)  •  226 Visualizações

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Texto: PORTELLI, Alessandro. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e Voz, 2010. 258p.

Antes de mais nada, é importante destacar que a história oral tem ganhado força nos meios acadêmicos devido ao seu papel de instrumento de luta política, capaz de revelar sujeitos e discursos geralmente marginalizados ou excluídos nas análises históricas da história tida até então como oficial. Nesse sentido, Portelli vem nos mostrar que a história oral tem cada vez mais se constituído como uma boa ferramenta metodológica para o entendimento das problemáticas dos sujeitos, culturas, identidades e das memórias. E assim, por meio dessas novas alternativas em debate, considerando os discursos individuais e também compartilhados como mecanismos importantes no processo de formação das identidades, Portelli nos oferece análises sobre as implicações metodológicas e políticas do conhecimento que produzimos.

A relevância da obra de Alessandro Portelli se dá justamente porque ele procura discutir nestes ensaios, apresentados separadamente, as formas de se empregar o discurso oral como caminho para a pesquisa e para a análise histórica. A proposta do autor parece ser a de desenvolver um olhar crítico em relação às entrevistas, destituindo discursos e apresentando novas formas interpretativas.

Para citar um exemplo desta construção da identidade coletiva, o autor escreve o ensaio (4) “Éramos pobres, mas… Narrar a pobreza na cultura apalachiana”, onde buscou refletir sobre os discursos de moradores das montanhas apalachianas do Tennessee. Neste ensaio, uma questão desperta a atenção do autor e também a nossa: Quais eram, na visão e nos relatos dos próprios moradores, o misto de sentimentos desses indivíduos diante da situação em que estavam submetidos, sobretudo de pobreza?

O autor parece chegar à conclusão de que essa situação provocava ao mesmo tempo um misto de raiva/vergonha, ou mesmo de autonomia/orgulho.  O motor das relações, nesse exemplo, parece ser a própria pobreza, sendo vista pelos moradores como um meio para a sobrevivência. Essas considerações se devem ao fato de que tal comunidade pareceu estar relativamente nivelada pela subsistência e autonomia provocadas por uma economia não monetária. Ao mesmo tempo, individualmente, ou seja, fora desse convívio supostamente padronizado, os moradores se sentiam ultrajados e excluídos quando submetidos, por exemplo, a uma economia monetária da qual não possuíam meios para fazer parte. Através dos relados ouvidos, o autor conseguiu compreender as razões pelos quais, para essas pessoas, e dentro dessa comunidade e dessa realidade social, as relações de afeição eram mais consideradas do que as relações financeiras.

Nesse sentido, um ponto importante que devemos debater é que na relação entre as dinâmicas privadas e públicas, as quais os sujeitos estão inseridos pelos deslocamentos das relações sociais vivenciadas, dentro de um modo de produção historicamente forjado, a história oral deve tratar apenas do evento ou precisa considerar o lugar e o significado do evento dentro da vida desses narradores?

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