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Jânio da Silva Quadros

Resenha: Jânio da Silva Quadros. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  21/9/2014  •  Resenha  •  3.712 Palavras (15 Páginas)  •  241 Visualizações

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Se Getúlio precisasse de notícias ruins para inaugurar seu terceiro ano de mandato, ele não teria que esperar muito. E todas de São Paulo. Logo no início do ano, o professor Francisco Cardoso, candidato do PTB à prefeitura de São Paulo, apoiado pelo governador Lucas Garcez e por Adhemar de Barros (apesar das evidências de que este tramava seu afastamento da base de apoio governista), é fragorosamente derrotado por Jânio Quadros, fato que prenunciava que seu prestígio no Estado mais rico da União se encontrava, no mínimo, abalado. A classe média, amedrontada pela situação de crise por que passava o país, com a possibilidade das autoridades monetárias perderem o controle do processo inflacionário, vota em peso no candidato do Partido Democrata Cristão, enquanto o operariado, absolutamente insatisfeito com suas condições de vida, vivendo na periferia, sem acesso ao mínimo que a dignidade humana exigia (água encanada, programas de saúde, saneamento básico etc.), se deixa seduzir pelo canto da demagogia, seu voto significando que a insatisfação popular desaguava em votos para quem lhes prometia um mar de rosas.

Jânio da Silva Quadros, professor de Português (e Geografia) no Colégio Dante Alighieri, surgiu para a política em 1947, quando se candidata a vereador e se elege, mesmo sem uma base política consistente. Atuando, desde o início de sua carreira, com dois discursos, um, moralizante, para a classe média, outro, eivado de promessas de propiciar melhores condições de vida para a crescente massa operária, tornando-se símbolo de um descontentamento que se entranhava em todas as classes, logo, nas eleições de outubro de 1950, se elege deputado estadual, após uma campanha que se poderia chamar, no mínimo, de espetacular.

Sua feroz retórica populista e demagógica, aliada à construção de um "tipo" físico que o aproximava do povão - olhos em fogo, dedo em riste, discurso inflamado que, na verdade, escondia um real programa de atuação, cabelos desalinhados, caspas cobrindo seus paletós, providencialmente de cores escuras, seus famosos sanduíches comidos entre um comício e outro, bem diante de seus ávidos seguidores -, o tornaram, em pouco tempo, um mito popular, para o qual seu slogan de campanha – O Tostão Contra o Milhão – passou a se constituir a sua mais completa tradução.

Jânio, ao longo das próximas décadas, viria a ser uma figura emblemática de um modo todo peculiar de se fazer política dirigida às massas, que obviamente tinha seu apelo, a se verificar sua longevidade política, que ultrapassou, inclusive, até o golpe militar de 1964.

Ao mesmo tempo, dando prosseguimento aos clamores populares que vinham acontecendo desde a segunda metade de 1952 - os inquietantes protestos da "Panela Vazia" - e para piorar ainda mais as coisas para o lado de Getúlio, logo após as eleições, São Paulo entra em ebulição, quando eclode uma das maiores greves jamais acontecidas no país, a famosa greve dos trezentos mil.

A temperatura social começou a esquentar já em março, quando os tecelões, em manifestação no centro da cidade, reunindo cerca de 8.000 profissionais, exigem 60% de aumento salarial, prontamente recusado pelo patronato. Apoiados pelo Partido Comunista, a essa altura em franca oposição a Getúlio, e pelo Sindicato dos Metalúrgicos, os trabalhadores ameaçavam com uma greve geral.

Os acontecimentos vêm então de roldão: já no início de abril, a greve atingia a maioria das categorias dos trabalhadores, ferroviários, gráficos, portuários, motoristas e outras mais. A coisa ficou feia mesmo quando, na praça João Mendes, após vários disparos, a polícia tomou de assalto o prédio que supostamente seria o quartel-general dos dirigentes comunistas, prendendo 31 pessoas também supostamente pertencentes aos quadros do partido.

A classe média entra em parafuso, enquanto a UDN e a grande imprensa, aproveitando o ensejo para solapar o governo getulista, abalam ainda mais a população, dando a entender que a greve seria apoiada não só pelos comunistas, mas que, também, teria a simpatia do próprio Getúlio, não obstante o governo ter adotado uma nova Lei de Segurança Nacional (promulgada em janeiro/53, com o pomposo título de "Lei sobre os crimes contra o Estado e a ordem política e social", segundo a qual, qualquer reunião - ou comício - realizada em praças públicas, sem a autorização da polícia, seria considerada ilegal, sendo seus participantes tratados como delinqüentes), exatamente para ser usada contra as greves.

E para se ter uma idéia de como a imprensa conservadora tratou da questão, basta citar como a revista Manchete, recém inaugurada, viu o movimento paredista: “Comunistas, punguistas e vadios agitam São Paulo.”

Os principais líderes do movimento foram ameaçados de ser enquadrados na nova lei, ao mesmo tempo em que começam as perseguições. A repressão começa a agir e centenas de trabalhadores e lideranças sindicais são presos, tiro que saía pela culatra, porquanto a greve não perdia fôlego. Por fim, os patrões tiveram que se curvar. Os trabalhadores, no conjunto, obtiveram 32% de aumento, percentual que atingiu 70% no caso da combativa categoria dos gráficos. Era a vitória das massas organizadas, despertando ódio e rancor nas correntes antigetulistas, com o previsível aumento no volume das críticas contra o governo, já enfraquecido com a ambigüidade de Adhemar de Barros e a perda de apoio de importantes segmentos do proletariado, com o conseqüente fortalecimento do Partido Comunista.

Por outro lado, a greve trouxe resultados maiores do que a simples questão dos aumentos salariais: primeiramente, permitiu o surgimento de novas lideranças sindicais, divididas entre os comunistas, os trabalhistas e, em São Paulo, o janismo. Além do mais, o Comitê Intersindical de Greve se manteve intacto mesmo terminado o movimento reivindicatório, desaguando, mais tarde, no que seria o Pacto de Unidade Intersindical, o qual, como conseqüência, iria parir, mais tarde, o temido Comando Geral dos Trabalhadores, pesadelo dos patrões e de seus aliados no congresso e na grande imprensa.

Também, como conseqüência da grande greve, Segadas Viana, substituto de Danton Coelho no Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, tornando-se peça dispensável por sua inabilidade, é destituído do cargo, sendo substituído por um jovem de 35 anos, gaúcho como Getúlio e de sua inteira confiança, chamado Jango Goulart, filho de ricos fazendeiros - ele próprio grande proprietário

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