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A foto

Tese: A foto. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  5/12/2014  •  Tese  •  912 Palavras (4 Páginas)  •  227 Visualizações

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A foto correu o mundo via redes sociais. Três das pessoas mais importantes do mundo, no meio de um enterro de um dos maiores ícones do século XX, se juntaram, sacaram um celular potente, fizeram uma pose descontraída, falaram xis, e se autofotografaram. Ou, em inglês, fizeram um “selfie”. A história seria apenas exótica, caso os homens e a mulher em questão não fossem o presidente dos EUA, Barack Obama, a primeira-ministra da Dinamarca, Helle Thorning-Schmidt, e o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron – no velório do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela.

Muito já se criticou a postura dos três líderes mundiais, que teriam desrespeitado a memória do sul-africano. Outros fizeram questão de defender a descontração do trio, lembrando que a cerimônia fúnebre não era necessariamente triste, mas uma celebração da vida do homem que representou, pessoalmente, o fim do regime do Apartheid. Não importa quem tem a razão nesta discussão. A foto dos três juntos se tornou um dos principais fatos do ano. Ou o autorretrato de 2013.

Não que tenha tido a relevância política das manifestações que abalaram Turquia, Brasil e outros países do mundo. Nem que tenha estremecido as relações multilaterais, como os escândalos da espionagem patrocinada pelos EUA. Ou o impacto da mudança de um papa taciturno, para um que abraça as pessoas nas ruas naturalmente. Mas o “selfie”, esse hábito de registrar a própria imagem com o celular ou uma câmera digital e, em seguida, compartilhar em uma mídia da internet, mostra muito como nos comportamos, no âmbito privado – ou o que restou dele – neste ciclo que agora se encerra.

Esta não é uma conclusão deste texto ou deste que vos escreve, mas uma constatação geral. “Selfie”, o diminutivo carinhoso de “Self”, que por sua vez quer dizer algo como “a si mesmo”, foi escolhida a palavra do ano pelo tradicional dicionário Oxford. A frequência com que ela foi usada na internet subiu 17.000% neste ano, se comparado com o ano anterior. O dicionário ainda conseguiu traçar a primeira aparição da palavra com essa acepção: foi em um fórum de internet na Austrália em 2002. De lá para cá, a palavra, e o hábito de se autofotografar, explodiram. Mas o que isso representa?

Muita gente tentou pegar o caminho do narcisismo exacerbado na interpretação do fenômeno. Inclusive uma capa do tabloide New York Post, em que mostrava como uma turista, ao perceber que havia um fulano tentando pular da ponte do Brooklyn, sacou o celular e se enquadrou junto ao suicida em potencial para registrar o momento (em tempo: o rapaz não se jogou). O título da reportagem foi um trocadilho intraduzível: “Selfie-ish”, sendo que “selfish” é visto normalmente como “egoísta”.

É claro que vivemos um momento em que nos desacostumamos a sair do centro das atenções. Compartilhamos todos os nossos passos na tentativa de mostrar o quanto merecemos receber os olhares dos outros. Queremos ser as celebridades cotidianas da vida social que se estabelece ao nosso redor. O “selfie” representa bem esse período, claro, já que você vira o paparazzi de si mesmo. Mas há ainda uma outra forma de interpretar que talvez seja complementar a essa.

Desde que a fotografia foi inventada – ou mesmo antes, quando a ideia de “retrato” entrou na pintura – sempre houve quem gostasse de deixar registrado sua imagem para a posteridade.

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