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Por:   •  5/9/2014  •  Tese  •  1.358 Palavras (6 Páginas)  •  204 Visualizações

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Quando a Rádio Baviera me dirigiu convite para pronunciar, através da televisão, uma série de conferências semanais a propósito de filosofia, fui tomado de surpresa. Que audácia por parte da rádio e que desafio para o conferencista! Não hesitei. A filosofia se destina ao homem e a todos diz respeito. Como título para as exposições propus “Introdução ao Pensamento Filosófico”.

Iniciação — isso não significava que eu fosse falar acerca dè trivialidades filosóficas, nem que fosse fornecer informações simples, a fim de preparar o ouvinte para atividade no campo filosófico. Não existem aquelas trivialidades ou estas informações simples. Tão logo se filosofa, entra-se em contacto com os grandes temas da filosofia. E se isso não acontece é porque da filosofia se está longe. A palavra iniciação alude apenas à brevidade do texto: a atenção girará em torno de idéias verdadeiramente filosóficas.

Pensamento — não se tratava de ensinar algo que, depois, estaria conhecido. Não se tratava de transmitir conhecimentos elementares. Tratava-se, antes, de percorrer certas trajetórias do pensamento, na esperança de produzir no ouvinte (ainda que de experiências filosóficas, até então, apenas inconscientes) o sobressalto que nos dá súbita compreensão daquilo a que a filosofia se refere.

Filosófico, enfim. Quer isso dizer que importa conduzir o pensamento empírico e racional até seus limites extremos, até o ponto em que revela suas origens. No caso, método não significa aprendizado de operações de lógica formal ou de análise de linguagem, que são úteis mas não

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de natureza filosófica. O objetivo do pensar filosófico é levar a uma forma de pensamento capaz de iluminar-nos interiormente e de iluminar o caminho diante de nós, permitindo-nos apreender o fundamento onde encontremos significado e orientação.

A meia hora de programação semanal reclamava que, de cada vez, fosse feita exposição completa de uma questão. Escolhi (dentre muitos outros possíveis) treze temas:

Pontos de Partida

I. O Universo e a Vida

II. A História e o Presente

III. O Conhecimento Fundamental

IV. O Homem

Em Torno da Política

V. O Debate Político

VI. A Posição do Homem na Política

VII. Conhecimento Empírico e Juízo de Valor

VIII. Psicologia e Sociologia

IX. Opinião Pública

Âncoras na Eternidade

X. Os Enigmas.

XI. O Amor

XII. A Morte

Conclusão

XIII. A Filosofia no Mundo

Nas exposições, parto de experiências sensíveis, de realidades da natureza ou da vida, de tradições, caminhando, em cada caso, até as fronteiras que marcam o surgimento de questões a que a ciência não responde. Aí, diante do ser, vemo-nos presa do espanto; e indagamos de nós próprios acerca do sentido e missão de nossa existência.

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As conferências não mantêm entre si liame tal que se ponha cada uma delas como seqüência da anterior. Cada qual, à sua maneira, começa do começo. Todos se dirigem para um centro comum que não poderíamos considerar exatamente como tema. Essa orientação geral lhes confere unidade.

A filosofia é universal. Nada existe que a ela não diga respeito. Quem se dedica à filosofia interessa-se por tudo. Mas não há homem que possa tudo conhecer. Que distingue a vã pretensão de tudo saber do propósito filosófico de apreender o todo? O saber é infinito e difuso; dele se valendo, procura a filosofia aquele centro a que fazíamos referência. O simples saber é uma acumulação, a filosofia é uma unidade. O saber é racional e igualmente acessível a qualquer inteligência. A filosofia é o modo de pensamento que termina por constituir a essência mesma de um ser humano.

Em torno desse modo de pensamento é que estas conferências pretendem girar. Abertas para o real, seja o real o que for, tentam essas exposições descobrir o caminho que leva do real ao fundo das coisas, buscam, a partir desse fundo, lançar luz sobre as realidades. Tal a razão por que o problema reside em dar o salto em direção desta outra maneira de pensar.

Conquanto de objetivo elevado, devem ser simples as conferências. Do oceano de conhecimentos, utilizaremos tão-somente pequenas gotas. E não inalaremos senão umas poucas porções do ar da imensa atmosfera filosófica.

Essas metáforas pretendem significar o seguinte: para que a seiva do conhecimento se transforme em alimento espiritual, importa que esteja presente não apenas a inteligência, mas, em sua plenitude, o homem que, pensando, apresa aquele conhecimento. E, para fazer-se revigorante. o ar puro das regiões filosóficas há de constituir-se na realidade que se vive e se respira.

A idéia pode suscitar no ouvinte o desejo de assim proceder. O simples desejo, entretanto, nada significa. A cada indivíduo cabe dar o passo que leva do simples ouvir

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à participação direta. Ao longo das presentes conferências, enfrentaremos, repetidamente, problemas que se colocam no limite do lógico e do empírico. Começaremos por acolher as respostas dadas. Nenhuma será a última. Cada qual conduzirá a novas indagações, até que a indagação final tenha o silêncio como resposta — e não por ser uma indagação vazia. Surge o silêncio que não é o abrigo do nada, mas onde a própria essência do homem encontra meios de falar-lhe através de seu eu mais íntimo, através de suas necessidades, da razão, do amor.

KARL

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