O Povo Brasileiro
Pesquisas Acadêmicas: O Povo Brasileiro. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Milaolisi • 30/6/2014 • 3.518 Palavras (15 Páginas) • 312 Visualizações
O POVO BRASILEIRO- DARCY VARGAS
Foi essa gente nossa, feita da carne de índios, alma de índios, de negros, de mulatos, que fundou esse país. Esse paisão formidável, a maior faixa de terra fértil do mundo, bombardeada pelo sol.
A invasão do Brasil: A revolução mercantil em Portugal e Espanha estimularam à procura por novas terras, onde extraíssem matéria-prima e riquezas. Tal expansão recebeu o apoio da Igreja Católica (1454), que via aí a oportunidade de expandir o catolicismo, tarefa que Deus teria dado ao homem branco. Portugal e Espanha “gastaram gente aos milhões”, “acabaram com florestas, desmontam morros a procura de minerais (estima-se que foram levados para Europa 3 milhões de quilates de diamantes e mil toneladas de ouro), “só a classe dirigente permanece a mesma, predisposta a manter o povo gemendo e produzindo ”, não o que os povos colonizados querem ou precisam, mas o que eles impõem à massa trabalhadora, que nem mesmo participa da prosperidade.
Para os índios aqueles homens brancos eram gente do Deus-Sol (o criador ou Maíra), mas esta visão se dissipa: “como o povo predileto sofre tantas privações?”, se referindo às doenças que os europeus lhe trouxeram –coqueluche, tuberculose e sarampo, para as quais não tinham anticorpos. Assim, muitos índios fogem para dentro da mata e outros passam a conviver com os seus novos senhores. Outros, deitavam em suas redes e se deixavam morrer ali. Aos olhos dos índios, por que aqueles oriundos do mar precisavam acumular todas as coisas? Temiam que as florestas fossem acabar? Em troca lhes davam machados, canivetes, espelhos, tesouras, etc. Se uma tribo tinha uma ferramenta, a tribo do lado fazia uma guerra pra tomá-la.
No ventre das mulheres indígenas começavam a surgir seres que não eram indígenas, meninas prenhadas pelos homens brancos – e meninos que sabiam que não eram índios... que não eram europeus. O europeu não aceitava como igual. O que eram? Brasilíndios, rejeitados pelo pai, europeu, filhos impuros desta terra, e pela mãe, índia. São também chamados de “mamelucos”, nome que os jesuítas deram aos árabes que tomavam crianças dos pais e as cuidavam em casa. Esses filhos das índias aprendem o nome das árvores, o nome dos bichos, dão nome a cada rio... Eles aprenderam, dominaram parcialmente uma sabedoria que os índios tinham composto em dez mil anos. Estes mamelucos eram caçadores de índios, para vender ou para serem seus escravos.
Para os europeus, os índios eram pecadores, manipulados pelos feiticeiros e demônios, preguiçosos, inúteis e o hábito do canibalismo mostrava quanto eram selvagens.
Somos um país racista, mas que respeita a identidade, pelo menos, à distância. Apesar da desproporção das contribuições, nenhuma etnia se autodefiniu como centro étnico. O conjunto é uno, uma etnia nacional, sem tensões entre raças, culturas e regiões. Há, sim, um brasileirismo arraigado: torcemos pela seleção tal como se houvesse uma guerra entre povos.
O antropólogo classifica o brasileiro a partir de 3 tipos diferentes de mestiços: caboclos (pai branco e mãe índia), mulatos (pai branco e mãe negra) e curibocas (pais negros e índios).
“A grande contribuição da cultura portuguesa aqui foi fazer o engenho de açúcar... movido por mão-deobra escrava. Por isso, começaram a trazer milhões de escravos da África. Metade morria na travessia, na brutalidade da chegada, de tristeza, mas milhões deles incorporaram-se ao Brasil”. O custo do tráfico de escravos nos 300 anos de escravidão foi de 160 milhões de libras-ouro, cerca de 50% do lucro obtido com a venda do ouro e do açúcar . Os escravos negros vinham para o Brasil e eram dispersados por esta terra, evitando que um mesmo povo (ou etnia) permanecesse unido. Embora, iguais na cor, falavam línguas diferentes, o que os força a aprender o português, o idioma do seu capataz. Em geral, aos 15 anos eram aprisionados como escravos, trocados por tabaco, aguardente e bugigangas, trabalhavam por 7 a 10 anos seguidos e morriam de cansaço físico. Sofria vigilância constante e punição atroz. Havia um castigo pedagógico preventivo, mas também mutilação de dedos, queimaduras, dentes quebrados, 300 chicotadas para matar ou 50 por dia, para sobreviver. Se fugia, era marcado a ferro em brasa, cortado um tendão, tinha uma bola de ferro amarrada ao pé ou então, era queimado vivo. Eles fizeram este país, construíram ele inteiro e sempre foram tratados como se fossem o carvão que você joga na fornalha e quando você precisa mais compra outro”.
“Todos nós somos carne da carne daqueles pretos e índios (torturados) e a mão possessa que os supliciou”... “A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida/ sofrida ”... Estima-se que em 3 séculos, o Brasil importou entre 4 a 13 milhões de africanos. Um em cada quatro, eram mulheres – “eram o luxo que se davam os senhores e os capatazes, as mucamas, que até se incorporavam à família (ex : Chica da Silva), como ama de leite. Chegavam a provocar ciúme nas senhoras brancas, que mandavam arrancar seus dentes.
Em 1823, em uma revolta em Pernambuco, organizada por barbeiros, boticários, alfaiates, artesãos, ferradores, etc, armados de trabucos, uma “multidão de gente livre e pobre” cantava assim: “marinheiros (portugueses) e caiados (brancos). Todos devem se acabar, porque os pardos e o pretos, o país hão de habitar”.
Quando da abolição, os negros saíam das fazendas, aliviados da brutalidade, dos castigos, à procura de terrenos para viverem e plantarem milho e mandioca, mas acabaram por cair na miséria, pois cada vez que se fixavam em um lugar, os fazendeiros se reuniam e os expulsavam, dizendo que toda a terra que existia já tinha dono. Após 1888, os abolidos, grupos de escravos famintos aceitavam trabalhar submissos às condições dos latifundiários (grandes proprietários de terras). Outros, seguiam para as cidades, ambiente menos hostil, para os já formados bairros africanos, onde encontrou negros já instalados e que viriam formar as futuras favelas.
Pergunta Darcy Ribeiro: por que alguns povos, mesmo pobres na etapa colônia, progrediram aceleradamente, integrando-se à revolução industrial, enquanto outros se atrasam? Os povos transplantados como os norte-americanos que vieram da Inglaterra, já se encontravam prontos, (diferente) dos povos novos, que vão se construindo lentamente, como o Brasil, com a mistura de índios, negros e brancos.
As classes sociais no Brasil lembram um funil invertido e não uma pirâmide, como em outros países. O Patronato, o Patriciado e o Estamento gerencial são as classes dominantes. O Patronato, empresários que exploram economicamente empregados, O
...