O Brasil no contexto da guerra fria democracia, subdesenvolvimento e ideologia do planejamento (1946-1964) - Carlos Fico
Por: diulyano • 22/10/2015 • Artigo • 13.662 Palavras (55 Páginas) • 889 Visualizações
No. 585
A economia brasileira 1930-1964
Marcelo de Paiva Abreu
TEXTO PARA DISCUSSÃO
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
www.econ.puc-rio.br
1
A economia brasileira 1930-19641
Marcelo de Paiva Abreu2
Este capítulo abarca um longo período entre marcado por três golpes de estado. O
primeiro golpe, em 1930, determinou o fim da República Velha e o início de um período
de quinze anos de preeminência política de Getúlio Vargas, primeiro como chefe do
Governo Provisório, depois como presidente eleito indiretamente de acordo com as regras
da Constituição de 1934 e, finalmente, a partir de novembro de 1937, como ditador, à
frente do Estado Novo. Em 1945, em outro golpe, Vargas foi deposto, tendo início a
“Terceira República”. O terceiro golpe, em 1964, marcou o início da ditadura militar que
sobreviveria até meados da década de 1980.
O capítulo está dividido em duas partes. A primeira, que se estende até 1942, é marcada
pelas dificuldades acarretadas pelo grande choque da depressão mundial, pela retomada
após 1933, revertida com a crise norte-americana de 1937, e pelas dificuldades associadas
ao início da Segunda Guerra Mundial. Na esteira da crise aumentou consideravelmente o
peso do Estado na economia: continuou a intervenção na política cafeeira – embora
transferida do controle paulista para o controle do governo federal – e multiplicaram-se
as iniciativas estatais no domínio da economia, inicialmente com ênfase no terreno
normativo. Só a partir do final dos anos 1930 começa a ganhar corpo o Estado produtor
de bens e serviços, em muitos casos através de sociedades de economia mista das quais o
governo federal era acionista majoritário. A crise externa acarretou forte desvalorização
cambial que conjugada à modesta redução do nível de atividade, e ao controle de
importações em muitos momentos na década de 1930, gerou forte reorientação da
demanda em benefício de produtores domésticos em concorrência com importações. A
partir de 1930, ganhou raízes mais profundas, um modelo que já se podia vislumbrar em
versão mais branda na República Velha, calcado em intervenção estatal e alta proteção.
1 Versão preliminar de capítulo a ser incluído America Latina en la Historia Contemporánea. Volume V
Mirando hacia dentro, 1930-1960, patrocinado pela Fundación Mapfre.
2 Professor Titular, Departamento de Economia, PUC-Rio, e pesquisador I-A do CNPq-Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
2
Optar pelo término desta parte no final de 1942, em discrepância com a cronologia
política habitual, que escolheria 1945, é menos exótico do que poderia parecer à primeira
vista. A partir de 1942, a economia brasileira se expande continuamente até 1962 a uma
taxa anual da ordem de 7% , o melhor desempenho da economia até então.
A segunda parte do capítulo tem início em 1943, com o início do boom de crescimento
que caracterizou o período final da Segunda Guerra Mundial acompanhado de pressões
inflacionárias que se tornariam crônicas até o golpe militar e além. Na raiz do problema
inflacionário, ao final da guerra, estavam as restrições às importações combinadas ao
bom desempenho das exportações e à deterioração das contas públicas com o aumento
de despesas dos ministérios militares. A fragilidade das contas públicas permaneceria por
todo o período 1943-1964 em um quadro em que o governo só podia endividar-se através
de empréstimos compulsórios, pois estava impedido de oferecer rentabilidade de papéis
públicos superior aos 12% anuais fixados pela legislação sobre a usura. Outra restrição
econômica importante foi o medíocre desempenho das exportações brasileiras,
especialmente depois que começaram a cair os altos preços do café alcançados no início
da década de 1950. O pico das exportações alcançado em 1951 – US$ 1771 milhões – só
seria alcançado de novo em 1968. Embora o problema tenha sido parcialmente
contornado, na segunda metade da década de 1950, pela atração de investimento direto
estrangeiro, esta política não pode ser sustentada no início da década seguinte em vista da
deterioração do quadro macroeconômico.
No último ano do regime democrático sob a vigência plena da Constituição de 1946, em
1963, a economia enfrentou forte crise, com estagnação do nível de atividade e acelerada
deterioração das contas públicas e da inflação. Foi a primeira queda significativa da renda
per capita – da ordem de 2,4% – desde o início da década de 1940.
I. 1930-1942
3
1. 1930-1931
Em 1926, o Brasil
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