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Feudalismo Acadêmico

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Por:   •  26/3/2015  •  6.167 Palavras (25 Páginas)  •  243 Visualizações

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FEUDALISMO ACADÊMICO

Nildo AVELINO

Doutor em Ciência Política pela PUC, São Paulo, Brasil. E-mail:

nildoavelino@gmail.com.

RESUMO

O trabalho descreve o processo de ortologização dos saberes colocado em

funcionamento pela cultura Escolástica a partir da "revolução escolar" do

Renascimetno do século XII. O processo ortológico visou estabelecer para o

pensamento um padrão de similaridade das diferenças entre os saberes, reduzindo

a singularidade dos saberes numa única espécie homóloga. Para descrever esse

processo, as práticas de vassalagem próprias da sociedade feudal foram

deslocadas da relação entre vassalo e senhor para a relação entre magister e

scholasticus. O contrato de vassalagem foi caracterizado por um tipo de obediência

ativa na qual o vassalo constituía sua própria subjetividade nas relações de

fidelidade. Deste modo, rejeitando a equação hegeliana ignorância-despotismo

tornada paradigma das filosofias Iluministas, procurou-se demonstrar que a

obediência às verdades do pensamento Escolástico não retirou sua força

unicamente dos procedimentos da fogueira e da tortura; também a lógica

aristotélica foi utilizada como princípio de classificação e subordinação dos saberes

através do qual o próprio sujeito do conhecimento constituiu a si mesmo nas

relações de obediência estabelecidas com a verdade.

Abstract

The work describes the process of orthologization of knowledge into operation by

culture Scholastic from the "educational revolution" of Renaissance of the 12th

century. The process ortholgue aimed establish to thought a pattern of similarity the

differences between the knowledge, reducing to uniqueness of knowledge in a

homologue species. To describe this process, the practice of vassalage own feudal

society were displaced from relationship between lord and vassal to the relationship

between magister and scholasticus. The vassalage contract was characterized by a

kind of active obedience in which the vassal was his own subjectivity in elations of

loyalty. Thus, rejecting the Hegelian equation ignorance-despotism, become the

paradigm of Enlightenment, sought demonstrate that obedience to the truths of

Scholastic thought not only withdrew its strength procedures of fire and torture; also

Aristotelian logic was used as the classification and subordination principle of

knowledge through which itself was the subject of knowledge itself even in the

relations obedience established with truth.

Introdução

Falar em “Feudalismo Acadêmico” pode provocar, num primeiro momento, a

impressão de um certo anacronismo, na medida em que coloca em discussão uma

noção bastante arcaica. Afinal, sabe-se que o feudalismo foi um tipo de relação

social ou de sistema social que preponderou nas sociedades, sobretudo européias,

entre os séculos IX e XIII. Daí ao ouvir-se a palavra feudalismo a primeira coisa que

vem ao espírito é uma realidade remota, longínqua e obsoleta. Este desconforto

advindo da imagem de uma coisa antiquada evocado pela palavra feudalismo, é

ainda nutrido por uma espécie de sombra sobre ele projetada: é a sombra da

barbárie, do que é primitivo, da estupidez e da caducidade. Não se pode esquecer

que Augusto Comte (1973), ao descrever o que ele chamou de marcha da

civilização no seu Curso de Filosofia Positiva, caracterizou a época em que existiu a

instituição feudal como um estágio “teológico e fictício”; para Comte, trata-se de

uma época cujo pensamento pertenceu à infância do Homem, em que a

Humanidade estave mergulhada nas trevas da Idade Média.

Ao localizar a Idade Média na noite dos tempos, Comte não fazia outra coisa

que reproduzir o grande mito da Renascença: o famoso esquema tripartido através

do qual a história nos foi ensinada. Neste esquema, isto que nós chamamos de

razão, de pensamento racional, de racionalismo, teria habitado o mundo gregoromano

até o século V d.C, desaparecendo em seguida repentinamente por um

período de mil anos para somente reaparecer por volta do século XIV naquilo que é

conhecido sob o nome de Renascença. Encontra-se figurado neste esquema

tripartido do racionalismo: 1º) Razão: do séc. V a.C ao séc. IV d.C – Cultura gregoromana;

2º) Ignorância: do séc. V ao séc. XIV d.C – Idade Média; e finalmente, 3º)

Razão: a partir do séc. XV – Renascimento, (MURRAY, 2002). Nesta tripartição

histórica da Razão, a Idade Média aparece como uma espécie de miolo vazio e

sem conteúdo, algo como uma mancha negra na alvura do racionalismo ocidental.

No interregno de aproximadamente mil anos, localizado

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