Os lucros e crimes da ditadura militar no Brasil
Artigo: Os lucros e crimes da ditadura militar no Brasil. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Gizeletedyfranco • 29/6/2014 • Artigo • 1.691 Palavras (7 Páginas) • 396 Visualizações
Os lucros e os crimes da ditadura militar no Brasil 1964/1985 (por Milton Pomar)
Lucraram muito com a ditadura militar no Brasil, de diferentes formas, os que investiram para que ela acontecesse, via golpe militar de 1964, e consequente derrubada do presidente eleito João Goulart. Dela se beneficiaram o governo dos Estados Unidos (EUA), capitalistas de lá e de cá, latifundiários, e os generais e coronéis brasileiros, responsáveis pela implantação e manutenção dos 21 anos de Terror de Estado que sofremos no Brasil.
A ditadura militar brasileira cometeu vários crimes, que afetaram milhares de pessoas (inclusive muitos militares) através das atrocidades conhecidas, da censura à imprensa e às manifestações culturais, da repressão às atividades sindicais etc. Mas o principal, em quantidade de população atingida, foi que ela permitiu, aos capitalistas norte-americanos e brasileiros e os latifundiários, apropriarem-se legalmente do Estado para suas atividades, e, através dele, obterem lucros e patrimônios imensos, impedirem a Reforma Agrária, e manterem as classes trabalhadoras sob arrocho salarial, justo no período de extraordinário crescimento da economia.
O modelo brasileiro para a exploração capitalista era tão bom na época, que serviu de exemplo para os EUA em toda a América Latina: a partir do golpe de 64 no Brasil, promoveram uma sucessão de golpes militares em todos os países do continente. A propaganda anticomunista permanente, desde o final da 2ª Guerra Mundial, produziu efeitos sobre parte das populações desses países, que apoiaram os golpes militares no início, temendo tornarem-se vítimas de “ditaduras comunistas”, mas acabaram sob as ditaduras militares fascistas.
Ainda está por ser feito o levantamento completo dos ganhos das empresas norte-americanas no Brasil naquele período, tanto de indústrias, como de mineradoras. Os jornalistas Gerard Colby e Charlotte Dennett, autores de “Seja feita a vossa vontade – A conquista da Amazônia: Nélson Rockefeller e o Evangelismo na Idade do Petróleo” (Ed. Record, 1998), biografia do bilionário norte-americano de extrema-direita, mentor da criação da CIA e responsável por um sem-número de atrocidades na América do Sul, relatam no livro que ele chegou a ter participação em mais de 100 empresas no Brasil, e a maior fazenda de gado. E destacam o genocídio sofrido pelas populações indígenas na Amazônia, através de massacres, como o dos Cinta-Largas (1966), e de outras formas, inclusive biológicas. Roberto Gama e Silva, em “O Entreguismo dos Minerais – a quinta-coluna no setor mineral” (Ed. Tchê!, 1988) denuncia o que ocorreu no setor, a partir da ação dos EUA, desde 1952, quando Getúlio Vargas assinou Acordo Militar com o país. E Ariovaldo Umbelino de Oliveira apresenta os planos governamentais e ações dos governos militares na Amazônia, que propiciaram a sua ocupação e exploração capitalista, em larga escala, dos minerais e das florestas – hoje áreas devastadas, parte delas utilizadas para produção agrícola, em “Integrar para não entregar – Políticas Públicas e Amazônia” (Ed. Papirus, 1991).
Por isso, além de lutar para descobrir o que ocorreu com cada militante político desaparecido pela repressão, e pelo fim da impunidade dos criminosos da ditadura militar, nós temos que conseguir saber também, e divulgar amplamente, quem lucrou com a ditadura militar, quem dela se beneficiou com a utilização do Estado para seus negócios, em detrimento de dezenas de milhões de trabalhadores e trabalhadoras, cuja exploração no período foi tão grande, que levou o Brasil ao topo do ranking mundial dos países com maior concentração de renda.
Contradições dos defensores da ditadura
Um aspecto pouco citado da ditadura militar é o de não ter investido em ferrovia, como opção de transporte adequada às dimensões continentais do Brasil. Optaram pelo transporte rodoviário, causando com isso prejuízos imensos ao desenvolvimento brasileiro, nos últimos 40 anos, e reduzindo a competitividade das exportações do setor agrícola. Apesar desse verdadeiro crime para o desenvolvimento do Brasil, os latifundiários, que defendem e beneficiaram-se da ditadura, protestam contra os altos custos do transporte para escoar as safras, como se essa situação fosse responsabilidade do governo atual.
Outro crime, praticado em larga escala durante a ditadura militar, foi o da corrupção. Não havia fiscalização e raras eram as denúncias, naquela época, dos governos federal, estaduais e municipais: os parlamentares opositores ao regime temiam por suas vidas e de seus familiares; a imprensa estava censurada; os sindicatos fechados ou sob ameaça. A corrupção era feita pelos próprios generais e coronéis que estavam no comando da máquina de Estado; com a sua cumplicidade; ou, ao menos, com a sua conivência. Foi a época das grandes obras (Ponte Rio-Niterói, Ferrovia do Aço, Transamazônica, usina nuclear de Angra dos Reis), e das empreiteiras de construção pesada, que tornaram-se as maiores empresas do país em poucos anos, às custas de bilhões de dólares de dinheiro público. Foi a época também dos incentivos fiscais para a ocupação da Amazônia, mecanismo que legalizou a transferência em grande escala de recursos públicos para empresas, sob o pretexto de tornarem produtivas extensas áreas do Mato Grosso, Pará etc. Mais de 900 grandes empresas beneficiaram-se desse mecanismo legal, do Bradesco ao grupo Sílvio Santos, da Volkswagen à Varig. Áreas imensas foram desmatadas, e fazendas gigantescas foram formadas graças ao incentivo do governo militar para ocupação capitalista da Amazônia: apenas para citar dois exemplos, a fazenda Rio Cristalino, da Volks, tinha 142 mil hectares (ha); e a Suiá-Missú, da Liquigás (grupo italiano ENI, estatal), tinha 400 mil ha.
Pesquisa realizada pela equipe coordenada pelo jornalista Ricardo Bueno, resultou no livro “O ABC do Entreguismo no Brasil” (Ed. Vozes, 1981), com vários casos de “grandes negócios” favorecidos pela ditadura. Outro livro importante sobre essa temática é o de Francisco Oliveira “Viva a Corrupção – o escândalo BNCC/Centralsul” (Ed. Mercado Aberto, fev/85).
Esses outros crimes praticados pela ditadura militar, ou por quem dela se beneficiou, são desconhecidos da maioria da população brasileira, que nasceu depois de 1980. Muito do atraso que vivemos, até o início dos anos 2000, tem a ver com a sangria promovida pela ditadura e seus cúmplices capitalistas na Economia e no Estado do Brasil.
É importante registrar que já estão mortos, ou quase lá, a maior parte dos generais e coronéis que articularam
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