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A Irmandade que representava os negros em Desterro/Florianópolis

Por:   •  26/4/2017  •  Artigo  •  2.379 Palavras (10 Páginas)  •  248 Visualizações

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A Irmandade que representava os negros em Desterro/Florianópolis

                                                                                               Gilmara de Oliveira Vieira

                                                               Universidade Federal de Santa Catarina

                     

Resumo: Este artigo tem a finalidade de apresentar a expressividade da população de origem africana em Desterro, na construção de uma igreja onde se instituiu a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, desde a sua fundação, sua estrutura de funcionamento, o perfil dos irmãos, as procissões, as festas, e a celebração da morte.

Palavras- chave: Irmandade; africanos; festas, Desterro

Introdução

A invisibilidade conferida ás populações de origem africana em Santa Catarina na historiografia, tratou de construir uma imagem onde um pedacinho da Europa se formou no sul do Brasil e fez com que, a história, e as vivências dos negros no estado se tornassem insignificantes, negando suas diversas origens e formas de experiências. Nesse contexto, a historiografia nova discorre sobre a relação dos escravos e sua importância na economia de Santa Catarina em relação a historiografia tradicional segundo a historiadora Beatriz Gallotti Mamigonian de que:

Para estes autores, a ocupação efetiva da Ilha de Santa Catarina

e do litoral adjacente em meados do século XVIII, por política

expressa da Coroa Portuguesa, que implicou na fortificação

da Ilha e avinda de casais açorianos como colonos, teria  se

resumido a interesses militares estratégicos. Partindo deste

distinto “sentido da colonização” estes autores mostraram

escravidão na Ilha e no litoral adjacente sempre como menos

importante do que aquela das regiões agroexportadoras.

Não tendo este território sido explorado para produção voltada

à exportação, os “poucos” escravos teriam servido como apoio

na produção de alimentos para o abastecimento , e sido elementos

de distinção social, predominantemente doméstico e urbano (África-

nos em Santa Catarina: Escravidão e identidade Étnica, 2006, pag. 615).

           Com base nesse contexto os historiadores Paulino Cardoso e Claudia Mortari, através de pesquisas com fontes documentais do acervo da AINSRSB (Arquivo da Igreja Nossa Senhora do Rosário e Benedito dos Homens Pretos). Apresentam a Desterro que caminhava para uma sociedade repleta de mudanças no seu cotidiano e nas formas de sociabilizar. Uma época de ordens, irmandades, condições e classificações que buscavam colocar cada indivíduo no seu lugar. E como compreender como esses indivíduos se encaixavam, e como esse trabalho pôde contribuir para a percepção pela qual esses indivíduos pudessem se identificar na sociedade.

        Com as transformações ocorridas em Desterro no século XIX, decorrente do processo de modernização das capitais brasileiras, e com o surgimento de uma nova elite, ao longo de todo esse processo, as populações de origem africanas desenvolviam diferentes atividades ao redor dos espaços públicos e das casas privadas em Desterro. Criavam várias possibilidades de sobrevivência na luta cotidiana por autonomia, onde as relações de solidariedade e de sociabilidade eram estabelecidas. Esses grupos sociais de africanos e afrodescendentes, tinham na rua um espaço no qual exerciam um conjunto de atividades, as Irmandades religiosas eram formadas por esses grupos, que devido a sua expressividade em números das populações de origem africanas que se refletiu na construção da sua própria igreja: a de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos.

        Em Desterro existiam 11 Irmandades, que se constituíam como associações corporativas, nas quais se teciam laços de solidariedade, muitas dessas Irmandades eram fundadas nas hierarquias sociais, e gerava um canal de ascensão para os membros. Havia as Irmandades dos poderosos, sendo esses membros da elite branca, e as Irmandades dos homens de cor, sendo esses mais numerosos e divididos em crioulos, mulatos e africanos, ou ainda, aqueles que reuniam indivíduos de uma mesma profissão.

        No Brasil, a constituição das Irmandades se formou com base no modelo de organização das Santas Casas de Portugal, nas quais estabeleciam que os irmãos fossem homens de condição e brancos. O compromisso das Irmandades era de dar de comer e beber aos necessitados, visitar doentes e presos, dar abrigo aos viajantes, resgatar os cativos e até enterrar os mortos. Sua principal razão de ser era o culto católico e a devoção a Nossa Senhora do Rosário, sendo que, o que vai distingui-la das outras irmandades católicas é o uso dado a este espaço pelos africanos e afrodescendentes que, utilizaram outros instrumentos para estabelecer relações entre a Irmandade e a cidade de Desterro.

Fundação, construção e arrecadação da Irmandade

No ano de 1745, devotos de Nossa Senhora do Rosário dos Pardos e Pretos da Freguesia de Nossa Senhora do Desterro da Ilha de Santa Catarina, manifestam a sua vontade de criar uma irmandade em honra a Senhora do Rosário. Sendo assim, pode-se supor que a Irmandade já funcionava muito antes da confirmação de seu primeiro compromisso em 1750, pois era comum as pessoas se reunirem nas casas para rezar para seu santos de devoção até que conseguissem uma capela que os aceitassem, e somente mais tarde iniciavam um processo de legalização.          Elaboraram e apresentaram um compromisso para que pudesse ser aprovado pelas autoridades eclesiásticas de Desterro. Para que a irmandade pudesse ser oficializada, era necessários a aprovação do compromisso, as normas de funcionamento, seus objetivos, os direitos e deveres de cada membro, e os papeis estipulados para os padres e demais indivíduos.

A construção da igreja foi possível devido à dedicação de muitos cativos que planejaram e executavam as obras da capela nos dias permitidos por seus senhores e senhoras, como sendo católicos, permitiam estas realizações por parte dos seus cativos como forma de “agradar” aos olhos da própria igreja.

A capela estava erguida nos anos de 1750, mas sem os aparatos almejados pelos membros da irmandade. Está é uma inquietação  de seus membros que, desejavam a construção de uma igreja que pudesse abriga-los em melhores condições, pois sempre havia algo para ser melhorado ou modificado. O cuidado que os membros tinham com a igreja fazia com que os gastos da irmandade girassem em torno dos reparos da capela. Os aluguéis, os anuais, os valores recebidos em testamentos, esmolas e os rituais funerários, as formas de arrecadação utilizadas para esses fins principalmente.

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