Resenha do livro: Sexo Proibido de Luiz Mott
Por: Andrew Kian △ • 11/5/2017 • Resenha • 1.645 Palavras (7 Páginas) • 941 Visualizações
MOTT, Luiz R.B. O sexo proibido: escravos gays e virgens nas garras da Inquisição. Campinas, São Paulo: Papirus, 1988. 189p.
Luiz Roberto de Barros Mott, é brasileiro paulistano, possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1968), mestrado em Etnologia pela Universite de Paris IV (Paris-Sorbonne) (1971), doutorado em Antropologia pela Universidade Estadual de Campinas (1975). Atualmente é professor titular aposentado da Universidade Federal da Bahia. Tem experiência na área de Antropologia e História, com ênfase em Antropologia das Populações Afro-Brasileiras e História das Religiões, atuando principalmente nos seguintes temas: inquisição, homossexualidade, aids, homofobia e direitos humanos.[1]
Neste livro o professor Luiz Mott trata de “desejos não-nomeados”,
nesse campo dos desejos ocupam fundamentais lugares a sexualidade e a religião, principalmente no Brasil tridentino, espaço da recusa do desejo, do prazer e do sexo, mas ao mesmo tempo expressões de sua vitalidade, pujança e exercício sob formas não-oficializadas. (APARECIDO, 1989, p.7)[2]
A sua pesquisa está voltada para “a escravidão, o sexo cativo, o pecado, o medo do inferno e o ardente apelo do corpo os arquétipos da Virgem Maria e outros assuntos. ” (APARECIDO, 1989, p.8). Mott tem como fonte de pesquisa a documentação inquisitorial que está disponível no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Na introdução de sua obra, Mott apresenta a Inquisição como um tribunal que não deixava hereges, judeus, feiticeiras e satanistas escaparem das fogueiras do Autos-de-Fé. Além disso, “os Inquisidores também perseguiram alguns desvios sexuais, ente eles a sodomia, a bigamia e a solicitação a atos luxuriosos feita pelos sacerdotes no confessionário. [...] crimes merecedores de castigos e torturas do Santo Tribunal. ” (MOTT, 1988, p.10)
O livro é dividido em três capítulos, cada capítulo apresenta uma temática diferente — o primeiro estar voltado para os comportamentos e práticas sexuais dos negros, o segundo relata a biografia de Luiz Delgado, através dos processos inquisitoriais de Delgado do Santo Ofício e o terceiro, para a representação e ação da teologia do judaico-cristão no Brasil colonial — ambas ligadas de certa forma, pois decorrem no período colonial do Brasil.
O primeiro capítulo apresenta os códigos morais e sexuais e, culturas das diversas tribos da África Ocidental. Além dos “principais aspectos da vida sexual dos africanos e seus descendentes no Brasil durante o tempo da escravidão. ” (MOTT, 1988, p.8). Segundo o autor, uma das principais prática mais comum nas sociedades da África é a poligamia e a poligínica. Nestas sociedades havia “ritos de iniciação com mutilação sexual: circuncisão, clitoridectomia ... (além disso) ... o adultério, homossexualidade, masturbação, divórcio e prostituição, são algumas das variáveis da conduta sexual destas diferentes tribos ...”. (MOTT, 1988, p.30)
Ao decorre, Mott aponta a falta de mulheres negras e analisa as relações e práticas realizadas por esses negros, como: masturbação, bestialismo e homossexualidade. Em relação a masturbação, Luiz Mott refere-se como uma prática muito comum entre negros e negras. Segundo ele a homossexualidade tinha predominância entre brancos e negros, também afirma que muitos negros já chegavam no Novo Mundo bem resolvidos em relação a sua orientação sexual.
Ao longo da leitura se pode perceber que houveram muitos senhores branco que abusavam de seu poder para obrigar os negros e negras a cometerem o “pecado nefando[3]”. Além desses atos, Mott retrata negros e negras que disseram ter tido relações sexuais com o Diabo, de acordo com eles, o tentador aparecia como mulher e em outros momentos com homem, assim esses indivíduos fizeram relações heterossexuais como também homossexuais.
No segundo capitulo, o professor apresenta o Luiz Delgado, informa que Delgado era sodomita, que foi denunciado pela primeira vez a Inquisição, quando estava preso em Évora, por ter cometido furtos. Na denúncia consta que ele teria relações com seu futuro cunhado, o Brás Nunes, enquanto Brás o visitava na prisão. Ambos são levados aos cárceres inquisitoriais, suspeitos de terem praticado sodomia. Em 1665, Luiz Delgado é interrogado pelos Inquisidores, nega ter praticado o ato de sodomia, alegando ter cometido “a cópula femural e masturbação[4]”, “o Santo Ofício somente castigava a “sodomia perfeita”, isto é, penetração e ejaculação dentro do ânus”. (MOTT, 1988, p.78). Quando Brás é interrogado nega ter cometido qualquer relação sexual. Quanto as sentenças, Brás Nunes foi degradado por três anos de Évora, já o Luiz Delgado “foi degradado por três anos para Bragança, ..., ficando proibido de nos 8 anos seguintes entrar no terreno de Évora. ” (MOTT, 1988, p.81). Mott relata que Luiz Delgado viera para o Brasil, no início da década de 70, no Brasil ele se envolve em diversas relações homoeróticas, por causa disso ele transita entre Bahia e Rio de Janeiro, sempre fugindo da justiça. O certo é que em 1889, ele será preso e deportado para Lisboa, junto com Doroteu Atunes, um de seus casos. Por ser o penetrado[5], Doroteu “teve castigo bastante leve: não foi torturado nem acoitado, e seu degredo foi por apenas 3 anos para Castro Mearim, no Algrave. ” (MOTT, 1988, p.81). Quanto a Luiz, permaneceu por mais três anos preso à mercê das torturas inquisitoriais. Delgado com quase 50 anos, como não foi comprovado que ele cometera “sodomia perfeita”, novamente escapa do Auto-de-Fé “tendo sua sentença lida na sala do Santo Ofício, sendo degradado por 10 anos para Angola”. (MOTT, 1988, p.117)
Após Luiz Mott escrever como acabou o julgamento de Delgado, ele expõe motivos pelos quais a homossexualidade era malvista naquela época, levantando “a hipótese de que a intolerância à sodomia se devia mais ao fato de ser conduta perturbadora da hierarquia social do que repulsa a uma prática sexual pecaminosa; ...” (MOTT, 1988, p.117),
No terceiro capitulo, Mott o divide em três partes. Na introdução do mesmo expõe que: “ o dogma da pureza virginal de Nossa Senhora continua tema dos mais sacrossantos do catolicismo, verdadeiro tabu, que vale dizer, intocável e imutável. ” (MOTT, 1988, p.132)
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