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BURKE, Peter - Escola do annales

Por:   •  26/11/2015  •  Resenha  •  3.457 Palavras (14 Páginas)  •  884 Visualizações

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BURKE, Peter. A escola dos Annales (1929-1989): a revolução francesa da historiografia. ODALIA, Nilo (trad.). São Paulo: UNESP, 1997, 154 p.

Capítulo 1: “O antigo regime na historiografia e seus críticos”

A “Escola dos Annales” foi uma verdadeira revolução na forma de se fazer história. Até então, o método utilizado era a narração de fatos políticos e militares, tendo como personagens seus respectivos líderes. A primeira oposição a esse método surgiu no século XVIII, durante o Iluminismo, quando alguns escritores e pensadores passaram a se preocupar com fatos que iam além das narrativas feitas até então, por meio da análise das leis, das artes, do comércio, da moral e dos costumes das sociedades estudadas, dando início a uma “história sociocultural”.

Tal estudo amplo da história foi freado por Leopold von Ranke que, ao querer “profissionalizar” o estudo histórico, passou a dar ênfase a fontes que prestigiavam os eventos políticos. A partir de então, durante o século XIX, a maior parte das publicações historiográficas voltaram a ser limitadas ao tema político, uma vez que tal reviravolta teve muitos seguidores. Entretanto, esse novo método não foi unânime entre os historiadores e intelectuais, tendo como principais críticos os historiadores econômicos e os sociólogos. As críticas aumentaram e se tornaram mais contundentes com a virada do século, quando passaram a ser apresentadas diversas alternativas, sendo uma delas a da interdisciplinaridade do estudo histórico com outras ciências humanas.

Capítulo 2: “Os fundadores: Lucien Febvre e Marc Bloch”

Os líderes do movimento dos Annales foram Lucien Febvre e Marc Bloch. Apesar de terem cursado a mesma Escola, tais estudiosos só foram se conhecer trabalhando na Universidade de Estrasburgo, cuja cidade tinha sido recém anexada à França, fato que tornou favorável a inovação naquele mundo acadêmico, afastando assim possíveis dificuldades de aproximação entre diferentes disciplinas. Primeiros editores da revista “Annales d'histore économique et sociale”, cuja primeira edição surgiu em 15 de janeiro de 1929, tinham como característica principal de seus estudos históricos a interdisciplinaridade com outras matérias. Tal característica foi estendida à revista, que contava com editores de diversas áreas das sociais sociais, como a sociologia, geografia, economia e ciência política.

Lucien Febvre se formou na Escola Normal Superior. Foi nesse meio acadêmico que passou a ter influência de diversas áreas do conhecimento, como a filosofia, antropologia, filosofia e a geografia. Esta última foi a mais influente para Febvre, que passou a ter como característica a introdução geográfica em seus estudos, que nada mais era do que uma descrição geográfica da região a ser analisada. Por conta de seu interesse na área publicou um estudo geral sobre a geografia histórica, obra que foi uma extensão das ideias de um antigo professor dele, Paul Vidal de la Blache, que possuía o interesse em se aproximar com as outras disciplinas, fato este que levou a fundação da revista “Annales de Géographie” em 1891, uma forte influência para o surgimento da revista de Bloch e Febvre.

Após a finalização de seu estudo geográfico, interrompido pela Primeira Guerra Mundial, Febvre passou a focar seus estudos nas atitudes coletivas, chamado por ele de “psicologia histórica”. A partir de então o foco do seu trabalho passou a ser a história do Renascimento e da Reforma religiosa. Febvre associou a ascensão da burguesia com o desenvolvimento desses eventos, uma vez que havia uma demanda social por novas ideias que ia além das explicações dadas até então.

Muitos de seus estudos tiveram como tema a história de indivíduos. Porém, tal história ia além da mera análise de fatos vividos por tais indivíduos. No caso de Lutero, Febvre analisa a relação entre suas ideias e as demandas da classe social a quem ele se dirigia. Segundo o autor, Lutero não se limitou a apenas reproduzir as necessidades e interesses da burguesia, uma vez que muitas de suas ideias eram contrárias a tal classe e tiveram que ser adaptadas.

Um estudo histórico muito amplo também foi feito em torno de um indivíduo. “Le problème de l'incroyance ae XVIe siècle: la réligion de Rabelais” analisa primeiramente o suposto ateísmo de Rabelais, um padre francês da Idade Média. Febvre, inspirado no tema por conta de uma análise que afirmava tal ateísmo, provou o contrário por meio de uma abordagem filológica do termo, que segundo o autor era usado em sentido amplo como uma forma de ofensa. Dessa forma, dizer que alguém era ateu no século XVI é anacrônico. Sua análise, entretanto, foi adiante ao explicar a impossibilidade do ateísmo na época, uma vez que o “instrumental intelectual” do período não abria espaço para a descrença. No final do livro Febvre faz uma análise sobre alguns problemas da psicologia histórica, como a concepção de espaço e tempo no século XVI e as noções de beleza da época.

Marc Bloch teve uma formação semelhante a de Febvre. Também estudou na Escola Normal Superior, entretanto foi em uma época diferente da de Febvre por ser oito anos mais novo. Lá também teve forte influência de outras disciplinas, tendo como a mais influente em seu estudo a sociologia. Tal fato se deve a Durkheim, que começou a lecionar na Escola Normal Superior quase na mesma época em que Bloch lá entrou. Seus estudos tiveram como tema principal a história medieval. Como Febvre, Bloch também tinha um interesse pela geografia, fazendo com que também tivesse uma análise histórica na forma de “história-problema”.

Uma das obras de destaque de Bloch foi “Leis Rois Thaumaturges”. Nela o autor analisa a crença do povo no poder dos reis em curar escrófula com um simples toque. Apesar da aparente superficialidade do tema, Bloch foi original na condução da obra por não se ater a mera narração dos fatos, buscando interpretar a mentalidade do povo em relação a esse fato, utilizando elementos na psicologia e na sociologia. Por conta disso, tal obra ficou reconhecida como uma das primeiras a se ater a “história das mentalidades”, tema histórico não aprofundado até então. Junto a isso o autor utiliza um método de análise de “longa duração”, uma vez que o evento é estudado em um longo período de tempo. Percebe-se ainda que o autor compara o fato analisado em duas diferentes sociedades, França e Inglaterra, de modo a evidenciar diferenças.

Outra obra que colocou Bloch em evidência foi “Les caractères originaux de l'histoire rurale française”. O objeto de estudo no livro é a civilização agrária. Nesta obra também é utilizada a análise de “longa duração” e as comparações entre a Inglaterra e a França. Outras inovações técnicas utilizadas foram a utilização de fontes não escritas, como mapas, e o método regressivo de análise, onde o autor partia do presente em direção ao passado. A obra se originou de uma tese de Bloch sobre a população rural de Île-de-France na Idade Média e só foi publicada em 1931, uma vez que Bloch foi interrompido por ter de se apresentar para a Primeira Guerra Mundial.

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