Resenha "Entre o Mundo e Eu" de Ta-Nehisi Coates
Por: Julia Pontes • 25/9/2016 • Resenha • 425 Palavras (2 Páginas) • 490 Visualizações
“Entre o Mundo e Eu” de Ta-Nehisi Coates é uma carta escrita de pai para filho, repleta de relatos e alertas de como é nascer e viver negro em uma América racista
A sociedade norte-americana transmite a ideia do “American Dream”, onde todos vivem em uma terra de liberdade, onde qualquer pessoa pode realizar seu sonho, se tornar o que quiser e ser um indivíduo bem sucedido, o “sonho americano” seria sonho pra quem? O sonho americano foi construído em cima de pessoas trazidas da África para serem exploradas, a terra das oportunidades e o sonho esmagam e flagelam o corpo negro.
Durante a carta e seus relatos, o autor ressalta questão da fragilidade do corpo negro, como qualquer movimento impensado e brusco, poderia ser considerado motivo para o flagelo do mesmo pelas instituições, como sempre se preocupava em agir da forma correta, em andar da forma correta e em falar da forma correta, como se houvesse uma forma correta de acordo com uma sociedade que impõe determinadas regras para a juventude negra.
O autor traz a observação de que o corpo negro é considerado apenas um objeto, um objeto pra ser usado como mão de obra, um objeto de hiperssexualização, vide as mulheres negras em vídeos musicais.
“Deve sempre se lembrar de que a sociologia, a história, a economia, os gráficos, as tabelas, as regressões, tudo isso acabará atingindo, com grande violência, o corpo.” página 21
A culpa seria totalmente dessas instituições ou elas apenas cumprem a demanda de uma sociedade racista? De acordo com o autor, as instituições, como por exemplo, a polícia, massacram a população negra porque a sociedade permite e acha moralmente correto que o faça, o policial que mata uma pessoa negra sabe que a punição será branda ou que nem haverá punição.
Ta-Nehisi é americano e baseia seus relatos de vivência na sociedade norte-americana, mas lendo o seu livro não foi difícil lembrar do racismo no Brasil, que é velado, muitas vezes disfarçado de “opinião”.
De acordo com o resultado de uma CPI que apurou o Assassinato de Jovens, a cada 23 minutos morre um jovem negro no Brasil, como exemplos temos Eduardo de Jesus, garoto de 10 anos morto em 2015 por policias no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, Édson Rogério Silva dos Santos, gari assassinado em 2006, em Santos, e muitas outras vítimas da violência institucional que serve como aparato ideológico, vítimas que ainda esperam a justiça chegar aos seus algozes e que já foram esquecidas pela grande mídia.
“A carne mais barata do mercado é a carne negra!” – Elza Soares.
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