Maria Adelaide Amaral
Resenha: Maria Adelaide Amaral. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: laais18 • 16/11/2014 • Resenha • 1.304 Palavras (6 Páginas) • 186 Visualizações
Maria Adelaide Amaral é jornalista, escritora e dramaturga. Nascida em Portugal, em 1942, veio para São Paulo aos 12 anos de idade, e em 1986 iniciou o curso de Ciências Sociais na USP, sem concluí-lo. Além de escrever novelas, Amaral adaptou as minisséries A Muralha (2000), de Dinah Silveira de Queiroz, Os Maias (2001), de Eça de Queiroz, e A casa das sete mulheres (2003), de Letícia Wierzchowski.
Embora o senso comum associe novela a coisa de mulher, a julgar pelas 56 séries brasileiras produzidas de 1982 a 2003, minissérie é coisa de homem, pois eles são a maioria dos autores e adaptadores. Dessas 56 minisséries, uma foi inspirada em filmes e 32 foram adaptadas da literatura. Um grupo de 39 homens e apenas nove mulheres ficou responsável por essas 32. As outras 23, com roteiros originais, foram escritas por trinta homens e doze mulheres – 5 delas absorvidas numa única produção. Nesse quadro se insere Amaral, que integra um conjunto restrito de mulheres escritoras e adaptadoras desse gênero, sendo a mais prolífica delas.
As minisséries foram criadas para substituir os filmes estrangeiros. A proposta da Rede Globo era investir na produção televisiva nacional a partir da adaptação de autores da literatura brasileira e da referência aos acontecimentos da história do Brasil. As discussões da Casa de Criação deram prioridade a minisséries sobre as fases marcantes da história do país nos seus primeiros cinco séculos. Sobre a escolha de A Muralha, Amaral destaca:
Imediatamente, o Dias disse: “O meu já está feito. É Vargas, século XX”. Lauro falou: “Eu tenho Castro Alves, século XIX”. Sérgio Marques: “Todo mundo sabe que eu quero fazer Chico Rei, século XVIII”. Ferreira Goulart: “Eu quero escrever sobre as invasões holandesas”. No final, Denise Saraceni e eu ficamos de fora. Daniel virou-se para mim e perguntou: “Bom, sobrou o século XVI para vocês. O que você vai fazer?”. Respondi que faria São Paulo. Mas foi um chute. Alguém perguntou: “O que é São Paulo no século XVI?”. Eu respondi: “A Muralha”. (FRIAS et al., s.p., 2006).
Para Amaral (FRIAS et al., 2006), o romance A Muralha é ufanista, fala da coragem e da valentia dos bandeirantes – extraordinários, segundo a autora. No entanto, ela salienta que os paulistas também foram predadores de índios, e que Silveira de Queiroz não abordou essa questão. Por isso, Amaral criou os personagens dos jesuítas, que catequizavam e aculturavam os índios, e a índia Moatira, que morreu de doença de branco.
Das cinco minisséries planejadas, A Muralha foi a única que chegou a ser feita, as demais foram vetadas. Amaral destaca: “Na hora, pensei: ‘Os últimos serão os primeiros’. Eu tinha ficado com o mico do século XVI e, de repente, a reviravolta!” (FRIAS et al., 2006). É pouco provável que a sorte tenha sido determinante na escolha de seu roteiro. Ainda mais se considerarmos que ela é uma das poucas mulheres que compõem o quadro de autores de minisséries.
Para Amaral, aquilo que o brasileiro é hoje, o que forma a sua identidade, já estava presente no tempo dos bandeirantes. Na ocasião do lançamento de A Muralha na TV, ela disse: “Gostaria de dizer ao público: ‘olha, isso somos nós’. Fico emocionada em poder passar essa mensagem” (RAÍZES…, 2007). De acordo com a autora, “As minisséries históricas são uma grande oportunidade de o Brasil conhecer o Brasil” (FRIAS et al., 2006).
Na série, os diálogos foram construídos a partir dos conflitos vividos por vários grupos: bandeirantes e índios; jesuítas e bandeirantes; jesuítas e índios; entre os próprios jesuítas; bandeirantes e Coroa portuguesa; e portugueses recém-chegados e colonos. O espanto e o estranhamento são atitudes que perpassam a apresentação dos personagens e o início da trama, que evidencia na edição das imagens a rusticidade das casas e a exuberância da natureza, os modos à mesa dos portugueses e a rudeza dos bandeirantes sujos, os padres de batina e as índias nuas. Um conflito muito enfatizado na trama televisiva, tal qual no livro, trata da desacomodação da portuguesa Beatriz (Leandra Leal) na nova terra, que estranha desde os bandeirantes sujos à postura e valentia das mulheres. Mas, neste artigo, o foco é apenas o conflito entre brancos e índios.
A destruição de uma aldeia abre a minissérie. As cenas são sangrentas e abordam a matança dos índios ou a sua escravização. Enquanto alguns nativos se banham alegres no rio e outros afiam arcos e conversam, os bandeirantes à espreita avançam, cercando a aldeia. O chefe da expedição diz à tropa: “Vamos propor a eles: Um espelho por dez índios” (A MURALHA, 2002, DVD 1). Outro bandeirante discorda da negociação e atira em um índio. O sangue jorra da cabeça dele. Assim, tem início o ataque dos bandeirantes e a destruição da aldeia. Muitos índios são mortos, e outros, aprisionados. A aldeia é incendiada, e os
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