As Festas dos Negros no Desterro
Por: TANIAPEREIRA1964 • 25/4/2019 • Trabalho acadêmico • 1.534 Palavras (7 Páginas) • 278 Visualizações
As Festas dos negros no Desterro
Vamos falar um pouco sobre escravidão, mas não sobre a imagem que temos deste período, de negros trabalhando nas lavouras, fazendo trabalhos domésticos nas casas de seus senhores, ou dos castigos sofridos e do permanente cativeiro em que viviam. Vamos falar sobre um dos poucos momentos em que os escravos conseguiam sentir-se livres, o tempo em que podiam festejar, dançar e sentirem-se parte de uma sociedade que os rejeitava. Sim, vamos falar sobre festas, ou vocês acham que os escravos não festejavam?
Ao falar em escravidão e no período do Brasil colonial pensamos no centro do país, mas a escravidão esteve presente em todas as regiões, inclusive no “Desterro” aqui em Santa Catarina. Você sabia que Florianópolis um dia se chamou “Desterro”? Originalmente “Ilha de Santa Catarina”, isto porque seu fundador chegou por aqui no dia de Santa Catarina e continuou sendo chamada assim, até tornar-se uma vila com o nome de Nossa Senhora do Desterro. Por ocasião da Independência do Brasil a vila foi elevada a cidade passando a ser chamada de “Desterro” . Este nome desagradava a certos moradores e após a Revolução Federalista, em 1894, a cidade passa então a Florianópolis, em homenagem ao então presidente da República Floriano Peixoto. Mas vamos voltar ao nosso tema, as festas na época da escravidão.
Existiam em meados dos séculos XVI e XVII, grupos chamados “irmandades dos homens pretos”, que eram formadas por escravos e libertos, fossem africanos ou nascidos no Brasil durante o período da escravidão. Essas irmandades tinham como objetivo proteger a religiosidade do povo negro, que na época eram proibidos de frequentar as mesmas igrejas dos seus senhores. Para os escravos era uma forma de sentirem-se inseridos na vida da cidade e serem de certa forma respeitados e resgatarem um pouco de sua dignidade. Como curiosidade, vocês sabem a diferença entre os pretos e os libertos naquela época? Ambos eram negros, mas os libertos de alguma forma conseguiram sua liberdade, tinham em sua mão o tão desejado papel chamado “carta de alforria”. Pensando no tempo de agora, o que você acha de uma pessoa ser dona de outra pessoa? Naquela época era assim que acontecia com os negros.
As irmandades eram associações que giravam em torno de santos de devoção, mas um traço marcante de nossos colonizadores era a devoção por Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia. No Desterro havia a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e o principal evento promovido por esta irmandade era a festa de coroação do rei e da rainha. Quem estivesse nestas posições ganhavam prestígio e liderança dentro da instituição. Claro que como num jogo de xadrez, o rei e a rainha perdiam sua importância assim que a festa terminasse e voltavam a ser escravos, mas durante aquele tempo podiam respirar ares de liberdade e um pouco de felicidade. Durante a coroação havia muito barulho pelas ruas da cidade, com muitas danças e representações, aonde os negros reforçavam sua cultura e tradição. Para os senhores dos escravos havia a tranquilidade de que, ao ter um santo como devoção, eles estariam de certa forma praticando o cristianismo o que trazia segurança ao domínio do império.
Esses festejos ocorreram desde meados do século XVII em todas as regiões do Brasil com presença africana e mão de obra escrava. Em alguns lugares do interior do Brasil ainda ocorrem, como as festas de Reis em Minas Gerais, mas com certeza hoje festas muito mais alegres por serem livres e com grande participação popular. Além das festas religiosas, também existiam os batuques, manifestações que envolviam danças, tambores e roupas típicas. E claro que no Desterro aonde também existiam escravos, as festas, danças e batuques estavam presentes na vida cotidiana e davam sentido a existência daquele povo. Existem poucos registros sobre essas manifestações, mas por sorte passaram por aqui alguns viajantes vindos de navio que deixaram por escrito e através de pinturas, a sua impressão sobre essas festas e a vida dos negros na vila do Desterro.
Um desses aventureiros foi o naturalista Wilhelm Gottlieb von Tilesius que estava a bordo do navio que trazia uma expedição russa e ancorou no porto em 23 de dezembro 1803, próximo ao Natal, muita sorte nossa não é? Que eles estiveram por aqui perto do Natal e puderam deixar registrado com alguns documentos mesmo que fragmentados com o tempo, como eram os festejos dos pretos e libertos que por aqui viveram. A imagem parece retratar o acontecimento nas imediações de onde estamos hoje.
Uma festa negra na Ilha de Santa Catarina (1803) W. G. von Tilesius[pic 1]
[pic 2]
Catedral Metropolotana
A imagem de nosso amigo russo Tilesius reapresenta uma festa realizada no largo da matriz de Nossa Senhora do Desterro. Na festa participavam africanos e seus descendentes. Notem que no cortejo tem um homem e uma mulher de mãos dadas, seguidos por alguns músicos e ao lado deles, um homem carrega um bastão e temos também um estandarte. Esses detalhes nos lembram algo? Talvez um casal de porta bandeiras, um rei momo e um estandarte representando aquela irmandade. Podemos dizer que já tínhamos ali uma espécie de carnaval ou seriam as nossas atuais festas religiosas como as procissões? O certo é que naquele momento havia música, dança e muita alegria, o que não era comum àquelas pessoas.
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