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A multidão na história

Por:   •  17/11/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.319 Palavras (6 Páginas)  •  1.137 Visualizações

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RUDÉ, George: A multidão na história: estudo dos movimentos populares na França e na Inglaterra: 1730-1848. Rio de Janeiro: Zahar, pp 19-82.

O assunto e seus problemas

George Rudé lança luz sobre o tema multidão, que pode ter sido deixado de lado pelos historiadores ao longo do tempo. O autor define multidão, não como nação, clã, ou partido político, mas sim grupos “frente-a-frente”. O foco aqui, são as manifestações políticas, como motins, rebeliões, insurreições, greves e revoluções. Para o estudo foi delimitado o período de 1730 e 1840 nas histórias da França e da Inglaterra, anos de transformações que fizeram florescer uma nova sociedade “industrial. Nesta fase de transição, um aspecto relevante para os historiadores, segundo o autor são as greves, disputas trabalhistas, reuniões públicas de massas e manifestações direcionadas por organizações políticas. Muitos dos que participavam destes acontecimentos eram trabalhadores e assalariados, com exceção das comunidades camponesas distintas.

As greves nos séculos XVIII e XIX por diversas vezes foram muito parecidas com as do período mais recente. Até mesmo os motins raciais se assemelham aos motins religiosos de períodos anteriores. O autor nos convida a pensar sobre os estereótipos usados por alguns pesquisadores, que definiam como “ralé”, todos que participavam das agitações populares. George Rudé também faz o leitor refletir com relação a leitura de Burke, que abordava as “classes inferiores” como sendo uma “multidão grosseira”. Já Michelet descreve a multidão, como “povo”. O que estes autores fazem, segundo Rudé é tornar homens e mulheres desejosos por mudanças, em uma “abstração desmaterializada”. Já os sociólogos, influenciados por Marx e Weber, ao estudar as multidões tem um maior cuidado. Os sociólogos americanos, por exemplo, decompõem, e classificam as multidões de acordo com suas metas, comportamentos e crenças. Uma maneira mais refinada e bem diferente dos liberais que apontam a multidão apenas como um agrupamento de indivíduos.

Buscando romper com as concepções estereotipadas, Rudé traz algumas perguntas que auxiliam nesta tarefa: O que aconteceu de fato, não só com relação à origem do acontecimento como suas consequências? (O que significa contextualizar historicamente o ocorrido) Outras questões importantes: Qual a proporção da multidão? Como atuou? Alguém promoveu? Quem? Como agiu, ou agiram? Quem liderou? Quem eram os participantes? Ao fazer tais indagações, o autor demostra que fica mais fácil localizar o que Asa Briggs denominou como “os rostos na multidão”. Nesta busca devemos nos preparar, segundo Rudé, para a decepção, pois muitos documentos podem não ser localizados. Na Inglaterra por exemplo, poucas petições parlamentares foram preservadas, mas trata-se de um estudo relevante, que busca romper com fórmulas abstratas, trazendo as inúmeras faces para o cenário histórico daqueles que participaram e desenharam a nossa história.

A multidão em ação

O século XVII na França, foi marcado por inúmeras agitações. Nas décadas de 1620 e 1630 e inicio de 1640, algumas províncias se envolveram em choques sangrentos com aqueles que arrecadavam impostos. Em Bordeaux, houve uma rebelião que se iniciou devido ao imposto sobre o sal. Inúmeros motivos levaram a insatisfação e reação dos camponeses, como os impostos que deveriam ser pagos ao rei, ou a corvéia, a talha, gabela, e a ameaça de fome. Quando a fome ameaçava, fosse ela no campo ou na cidade, diversas manifestações aconteciam, nos mercados ou nas padarias. Saques eram comuns. Donos de lojas, moleiros, agricultores e comerciantes eram obrigados a reduzir os preços. As autoridades também eram forçadas a trabalhar em favor dos pequenos consumidores. O autor traz vários exemplos, como em 1752, em Arles, Rennes, Bourdeaux, Metz, Le Mans, Caen, Rouen, Fontainebleau, no Auvergne e na Dauphiné, trabalhadores do algodão, durante três dias ocuparam a cidade, realizaram saques, 10 pessoas morrem vitimas de balas e 5 foram executadas. O preço do pão também desencadeou motins.  

Os diversos motins abordados por Rudé demonstram que não se tratava da deflagração de diversas manifestações de insatisfação originadas a partir de um único ponto de controle, mas foram inúmeras respostas a questões locais.

O aumento dos preços de alimentos gerou um alarme popular, o autor reforça que os que participaram desta luta não mereciam ser chamados de “bandidos”.  Alguns amotinados enfrentaram a oposição da igreja, do exército, do governo, da burguesia urbana e dos proprietários rurais. O autor ressalta que ideias de “soberania popular”, Direitos do Homem e a nova concepção de “liberdade”, que posteriormente uniram classes baixas e médias contra um inimigo comum, ainda não haviam sido difundidas entre os pobres de diversas localidades.

O Motim Inglês no século XVIII

Bem diferente da França, a Inglaterra já não possuía resquícios feudais. O maior proprietário era o administrador da aldeia, empregava o trabalho assalariado e nomeava o pároco da Igreja Anglicana. Os trabalhadores que não possuíam terra trabalhavam com fiação e tecelagem nas indústrias domésticas.  Alguns motins surgiram no século XVIII, mas sem ter uma forma política. Muitos historiadores trataram esses motins como algo não muito importante por não possuírem um caráter político. Mas o Rudé ressalta que em tais agitações havia em essência uma maneira de protesto social.

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