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Os Ecos da Folia (batalha sem cofente)

Por:   •  18/5/2019  •  Resenha  •  1.779 Palavras (8 Páginas)  •  220 Visualizações

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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Data: 09 de Outubro de 2015

Professor: Felipe Magalhães

Aluna: Laila Firmino de Oliveira  /   Matrícula: 201149544-8

Disciplina: Formação Histórica do Brasil II

Ecos da Folia

2. Batalhas sem Confete

Em ecos da folia, a autora realiza uma analise critica acerca da história do Carnaval carioca entre os anos de 1880 e 1920; no capítulo batalha sem confete ela (Maria Clementina) conta como se deu a batalha dos “civilizados” contra os “descivilizados”, das “luzes” contra as “trevas”, das Grandes Sociedades – a saber, a tríade carnavalesca da época: Democráticos, Tenentes do Diabo e Fenianos – contra, seu inimigo, o entrudo. Segundo a autora, tais sociedades se colocavam como baluartes da luta contra os entrudos e como a alternativa mais adequada para os jogos de Momo; buscavam através de suas praticas carnavalescas, que evocavam ao “carnaval europeu”, civilizar e educar a massa pobre e preta que durante os dias que se seguiam a folia no Rio de Janeiro, praticava, segundo tais sociedades, maus costumes como, por exemplo, a prática dos limões de cera – uma brincadeira que possuía muitos adeptos no carnaval carioca, mas que essas Grandes Sociedades recriminavam e lutavam contra.

De acordo com Maria Clementina, essas agremiações, Grandes Sociedades, faziam da luta contra o entrudo um motivo permanente de sua comunicação com o público e fora para isso que estas haviam surgido no contexto do Carnaval Carioca. Desde suas primeiras aparições no carnaval do Rio de Janeiro, o objetivo principal do discurso de tais sociedades era o extermínio do inimigo (entrudo), contudo, segundo a autora, foi a partir de 1880 que tal discurso assinalou uma ligeira mudança de postura, demonstrando a cristalização de uma atitude que separava de maneira radical o entrudo do que estas sociedades chamavam de “verdadeiro” carnaval e, seus comportamentos diante do inimigo em comum, trazia sentido e forma àquele antigo dito popular – o inimigo do meu inimigo é meu amigo:

Já em 1881 as três maiores e mais importantes sociedades (Tenentes do Diabo, Democráticos e Fenianos), a despeito de sua intensa e proverbial rivalidade, fizeram publicar na imprensa diária, ás vésperas do Carnaval, um comunicado conjunto [...] condenando o entrudo e apresentando-se como única alternativa legítima para os folguedos de Momo. O “progresso” carnavalesco já não aparecia como uma evolução natural, mas como algo a ser conquistado em um campo de batalha. Para eles, o crescimento do entrudo, verificado nos últimos anos, seria o aniquilamento completo do Carnaval [...]

                                                                  (PEREIRA CUNHA, 2001, P. 90)

A luta dessas Grandes Sociedades contra os chamados entrudos obtinha o apoio de intelectuais, literatos, jornalistas, políticos e autoridades, que, em sua maioria, eram sócios de uma das três Grandes Sociedades. Cronista da época escreviam notas enaltecendo os salões onde se davam os bailes dessas agremiações e em contra partida depreciavam publicamente os chamados bailes populares que ocorriam em teatros onde se vendiam ingressos a todos por um preço bem acessível e que, escreviam eles, eram lotados por “gente da pior espécie, barulhenta, cheirando mal, sem sabão e sem vergonha” (PEREIRA CUNHA, 2001, P. 92-93). Uma divisão entre a parte boa e parte má da brincadeira era uma das pretensões que tais sociedades consideravam necessárias; uma divisão onde ficasse claro que a parte boa, o carnaval “saudável” e “familiar”, era proporcionado por estas, e a parte má, o carnaval “bagunçado” e “descivilizado”, era uma característica dos entrudos; contudo a cisão do espaço público, que essas sociedades buscavam empreender, trazia a cena novos problemas e aumentava em muito as possibilidades de tensão, por isso, segundo a autora, a convivência das sociedades com as enormes multidões que elas mesmas atraiam foi sempre árdua. A tentativa de educar essa grande massa, por meio dos préstitos venezianos dessas Grandes Sociedades, deixava carnavalescos e intelectuais perplexos com as persistentes práticas populares do entrudo durante a passagem desses préstitos pelas apertadas ruas do Centro do Rio de Janeiro e durante os dias da folia carioca:

“De um lado, a mascarada luxuosa e organizada das sociedades, tentando impor a folia um padrão que relegava à condição de plateia a ‘pinha de povo’[...] de outro a ‘massa preta’ (e pobre) que se aglutinava em torno dos zé-pereiras e outras formas de batuque, apegada ás tradições da folia e incapaz de conformar-se ao papel passivo que lhe estava destinado.”

                                                                   (PEREIRA CUNHA, 2001, P. 97)

Essas sociedades buscavam, segundo a autora, com o apoio da imprensa, de literatos, intelectuais, e homens públicos da Corte, impor ao Carnaval um “programa”, que possuía um caráter extremadamente “civilizador”, para a dita “gente preta” das ruas e para as chamadas famílias parcamente educadas que, por muito pouco, retornavam aos antigos hábitos. Tal “programa”, chamado pela autora de pedagógico, pretendia não somente suplantar o entrudo, “fazê-lo cair no esquecimento em nome do progresso e da elegância de uma cultura europeizada e auto representada como superior ás tradições locais” (PEREIRA CUNHA, 2001, P. 98), mas pretendia também abolir com o chamado carnaval individual dos máscaras avulsos em detrimento de uma manifestação coletiva das “ideias” que de acordo com a autora, ganhava naquele três dias o privilegio de andar de carro, ou seja, o programa que essas sociedades procuravam levar a cabo era a substituição da forma individualista e anárquica do Carnaval do Rio de janeiro por uma forma organizada de se brincar o carnaval, intelectualizada e capitaneada do alto dos carros ou dos grandes salões dessas grandes sociedades e isenta das imoralidades populares.

As grandes sociedades contavam com o apoio e a simpatia quase que total das autoridades da época, das elites intelectuais e sociais e da imprensa, esta última sempre publicava notas engrandecendo essas agremiações; e para associar-se a algumas dessas, era necessário ser possuidor de uma boa renda e de irrepreensíveis condutas morais, estabelecidas em um código que cada uma dessas sociedades detinha. Tais sociedades ganharam bastante popularidade entre a massa e muitos tomavam partido de alguma sociedade, tornando-se verdadeiros torcedores, chagavam a brigar para defender sua favorita, um claro e acalorado entusiasmo penetrava por essa multidão. Seus carros, outrora conhecido como alegóricos, passaram a ser denominados carros de “ideias”, onde a simples alegoria carnavalesca cedia lugar ás críticas, após a Guerra do Paraguai, que amplificava aquela que fosse tida como a grande causa política do período e, ainda que defendessem ou que pretendessem falar pela causa da grande massa desordeira, em nenhuma hipótese os considerava como iguais; e umas das críticas que perdurou por algum tempo e que esteve presente nos préstitos das grandes sociedades foi à crítica a escravidão; “desde muito cedo, as sociedades carnavalescas associaram sua imagem à propaganda abolicionista, em um esforço que evidentemente ganhou corpo nessa década, para tornar-se uma verdadeira marca registrada dos préstitos e das atividades das agremiações” (PEREIRA CUNHA, 2001, P. 127). Segundo a autora todas as sociedades, com os meios do qual dispunham, se esmeravam em obter a liberdade de cativos e faziam disso uma bandeira ostensiva. Criticavam duramente a escravidão, o que acabou por desembocar em uma critica direta ao imperador e ao regime monárquico. Essa critica a escravidão e o apoio que davam a abolição, chamou a atenção da população, que era composta, sem sua maioria, por negros e imigrantes, o que, segundo a autora, pode ser uma das prováveis origens da simpatia com que as sociedades eram saudadas nas ruas e uma das raízes da popularidade dessas entre os negros.

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