BURKE, Peter. A Fabricação Do Rei
Dissertações: BURKE, Peter. A Fabricação Do Rei. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: matheusbf1 • 20/10/2014 • 1.697 Palavras (7 Páginas) • 525 Visualizações
O livro de Burke é um estudo inédito e detalhado sobre a construção da imagem pública do rei de França Luis XIV, não propondo mais um tratado biográfico, mas sim um “estudo das relações entre arte e poder” (p.14).
Luís XIV, filho de Ana da Áustria e Luís XIII, foi conduzido ao centro do poder em 1643 após a morte do pai. Sua mãe, auxiliada pelo cardeal Mazarin, se tornou regente do trono até março de 1661 quando, após a morte do cardeal, o jovem Luís expressou sua vontade de governar sozinho.
Coroado e sagrado em 1654 para fins de “(...)mostrar sua legitimidade, estabelecendo contato com os soberanos anteriores” e de projetar a “(...)imagem da monarquia sagrada”, tornando assim “(...) Luís semelhante a Cristo” (p.54), Luís permaneceu no poder durante 72 anos. Somente sua morte em 1715 interrompeu seu reinado. Principal rei absolutista francês sobre o qual pesam os epítetos de Rei Sol, augusto, belo, brilhante, constante, iluminado e outros. Oficialmente, o adjetivo atraibuído a Luís XIV, a partir de 1671, era Louis Le Grand, Luís o Grande.
A propósito de seu absolutismo, a ele teria sido atribuída a frase que é uma verdadeira máxima do estado absoluto: “O estado sou eu”. No entanto, contrariamente ao que a frase sugere, o próprio Luís XIV teria dito em seu leito de morte “Vou partir, mas o estado permanecerá depois de mim” (p.21).
A construção da imagem de Luís XIV se inicia justamente após a morte do pai em 1643. Até então, o jovem Luís era representado “como qualquer bebê, enrolado em cueiros, ou na camisola geralmente usada pelos meninos até os sete anos” (p.51). Mas a partir de 1643 ele passou a ser reproduzido nas artes com as representações enaltecidas da realeza, ou seja, as imagens, escritas, plásticas ou dramáticas, não visavam simplesmente “(...) fornecer uma cópia reconhecível dos traços do rei ou uma descrição sóbria de suas ações. Ao contrário, a finalidade era celebrar Luís, glorifica-lo, em outras palavras, persuadir os espectadores, ouvintes e leitores de sua grandeza” (p.31). Para tanto eram usados os mais diversos gêneros, alguns de fórmulas de sucesso emprestadas de tradições como a romana, como a estátua eqüestre, o retrato solene, a epopéia, as odes, os panegíricos, os sermões e até mesmo a historiografia. Sempre em estilo grandioso ou magnífico (caso das pinturas e retratos), elevado (caso das epopéias, odes e sermões) e até mesmo em tom sóbrio, mais raso (caso do jornal Gazette) para demonstrar imparcialidade e sugerir uma áurea de confiabilidade (p.38).
A partir de 1661, Jean-Baptiste Colbert, assumiu o cargo de conselheiro do estado, passando a patrocinar, em nome do rei, às artes e conduzir estas a servir “para conservar o esplendor das realizações do rei” (p.62). Com a adesão de Colbert, põe-se em prática uma verdadeira estrutura pública–cultural a serviço da elevação da imagem do rei. Fundaram-se academias, que eram corporações de artistas, fábricas de móveis, tapeçarias e jornais (p.63). Todas estas instituições trabalhavam para dignificar o rei. É claro que era “importante para a honra de sua majestade que o elogio que lhe era feito parecesse espontâneo” (p.64).
Depois de decantadas as façanhas diplomáticas, Luís XIV partiu para a via bélica e dela saiu como herói conquistador e bem sucedido como na Guerra da Devolução (1667-68) e a Guerra Holandesa (1772-78), muito embora nesta última o retrato não seja cópia fiel do modelo.
A Guerra da Devolução começou com a morte de Filipe IV (pai de Maria Teresa, esposa de Luís XIV), quando o rei da França se arrogou o direito de submeter os Países Baixos espanhóis ao seu domínio. Toda uma produção literária foi gerida para que se provasse “os direitos da cristianíssima rainha sobre vários estados da monarquia espanhola ” (p.83). À produção literária seguiu a invasão dos países baixos pelas tropas francesas lideradas pelo próprio rei que, inovou, levando consigo toda sua corte, incluindo a rainha e duas amantes oficiais, bem como dois pintores. Os principais eventos da guerra apareceram em medalhas, poemas, tapeçarias e gravuras. Com o fim da guerra, quando o Franche-Comté foi devolvido a Espanha e Lile anexada a França, a paz foi celebrada com um festival, encenações e até um prêmio para a melhor obra sobre o tema “Luís pacifica a Europa” (p.84). O título do prêmio é sugestivo das intenções de glorificação do rei.
Já na Guerra Holandesa Luís não levou pintores, preferiu levar historiadores como Pellison, Boileau e Racine.
No entanto, não obstante a glória ilustrada nos discursos oficiais, “foi difícil disfarçar certas discrepâncias entre os relatos oficiais e os relatos de campanha. Em 1672, dez dias após a travessia do rio Reno, os holandeses abriram seus diques e inundaram o país, tornando assim impossível a movimentação do exército francês em seu território” (p.90). Em 1674 Luís tem de deslocar o seu teatro de operações em virtude da forte resistência holandesa. Assim, Luís deixa a Holanda sem uma vitória decisiva. Obviamente, as fontes oficiais pintaram o final da guerra 1679 como uma vitória com o “rei impondo aos holandeses seus termos de paz, e não aceitando
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