Capitalismo
Por: 16015555 • 31/3/2015 • Projeto de pesquisa • 3.665 Palavras (15 Páginas) • 287 Visualizações
Aula tema 4
Conhecida desde a Antiguidade como o Império do Meio, a China, um dos países mais tradicionais do mundo, tem experimentado ao longo das últimas quatro décadas um processo contínuo de desenvolvimento econômico impressionante. De um país predominantemente agrário, no início dos anos 1970, converteu-se hoje na segunda maior economia do mundo, tendo papel fundamental na estrutura econômica contemporânea. Além de promover uma vigorosa industrialização, acompanhada por crescente urbanização, a nação asiática se projeta na economia global comercializando e investindo nos mais diversos países. Cada vez mais contribui para alterar a lógica político-econômica vigente.
Este tema busca demonstrar em uma perspectiva histórica e explicar com dados do presente como e por que esta vertiginosa transformação se tornou possível.
A China possui a mais antiga e contínua civilização de que se tem notícia. É a nação mais populosa do mundo, com pouco mais de 1,3 bilhão de habitantes, a quarta maior extensão territorial e, nas últimas décadas, alcançou o patamar de segunda maior economia do planeta, e muito provavelmente ocupará o primeiro lugar nos próximos anos. Mas não é possível entender a dinâmica do desenvolvimento chinês contemporâneo sem um breve mergulho em sua história moderna.
No final do século XVIII, o desenvolvimento industrial do Ocidente fez com que sua expansão colonial chegasse ao extremo Oriente, especialmente à China. A opção por séculos pelo próprio isolamento daquele país, autodenominado Império do Meio, fez com que ele se encontrasse, no momento deste encontro, tecnologicamente defasado em relação às grandes potências coloniais europeias. Assediada por países como Inglaterra, França e mesmo a jovem nação norte-americana para que abrisse seus portos e o comércio aos interesses ocidentais, a China se recusou sistematicamente a ceder.
Em 1839, sob a alegação de permitir o livre-comércio, inclusive do ópio, o Império Britânico iniciou o conflito que ficaria conhecido como Guerra do Ópio. O resultado foi a derrota chinesa e a assinatura de tratados humilhantes por meio dos quais o país se viu obrigado a ceder a ilha de Hong Kong aos ingleses, além de abrir completamente cinco de seus portos, onde foram criadas concessões estrangeiras para facilitar o ingresso de produtos ocidentais no mercado chinês. A partir daí, o país passaria por um período turbulento, que se estenderia por mais de um século.
O Nascimento da República Popular da China
Guerras civis, o colapso da dinastia Qing e, consequentemente, do império, uma série de investidas e invasões estrangeiras, tendo sido a ocupação japonesa no período de 1937 a 1945 a mais grave de todas, fez da China um país caótico e dividido. A principal dessas divisões envolvia a disputa entre comunistas e nacionalistas nas primeiras décadas do século XX.
Os adversários deixaram momentaneamente suas diferenças de lado e se uniram para expulsar o invasor estrangeiro. Com a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial, ambos os grupos retomariam rapidamente a guerra civil. Liderados por Mao Tsé-Tung, fundador do Partido Comunista Chinês e conhecido por seus admiradores como “O Grande Timoneiro”, os comunistas venceram e viram seus inimigos nacionalistas fugir para a ilha de Taiwan. Em 1º de outubro de 1949, Mao Tsé-Tung fundou a República Popular da China, unificando o país e colocando fim a mais de 100 anos de invasões e chantagens proporcionadas por potências estrangeiras.
Começava uma nova era em que muitos erros seriam cometidos, erros esses que levariam à morte milhões de chineses por fome, por exemplo, o projeto do Grande Salto Adiante, em que o governo, ao centralizar completamente o processo de produção agrícola, causou desabastecimento e miséria generalizada por todo o país (VISENTINI, 2013). A Revolução Cultural patrocinada por inspiração do “Grande Timoneiro” também não ficou atrás, e muitos adversários políticos foram presos e executados. Seja como for, os enganos cometidos por Mao Tsé-Tung, que morreu em 1976, serviriam para balizar o projeto de desenvolvimento que começaria a ser executado somente dois anos após sua morte e que faria da China novamente uma nação respeitável no cenário internacional.
Socialismo de Mercado
Para chegar ao status de segunda maior economia do planeta, em 1978, o governo da República Popular da China, então comandada por Deng Xiaoping, resolveu adotar uma política de abertura e reformas de longo prazo, com a adoção de uma série de importantes medidas que visavam retirar o país de um atraso estrutural que já durava mais de um século. A mais importante dessas medidas foi a adoção das chamadas Quatro Modernizações: na indústria, na agricultura, nas forças armadas e na ciência e tecnologia.
No caso das modernizações industrial e agrícola, a ideia era uma maior integração com o mercado internacional, em busca de tecnologia avançada e melhora da capacidade de produção do país. Outra medida adotada foi a criação de áreas específicas, com o objetivo de captar capital e tecnologia estrangeiras: As Zonas Econômicas Especiais (ZEE).
Naturalmente, o país já possuía uma base industrial e uma infraestrutura básicas, mas ambas ultrapassadas para os desafios projetados para os anos futuros. A criação das Zonas Econômicas Especiais deslocou o eixo da industrialização modernizante para as regiões costeiras do sul, voltadas para as exportações. Elas foram estabelecidas em Shantou, Shenzhen, Zhuhai, Xiamen e ilha de Hainan. Além disso, outras localidades foram escolhidas como centros de excelência para o desenvolvimento de tecnologia de ponta ou centros econômicos, sendo o mais famoso de todos a cidade de Shangai (Figura 4.1).
A ideia das Zonas Econômicas Especiais era criar um ambiente com características do capitalismo, mas sob rígido controle do governo, em um padrão autodenominado Socialismo de Mercado (VISENTINI, 2013). Um exemplo dessa simbiose foi a criação de um sistema de câmbio duplo: parcialmente livre, mas com controle do Estado.
Sempre que há interesse, o governo desvaloriza sua moeda, o yuan, barateando ainda mais o valor de seus produtos no mercado internacional.
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Figura 4.1 Zonas Econômicas Especiais.
Fonte: Veja na Sala de Aula, edição 1920, 31 ago. 2005. Disponível em: http://veja.abril.com.br/saladeaula/310805/p_06.html. Acesso em: 28 out. 2014.
Nos anos que se seguiram às reformas, todas essas mudanças vertiginosas causaram expectativas de transformações políticas e até descontentamento por parte de trabalhadores urbanos preocupados em perder poder aquisitivo com as medidas governamentais. Esses temores e expectativas levaram a protestos na Praça da Paz Celestial em 1989. Em meio aos participantes do movimento, além dos trabalhadores urbanos, havia estudantes e pessoas ligadas a facções dissidentes do Partido Comunista Chinês. A mobilização, de alguma maneira, concentrava as incertezas e insatisfações nascidas com as profundas reformas econômicas iniciadas cerca de dez anos antes e também refletia o colapso do modelo socialista na Europa Oriental (HUI, 2006). De forma implacável, o poder central passou por cima dos descontentamentos, reprimiu os manifestantes e deu prosseguimento às reformas.
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