Casa Grande E Senzala
Pesquisas Acadêmicas: Casa Grande E Senzala. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: loirah13 • 25/4/2013 • 684 Palavras (3 Páginas) • 1.154 Visualizações
Mais ainda, ao descrever os hábitos do senhor, do patriarca e de
sua família, por mais que a análise seja edulcorada, ela revela não só
a condição social do patriarca, da sinhá e dos ioiôs e iaiás, mas das
mucamas, dos moleques de brinquedo, das mulatas apetitosas, enfim,
desvenda a trama social existente. E nesse desvendar, aparecem fortemente
o sadismo e a crueldade dos senhores, ainda que Gilberto
Freyre tenha deixado de dar importância aos escravos do eito, à massa
dos negros que mais penava nos campos.
É indiscutível, contudo, que a visão do mundo patriarcal de nosso
autor assume a perspectiva do branco e do senhor. Por mais que
ele valorize a cultura negra e mesmo o comportamento do negro
como uma das bases da "brasilidade" e que proclame a mestiçagem
como algo positivo, no conjunto fica a sensação de uma certa nostalgia
do "tempo dos nossos avôs e bisavós". Maus tempos, sem dúvida,
para a maioria dos brasileiros.
De novo, então, por que a obra é perene?
Talvez porque ao enunciar tão abertamente como valiosa uma situação
cheia de aspectos horrorosos, Gilberto Freyre desvende uma dimensão
que, gostemos ou não, conviveu com quase todos os brasileiros
até o advento da sociedade urbanizada, competitiva e industrializada.
No fundo, a história que ele conta era a história que os brasileiros, ou
pelos menos a elite que lia e escrevia sobre o Brasil, queriam ouvir.
Digo isso não para "desmistificar". Convém recordar que outro
grande invento-realidade, o de Mário de Andrade, Macunaíma, expressou
também (e não expressará ainda?) uma característica nacional
que, embora criticável, nos é querida. O personagem principal é descrito
como herói sem nenhum caráter. Ou melhor, com caráter variável,
acomodatício, oportunista. Esta, por certo, não é toda a verdade
da nossa alma. Mas como negar que exprime algo dela? Assim também
Gilberto Freyre descreveu um Brasil que, se era imaginário em
certo nível, em outro, era real. Mas, como seria gostoso se fosse verdade
por inteiro, à condição de todos terem sido senhores...
É essa característica de quase mito que dá à Casa-grande & senzala
a força e a perenidade. A história que está sendo contada é a
história de muitos de nós, de quase todos nós, senhores e escravos.
Não é por certo a dos imigrantes. Nem a das populações autóctones.
Mas a história dos portugueses, de seus descendentes e dos negros,
que se não foi exatamente como aparece no livro, poderia ter sido a
história de personagens ambíguos que, se abominavam certas práticas
da sociedade escravocrata, se embeveciam com outras, com as
mais doces, as mais sensuais.
Trata-se, reitero, de dupla simplificação, a que está na obra e a
que estou fazendo. Mas que capta, penso eu, algo que se repete na
experiência e na análise de muitos. É algo essencial para entender o
Brasil.
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