Feudalismo Acadêmico
Artigos Científicos: Feudalismo Acadêmico. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: flormarques33 • 26/3/2015 • 6.167 Palavras (25 Páginas) • 248 Visualizações
FEUDALISMO ACADÊMICO
Nildo AVELINO
Doutor em Ciência Política pela PUC, São Paulo, Brasil. E-mail:
nildoavelino@gmail.com.
RESUMO
O trabalho descreve o processo de ortologização dos saberes colocado em
funcionamento pela cultura Escolástica a partir da "revolução escolar" do
Renascimetno do século XII. O processo ortológico visou estabelecer para o
pensamento um padrão de similaridade das diferenças entre os saberes, reduzindo
a singularidade dos saberes numa única espécie homóloga. Para descrever esse
processo, as práticas de vassalagem próprias da sociedade feudal foram
deslocadas da relação entre vassalo e senhor para a relação entre magister e
scholasticus. O contrato de vassalagem foi caracterizado por um tipo de obediência
ativa na qual o vassalo constituía sua própria subjetividade nas relações de
fidelidade. Deste modo, rejeitando a equação hegeliana ignorância-despotismo
tornada paradigma das filosofias Iluministas, procurou-se demonstrar que a
obediência às verdades do pensamento Escolástico não retirou sua força
unicamente dos procedimentos da fogueira e da tortura; também a lógica
aristotélica foi utilizada como princípio de classificação e subordinação dos saberes
através do qual o próprio sujeito do conhecimento constituiu a si mesmo nas
relações de obediência estabelecidas com a verdade.
Abstract
The work describes the process of orthologization of knowledge into operation by
culture Scholastic from the "educational revolution" of Renaissance of the 12th
century. The process ortholgue aimed establish to thought a pattern of similarity the
differences between the knowledge, reducing to uniqueness of knowledge in a
homologue species. To describe this process, the practice of vassalage own feudal
society were displaced from relationship between lord and vassal to the relationship
between magister and scholasticus. The vassalage contract was characterized by a
kind of active obedience in which the vassal was his own subjectivity in elations of
loyalty. Thus, rejecting the Hegelian equation ignorance-despotism, become the
paradigm of Enlightenment, sought demonstrate that obedience to the truths of
Scholastic thought not only withdrew its strength procedures of fire and torture; also
Aristotelian logic was used as the classification and subordination principle of
knowledge through which itself was the subject of knowledge itself even in the
relations obedience established with truth.
Introdução
Falar em “Feudalismo Acadêmico” pode provocar, num primeiro momento, a
impressão de um certo anacronismo, na medida em que coloca em discussão uma
noção bastante arcaica. Afinal, sabe-se que o feudalismo foi um tipo de relação
social ou de sistema social que preponderou nas sociedades, sobretudo européias,
entre os séculos IX e XIII. Daí ao ouvir-se a palavra feudalismo a primeira coisa que
vem ao espírito é uma realidade remota, longínqua e obsoleta. Este desconforto
advindo da imagem de uma coisa antiquada evocado pela palavra feudalismo, é
ainda nutrido por uma espécie de sombra sobre ele projetada: é a sombra da
barbárie, do que é primitivo, da estupidez e da caducidade. Não se pode esquecer
que Augusto Comte (1973), ao descrever o que ele chamou de marcha da
civilização no seu Curso de Filosofia Positiva, caracterizou a época em que existiu a
instituição feudal como um estágio “teológico e fictício”; para Comte, trata-se de
uma época cujo pensamento pertenceu à infância do Homem, em que a
Humanidade estave mergulhada nas trevas da Idade Média.
Ao localizar a Idade Média na noite dos tempos, Comte não fazia outra coisa
que reproduzir o grande mito da Renascença: o famoso esquema tripartido através
do qual a história nos foi ensinada. Neste esquema, isto que nós chamamos de
razão, de pensamento racional, de racionalismo, teria habitado o mundo gregoromano
até o século V d.C, desaparecendo em seguida repentinamente por um
período de mil anos para somente reaparecer por volta do século XIV naquilo que é
conhecido sob o nome de Renascença. Encontra-se figurado neste esquema
tripartido do racionalismo: 1º) Razão: do séc. V a.C ao séc. IV d.C – Cultura gregoromana;
2º) Ignorância: do séc. V ao séc. XIV d.C – Idade Média; e finalmente, 3º)
Razão: a partir do séc. XV – Renascimento, (MURRAY, 2002). Nesta tripartição
histórica da Razão, a Idade Média aparece como uma espécie de miolo vazio e
sem conteúdo, algo como uma mancha negra na alvura do racionalismo ocidental.
No interregno de aproximadamente mil anos, localizado
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