As Masculinidades na História
Por: irissilvaa • 30/11/2021 • Ensaio • 2.070 Palavras (9 Páginas) • 156 Visualizações
MASCULINIDAES
Iris de Almeida Silva[1]
RESUMO: Propõe-se nesse ensaio dissertar sobre o tema Masculinidades e as ramificações que ele oferece ao longo do seu estudo. Tomando como permissa entender como a masculinidade é construída e vivida dentro da atual sociedade, o seu conceito, quais as consequências e as possibilidades de análise. Desse modo, será dissecado ao decorrer do texto a representação das diferentes masculinidades, como ela se apresenta nas esferas sociais, econômicas e familiares, bem como a maneira que essa questão é entendida pelos homens.
Palavras-chave: Masculinidade; patriarcado; construção social.
INTRODUÇÃO
Com os diversos avanços sociais, o estudo de gênero começou a ser tema de mais pesquisas e pautas em discussões acadêmicas e informais, dentre as vertentes que podem ser trabalhadas, está a questão da masculinidade, machismo e o sistema patriarcal que ainda é base das relações sociais na sociedade atual, trazendo os homens e a ideia de binarismo dos corpos para esse campo de estudo.
Refletir sobre masculinidades é explorar as expectativas que são depositadas nos homens e a pressão que eles sofrem para tentar alcançar um padrão de macho alfa, forte, sedutor, superior, bem como as consequências que isso traz para a sua construção como ser humano e para o sexo oposto, pois dessa forma produzem relações que são violentas e tóxicas. Portanto, ao longo do ensaio, será dissecado sobre como os homens lidam com a sua masculinidade, as problemáticas que são causadas por ela, como o homem negro é subalternizado, mostrando que existe a masculinidade hegemônica e subalterna e por fim os efeitos que ela tem para as mulheres e comunidade LBTQI+.
MASCULINIDADES
Ao analisarmos a construção da sociedade na qual vivemos, é perceptível como os homens e mulheres são tratados de forma diferente, desde a descoberta do sexo da criança, ainda durante a gravidez são designadas diversas atribuições e aparatos para caracterizar o indivíduo como sendo menino ou menina, que vão desde a escolha dos brinquedos até o imaginário de como será o comportamento da criança, se for menina espera-se que seja calma, doce, sensível, enquanto a expectativa para o menino é que ele aja de modo autoritário, viril, dominante.
Ao nascer a criança ainda não se reconhece com nenhum sexo, não tem a capacidade de distinguir sobre suas escolhas, dessa forma são as pessoas ao seu redor que as induzem a se vestir, agir e se comportar de determinada maneira, criando um modelo que é socialmente aceito e elaborando concepções na tentativa de construir a identidade daquele indivíduo, o moldando de acordo com a cultura local, diferenciando os que possuem pênis ou vagina, para oferecer-lhes determinados artefatos, nessa linhagem os meninos recebem roupas na cor azul e as meninas são vestidas na cor rosa, como se fosse uma regra para determinar o sexo de cada criança.
São diversas as análises que podem ser feitas acerca do corpo, uma delas é a questão da masculinidade, que é justamente essa construção social que é elaborada sobre o corpo que nasce com pênis, reunindo características que os são impostas pelo fato de pertencerem ao sexo masculino, onde esses devem agir de forma viril, forte, agressiva, ao contrário da sensibilidade imposta as mulheres. Discutir sobre essa temática, é discorrer sobre como esse padrão é fixo e condena os homens que fogem dele, é uma caixa fechada cheia de pressupostos que determinam o que é ou não ser homem.
A masculinidade está intrinsicamente ligada ao machismo, que é o fato de inferiorizar a mulher e a comunidade LGBTQI+, colocando o homem no lugar de superioridade e menosprezando o sexo oposto, essa é a visão que deve ser combatida cotidianamente e uma das razões pela qual ela se torna tóxica. A pressão que é depositada ao homem, para que ele aja como tal, utilizando de frases prontas como por exemplo, “homem não pode chorar”, “Fale como homem”, os obrigam a ter essa necessidade de demonstrar como são fortes e superiores, pois aqueles que admitem as suas fraquezas são considerados “menos homens”.
Essa normatização do ser másculo ou não, carrega graves consequências para ambos os sexos, e a padronização de corpos como binários, reforça ainda mais essa visão, fundamentando-se na perspectiva de que se nasce fêmea ou macho, com pênis ou vagina, fazendo parte de uma categorização sexual implantada conforme os indivíduos vão crescendo e atuando nas diversas esferas da vida social.
É imprescindível pensarmos então, sobre os corpos que não nascem com o órgão genital definido, e são submetidos a procedimentos cirúrgicos para se encaixarem a um sexo ou outro, produzindo assim um corpo que seja sexuado, ficando ainda mais claro como as atribuições do que é feminino e o que é masculino são enraizadas e designadas aos corpos, desse modo, é perceptível como eles são materializados e inseridos em um determinado contexto.
Refletir sobre masculinidades, é pensar de forma plural levando em consideração diversos aspectos, como por exemplo a raça, etnia, classe social, etc, nessa perspectiva o autor Michael S. Kimmel afirma em seu artigo “A produção simultânea de masculinidades hegemônicas e subalternas” que existem três pressuposições principais que nos fazem entender melhor essa questão, primeiro Kimmel discorre sobre como a masculinidade é construída de forma diferente de acordo com cada cultura, na segunda suposição ele explicita que dois dos elementos que constituem a masculinidade é o sexismo e a homofobia, por fim o autor citado problematiza a questão dos privilégios que há principalmente para homens brancos nessa construção da masculinidade.
Considerando esses aspectos, alguns estudiosos dividem as masculinidades entre subalterna e hegemônica, a primeira seria aquela parcela de homens que estão dentro da família assumindo o papel de macho, mas que não tinham a “capacidade” de defender a sua família, por exemplo, por não terem um comportamento tão violento, ou por já estarem em contexto de subalternização, como aconteceu com os escravizados e os indígenas, e atualmente com os homens negros. Já a hegemônica compreende os homens, em sua maioria brancos, inseridos no sistema patriarcal, dotado de agressividade, que está a todo tempo provando a sua virilidade.
Os agentes sociais, econômicos e étnicos, contribuem para que essa masculinidade seja todo tempo sobreposta, o homem de melhor “status” socialmente tem a sua masculinidade mais aplaudida, enquanto o homem pobre e negro, é invisibilizado ocupando um lugar de desprestigio. Desse modo, é evidente que a masculinidade se constrói principalmente na desigualdade de gênero, porém está ligada de maneira mais subjetiva a outros aspectos.
A diferença da criação dos homens e a construção de sempre querem mostrar que são superiores, são fatores determinantes para o enraizamento dessa visão do que é “ser homem”. Muitos carregam consigo a ideia de que não podem se emocionar, falar sobre seus sentimentos, se expressar, pois estariam sendo sensíveis demais, agindo como “mulherzinha”, sendo afeminados e isso é inadmissível no universo masculino. Por outro lado, não aceitam também que mulheres ocupem determinados espaços de poder, ou realize algumas atividades que para eles diminuiria o valor do papel do homem de estar à frente de tudo.
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