Proposição Da Arte
Artigo: Proposição Da Arte. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: felipelellis • 31/10/2012 • 9.614 Palavras (39 Páginas) • 1.597 Visualizações
A QUESTÃO DOS DETERMINANTES DOS
SALÁRIOS NAS TEORIAS CLÁSSICA,
MARXISTA E NEOCLÁSSICA
Silvia Horst Campos*
As questões da formação e da evolução dos salários e da estrutura salarial são um
tema indubitavelmente relevante da economia política. Constituem-se num objeto de
análise que se encontra em uma posição muito particular para explicar a inter-relação
dinâmica entre forças econômicas e fatores sócio-institucionais, ensejando discussões
que costumam extrapolar o campo puramente econômico, ampliando-se para o social
e o político.
Uma revisão da história da teoria dos salários conduz à evidência de que todas as
escolas de pensamento econômico possuem sua própria interpretação sobie a natureza
das leis de determinação dos salários, sendo que a nenhuma delas parece possível
atribuir a formação de um corpo teórico que, isoladamente, desse conta, de uma maneira
plenamente satisfatória, do problema.' O peso de suas contribuições ao tema é bastante
distinto, e as controvérsias surgem devido às diferentes interpretações quanto aos
determinantes dos salários e da sua distribuição.
Nesse sentido, observa-se que, historicamente, as questões que preocuparam os
economistas e pensadores com relação à teoria dos salários não têm sido sempre as
mesmas. Conforme argumenta Dunlop (1957, p.3-4), a teoria dos salários preponderante em um determinado período deve ser interpretada como um produto de vários
fatores: a) a teoria econômica dominante na época; b) as instituições fixadoras de
salários; c) o debate sobre as questões de política econômica; e d) o estágio de
desenvolvimento econômico e seus efeitos sobre a evolução dos salários reais. Ainda
* Economista da EEE.
A autora agradece os comentários e sugestões do Professor Roberto Camps de Moraes à versão
preliminar deste artigo. Os eventuais equívocos remanescentes são, obviamente, de exclusiva responsabilidade da autora.
A necessidade de elaborar as teorias de salários freqüentemente com elevados níveis de abstração do
mundo real, esboçando apenas "(...) os contornos gerais das características mais óbvias na base de um
conhecimento genérico, ou na base de deduções sobre a forma geral que têm as coisas" (Dobb, 1977,
p.95), limita a sua aplicação a lugares diferentes ou a períodos posteriores a mudanças dé situação e
constelação de forças vigentes. A contribuição clássica
o período coberto pelos clássicos estende-se desde a publicação de A Riqueza das
Nações de Adam Smith, em 1776, até o final do século XIX, sendo Smith, Ricardo,
Malthus e Mill os autores mais representativos tanto nas questões relativas aos salários,
quanto no que respeita a outros temas de interesse na análise econômica.
Na visão de Dunlop (19.57, p.5), a teoria clássica dos salários foi assim desenvolvida:
"O uso da terra segundo a teoria da renda não é um fator no processo de
fixação de preços, e o problema da distribuição transforma-se na divisão
entre o capital e o trabalho. O montante de capital usado é assumido como
proporcional ao montante de trabalho e, em conseqüência, os preços dos
produtos são proporcionais ao montante de trabalho empregado na sua
produção. O capital deixa de ser visto como um fator de proílução independente. Então todos os tipos e graus de trabalho são reduzidos a múltiplos do
'trabalho normal', de forma que a análise se concentra numa taxa de salários
única".
na sua opinião, o adequado entendimento das discussões passadas sobre salários só se
viabiliza mediante a reconstituição desses aspectos do contexto de cada época.
Com base nessas considerações, surge então uma primeira forma de efetaar uma
revisão bibliográfica retrospectiva das teorias de determinação dos salários, qual seja,
a divisão em três grandes períodos: a) o clássico, predominante no século XVIII;
b) o neoclássico "tradicional", que se estendeu até o início da década de 30; e c) o período pós-Grande Depressão. Pode-se afirmar que, de um modo geral, essa é a forma
de abordagem mais freqüentemente utilizada pelos estudiosos do tema.
Uma outra maneira de encaminhar a questão reveste-se de um caráter mais
interpretativo, partindo de "duas vertentes explicativas básicas" (Souza, 1980, p.9~10).
A primeira refere-se à teoria convencional dos salários que tem sua essência na escolha
individual das pessoas, enfatizando os aspectos de oferta e demanda de mão-de-obra,
e cuja expressão mais acabada é a escola neoclássica. A segunda fundamenta-se na
análise do papel do sistema econômico na determinação de uma taxa de salários que
permita a reprodução da força de trabalho e a acumulação de capital, inserindo-se na
tradição da escola
...