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Roteiro Da Peça Divina Comedia

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Por:   •  27/3/2015  •  3.711 Palavras (15 Páginas)  •  10.124 Visualizações

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A DIVINA COMÉDIA - Dante Aliguieri

Argumento: Dante Aliguieri à procura de Beatriz, desce ao Inferno, ao Purgatório, encontrando-a finalmente no Paraíso.

Personagens:

Dante Aliguieri

Virgílio

Beatriz

Fúria

Farinata

Demônio 1

Frade

Lúcifer

Catão de Útica

Alma (Casella)

Luzia

Anjo

Oderisco

Alma 1

Alma 2

Alma (Estácio)

Matilde

Entra Dante. Diante dele há uma mesinha com pergaminho e pena para escrever.

Voz

(Dramática) Dante, a tua Beatriz acaba de morrer!

Dante

(Se desespera) A minha amada, minha doce Beatriz! Não pode ser! (Entra uma música suave e uma luz rosa o envolve) Mas... O que é isto? Só pode ser ela! (Como num delírio ou visão) Subindo aos céus , levada por anjos, linda e cheia de alegria, mais ainda do que em vida! Só pode ser ela, tal qual a conheci! Desapareceu! Onde está você, Beatriz?

Vê a mesa e se assenta..

Dante

Onde está você? Onde procurar você, Beatriz? Onde encontrar o caminho?

( Com decisão) Sei apenas que irei percorrer todos, por mais tenebrosos que sejam, por mais dolorosos que possam ser. A visão que acabo de Ter é a minha esperança! Ei de encontrar você, minha Beatriz! Um dia, ei de te ver de novo!

Então Dante começa escrever como se estivesse em um sonho

(Tomando a pena escreve com sofreguidão) O dia é... 7 de abril, o ano ...1300....,uma quinta feira santa. Estou sozinho e caminho de cabeça baixa e com um único pensamento: ela, a minha Beatriz. Como num sonho perco o meu rumo e entro numa selva densa e assustadora...

Dante

(procurando na escuridão) Onde estou? Meu Deus, uma trilha ao menos! Um raio de sol! Já deve ser quase noite... logo não verei nada! Tenho que continuar, não posso parar agora! (Tropeçando em galhos e ferindo a si próprio) Ai, meus pés, ai!! ( Ferindo rosto e mãos) No rosto não! Nos olhos, não! Aii!! ( Salta, tenta correr com obstinação) Continuar, continuar, sair desta floresta! Eu vou conseguir, eu vou conseguir! Aii! ( Cai desfalecido)

Luz da aurora, Dante recobra os sentidos. Está fora da floresta e diante de si há uma alta colina.

Dante

Uma luz... É a aurora, é outro dia! Eu estou vendo a luz do dia! Não estou cego! E a floresta, onde? ( Olhando para trás) Ah, está logo ali ! Graças a Deus ficou para trás!

Entram uma pantera, um leão e uma loba, todos com aspecto faminto.

Dante

O que é isto, são três feras, e avançam para mim! Estão famintos! ( Volta para a floresta e as feras o acompanham) Socorro! Alguém está aí? Socorro!

Entra Virgílio, um vulto, e caminha na direção de Dante.

Dante

( Esfregando os olhos) Vem vindo alguém, ou eu estou sonhando? Que estranho, não parece de carne e osso. Um vulto, uma sombra? Não posso deixa-lo ir embora! ( Grita) Seja quem for que vem, me ajude!

Virgílio

( Com voz sem entoação humana)

Homem fui, já não o sou agora. Empunhei a lira e cantei as proezas de Enéias, filho de Vênus...

Dante

( Com grande alegria) Virgílio, o grande poeta romano! Mestre de toda a minha vida! Só conheci a tua obra, agora posso te conhecer em pessoa. Que alegria, que alegria! ( Com ansiedade) você meu guia através do bosque!

Virgílio

É preciso que tomes outra direção, se quiseres sair deste bosque. Essas feras não permitirão que ninguém chegue ao alto desta colina. Destroçarão aquele que tentar passar. Se quiseres me acompanhar, seguiremos por um caminho que nos levará para o mundo dos espíritos. Conhecerás o inferno onde vivem os que, na terra, cometeram erros. Logo alcançarás o Monte da Purificação chamado Purgatório. Dali prosseguirás tua viagem, mas não comigo.

Dante

Quem, então, mestre?

Virgílio

Beatriz.

Dante

(Com alegria) Beatriz! Ela vive?

Virgílio

Beatriz vive... num reino... você saberá onde.

Dante

Virgílio, como você me encontrou... quem te enviou a mim?

Virgílio

Beatriz me pediu, me implorou, para que eu viesse em teu socorro.

Dante

(Com reverência) Poeta, inicia a tua peregrinação! Com o coração agradecido, te acompanharei!

Iniciam a caminhada. Dante segue atrás de Virgílio. Demonstra dificuldade e de repente cai.

Virgílio esperando Dante acordar após seu desmaio lembra-se de Beatriz pedindo a ele que guiasse Dante ate ela.

Beatriz

( Com emoção) peço que salves Dante, poeta Florentino que acha-se perdido. Sou Beatriz e a ti confio uma missão: mostrar a Dante o reino das trevas e a montanha da purificação.

Virgílio

(Para Beatriz) Mas, senhora, não haverá outro caminho, menos triste, menos torturoso...

Beatriz

É absolutamente necessário que ele vá até o último círculo do reino das trevas, que conheça as dores das almas que penam em cada círculo.

Virgílio

É muito sofrimento, não sei se ele irá suportar...

Beatriz

Grande poeta, não temas por Dante. Eu cuido de sua alma à muito tempo, desde quando o conheci na terra. Eu amo Dante, sempre o amei. Mas, como tantos homens, Dante cometeu erros. Para que eu possa reencontrá-lo só há um lugar, e este lugar é o paraíso onde eu habito. E lá ele só poderá chegar depois de terminar esta viagem. Por isso eu peço que o acompanhes. Isto me encherá de alegria.

Virgílio

(Caindo de joelhos) Senhora, perdoe-me se duvidei...

Beatriz

Levante-se Virgílio! Sei que o que te impede de acompanhar Dante nesta peregrinação é apenas o teu coração cheio de compaixão. Mas saiba que , invisível, eu estarei ao teu lado, também te protegendo dos perigos que terão que enfrentar. Saiba também que me lembrarei de ti quando estiver junto ao Criador.

Virgílio

Senhora... obrigado!

Beatriz

Adeus, Virgílio! Hoje é Quinta Feira Santa. Se apressares, no Domingo de ressurreição poderão estar comigo no... Paraíso!

Beatriz sai de cena... Então Dante acorda de seu desmaio.

Virgílio

É preciso coragem , Dante! Se quiser vir comigo, terás de decidir agora.

Dante

(Com decisão) Vamos!

Dante e Virgílio caminham ate a porta do inferno.

Virgílio

Chegamos ao sombrio lugar de que te falei, onde se encontram os que cometeram erros. Esta é a porta do Inferno. (Vendo Dante estremecer) Vence o teu medo! Não há aqui lugar para a fraqueza.

Atravessam a porta. Som de suspiros, gemidos, prantos misturados a gritos e palavrões, nas mais diversas línguas. Profusão de espíritos encaminham-se para uma mesma direção. Os dois poetas apressam o passo entre a multidão e chegam às margens de um rio.

Dante

Um rio?

Virgílio

Apressa-te, temos que embarcar!

Atravessam o rio. Na outra margem um formidável trovão os sacode.

Virgílio

Aqui é o Limbo. Esta é a minha casa.

Dante

Você vive aqui? Por que?

Virgílio

Sim ,Porque sou pagão.

Dante

Pagão?!

Virgílio

Isso este é o primeiro círculo onde vive as almas que não foram batizadas o único onde sopra um vento ameno. Oito círculos nos esperam neste abismo sem fim. Temos de prosseguir.

Virgílio e Dante prosseguem, sempre descendo o abismo.

Então eles chegam ao segundo circulo.

Virgílio

Neste segundo circulo estão os que pecaram por causa da luxúria : Cleópatra, Helena de Tróia, entre outras...

Dante

Espanta-me ver grandes almas nestes locais medonhos.

Virgílio

Pois é, são pagãos iguais a mim que cometeram erros na terra. Vamos continuar nosso caminho.

Já no terceiro circulo.

Dante

( Sentindo náuseas) Este cheiro... é horrível! Quem são eles?

Virgílio

Neste círculo estão os condenados pela gula. Ou afundam na lama mal cheirosa ou são estraçalhados pelo Cérbero o cão de três cabeças.

Virgílio

Vamos embora, amigo, desçamos ao quarto círculo onde ficam os amantes do dinheiro ! Por aqui, contornemos esta enorme pedra!

Dante

O dinheiro... A eterna competição por causa de dinheiro!

Virgílio

( Puxando Dante) Vamos, o tempo urge!

Chegando no quinto circulo, entram espíritos que avançam uns nos outros, ferindo-se com unhadas e dentadas.(personagens brigando )

Dante

Que horror, mestre, isto é apavorante! Aqui ficam as almas furiosas, certo?!

Virgílio

Sim, venha por aqui, cuidado com eles, pois podem te ferir. Olha em frente, na curva da montanha!

Dante

O que é aquilo? Uma cidade?

Virgílio

É Dite! Por ela se entra no sexto círculo do inferno onde vive os incrédulos. Vamos! (Contornam a lagoa). Mas as portas estão... Cerradas!

De uma das torres surge entre labaredas uma mulher de aspecto terrível, envoltas por serpentes e, como se fossem cabelos, uma infinidade de víboras.

Virgílio

( Tampando os olhos de Dante) Cuidado, não olhe para cima. É medusa! A Fúria!

Fúria- medusa

Quem é este que se atreve a entrar no reino dos mortos, ainda com vida? .Que olhe para mim esse que teve a audácia de aqui entrar, antes de chegar a sua hora de morrer ! Vamos, mortal, olhe para cima!

Virgílio

Não, não olhe, Dante, pelo amor de Deus!

Som ensurdecedor. Entra um anjo e, sem dizer palavra toca com uma varinha uma das portas da cidade. Sai em seguida . As fúrias saem praguejando. A porta se abre. Dante e Virgílio entram. No lugar de cidade há um vasto cemitério com túmulos separados por um rio de labaredas. De dentro dos túmulos ouvem-se gemidos. Um deles chama Dante.

Farinata

Dante Aliguieri, sou eu, Farinata!

Dante

( Reconhecendo Farinata) Farinata, o guerreiro destemido de Florença!

Farinata

Eu defendi Florença, e agora aqui estou! É uma injustiça!

Dante

Era a guerra e...

Virgílio

( Com firmeza) Este matou inúmeras pessoas em nome da guerra!

Farinata

Eu apenas cumpria ordens!

Virgílio

Vamos, Dante! Agora terás que provar tua coragem!

Sai Farinata, os dois poetas continuam a caminhada. Chegam no sétimo circulo onde ficam os violentos, no alto de uma íngreme montanha...

Chegam à beira de um abismo. Virgílio lança uma corda que trazia na cintura e logo um monstro alado sobe das trevas, agitando o enorme rabo.

Virgílio

( Subindo nas costas do monstro diz palavras no seu ouvido) Venha, Dante!

Dante

Mas... mestre...

Virgílio

Se for valente, suba, pois este é o único meio de descermos ao fundo do abismo. Este é Gérion. Vem!

Dante monta em Gérion e descem. No fundo do abismo, ao lado de um grande rochedo Gérion livra-se de sua carga e some velozmente.

Dante

( Exausto) Mestre, ainda há muito a percorrer?

Virgílio

Dois círculos mais e sairemos deste inferno.

Dante

Nunca pensei que pudesse haver um lugar tão fundo, tão estreito...

Virgílio

Chamam este lugar “ Poço maldito”.

Dante

( Com medo e compaixão)E o que fez na terra uma alma para vir parar aqui?

Virgílio

Neste oitavo círculo penam os ladrões e os hipócritas.

Dante

E no último, mestre, quem sofre o pior castigo?

Virgílio

Os traidores. Com esses vive eternamente... o rei deste lugar.

Dante

Lúcifer...

Virgílio

Sim, meu caro amigo, você irá vê-lo de perto... Vamos, por aqui!

Entra um enorme caldeirão de onde sai uma grossa fumaça. Grito aflito e prolongado. Entra um demônio com enorme tridente onde está espetada uma alma. Joga-a no caldeirão e volta para buscar outra.

Virgílio

( Apontando uma pedra) Esconda-se aqui. Eu vou falar com ele.

Virgílio se encaminha para o demônio que vibram seus tridentes em sua direção.

Virgílio

Alto lá! Quero conversar com quem chefia vocês!

Virgílio confabula com um deles que faz um sinal para os outros.

Virgílio

Venha, Dante!

Dante sai de seu esconderijo mas é barrado por um demônio.

Demônio 1

Vou fura-lo seu mero mortal hahaha !!!

Avança com seu tridente para Dante que quase desmaia. Mas Virgílio o interrompe e o demônio sai de cena xingando.

Dante

Não tenho mais forças... Desculpe, mestre...

Virgílio toma-o nos braços e vão pelo desfiladeiro rumo ao oitavo circulo

Dante

Estes... parecem os frades de Florença!

Virgílio

Aqui estão os mentirosos, os hipócritas.

Frade

( Para Dante) O poeta florentino, Dante Aliguieri?

Dante

Sim.

Frade

Lembra de mim?

Dante

É claro, frade. Em Florença o senhor estava sempre a proteger viúvas e órfãos.

Frade

Ai de mim! Quem me dera estivesse apenas protegendo. Eu estava, como todos aqui... Apropriando de tudo o que eles possuíam. Em nome de... ( Tenta continuar, mas é empurrado e volta para a procissão)... personagens empurrando o frade...

Os frades se afastam e Dante e Virgílio continuam descendo.

Dante

Aonde estamos ??

Virgílio

No lago gelado, ultimo circulo. Nele, almas submersas e tremendo de medo tentam se esconder de Lúcifer.

Entra Lúcifer , descomunal, com suas asas de morcego. Dante e virgilio escondidos.

Lúcifer

Aqui está ele, Judas! Seu verme! Vou arrancá-lo em pedaços! ( Estraçalha Judas que, gritando se recompõe logo em seguida) Volta a ser Judas, seu imundo, só para eu te estraçalhar de novo! Estraçalhar, estraçalhar!!

Dante

( Chorando e quase desmaiando) Pelo amor de Deus, vamos embora!

Virgílio

( Abraçando Dante) Meu amigo, está quase! Reúna suas forças para sair daqui.

Dante

Como?

Virgílio

Há uma saída! Só uma!

Dante

Onde?

Virgílio

Passar por Lúcifer.

Dante

O que!?

Virgílio

É a única saída!

Dante

Ele vai nos estraçalhar!

Virgílio

Estamos no fim, Dante, é aqui o fim do inferno. A saída é só esta. É uma prova de coragem.

Dante

Eu não tenho coragem, mestre.

Virgílio

Preferes então ficar aqui, para sempre...

Dante

Não!! Mas sou um fraco, sou um...homem...

Virgílio

( Com carinho)Eu te compreendo. Mas, agarre-se a mim, eu irei à frente.

Dante

( Com decisão) Vamos!

Dante agarra-se em Virgílio que, resoluto, passa por Lúcifer fazendo um pequeno barulho.

Lúcifer

Quem ousa !? Onde está? ( Procura, mas não descobre ninguém) Quem ousa? Eu estraçalho! Eu estraçalho!

Black out. Virgílio e Dante, estão prostrados na saída de uma gruta. Últimas estrelas se apagam. Alvorecer. Céu azul e mar tranqüilo. Eles se levantam e por um tempo contemplam a paisagem. Entra Catão de Utica, um velho de longas barbas.

Catão de Utica

( Confiando as barbas) Quem sois vós? ( Apontando a caverna) Como conseguistes sair da eterna prisão?

Virgílio

(Ajoelhando-se e sinalizando para Dante fazer o mesmo) Cumpro o mandato de uma dama que habita o céu. Pediu-me ela que viesse prestar auxílio a este companheiro. Mostrei-lhe já todo o inferno maldito e espero revelar-lhe os espíritos que aqui habitam. Peço, portanto, que nos permitas entrar nos sete círculos da montanha que guardas.

Catão de Utica

Se obedeces a uma dama celeste, por mim serás atendido. Ide pois, mas antes cinge à cintura de teu protegido um desses juncos flexíveis que nascem ali pertinho e lava-lhe o rosto, para que se dissipem os vestígios das lágrimas e da fumaça que macularam o seu semblante durante sua passagem pelo Inferno. Tomais por guia o sol. Adeus.

Catão some e Virgílio lava o rosto de Dante com o orvalho das ervas. Em seguida arranca a vara de junco – outra nasce imediatamente – e amarra na cintura de Dante.

Dante

Que alívio! Por que esta alegria assim de repente? Será esta varinha de junco?

Virgílio

( Sorrindo) Talvez, talvez...

Um ponto luminoso avança no céu. Dante olha para Virgílio com ar interrogativo. Este porém tem os olhos fixos na luz. A luz se aproxima, cada vez mais brilhante.

Virgílio

( Para Dante) Ajoelha-te! É um Anjo!

O barqueiro celeste, dispensando remos e velas, vem em pé na popa da embarcação, que se move pelo agitar de suas asas. Carrega almas que cantam. O Anjo faz um sinal e as almas desembarcam. O anjo sai e as almas cercam os dois poetas.

Alma (Casella)

( Para Dante) Onde é o Monte da Purificação? Mas, você está ...vivo?

Casella

( Com alegria, grita) Dante!

Dante

( Tentando reconhecer a voz) Quem?

Casella

Sou eu, Casella, de Florença!

Dante

(Abraçando Casella) Casella, meu parceiro!

Virgílio

Parceiro?!

Dante

Grande músico! Que saudades das noites em que compúnhamos versos e músicas! Canta uma de tuas canções!

Catão

O que fazem? Correi sem demora para o Monte!

As almas se dispersam, Dante e Virgílio iniciam a subida. Acham um atalho, seguem por ele. Cansados, tentam escalar a montanha. Dante mostra sinais de cansaço. De repente cai desfalecido. Baixa do Céu uma linda figura de mulher.

Luzia

( Para Virgílio) Sou Luzia. Permita que em meus braços conduza teu companheiro a seu destino.

Enquanto Virgílio segue à pé, Luzia carrega Dante pelos ares até a Porta do Purgatório, onde um anjo com grande espada guarda a entrada.

Anjo

Como chegaste até aqui sem escolta?

Virgílio

Luzia, a dama celeste, nos indicou o caminho.

Anjo

Isso facilita tudo. Suba, que o acesso é livre. Antes porém, devo fazer algo no braço deste mortal.

Dante se ajoelha e o anjo, com sua espada, desenha sete vezes a letra P no seu braço.

Anjo

São sete círculos, sete pecados capitais. Entra! Porém, tenha o cuidado de não olhar para trás.

Rocha de mármore branco com figuras esculpidas em baixo relevo.

Dante

São eles... parece que nos dizem algo...

Virgílio

Não, olhe mais embaixo.

Entra uma procissão de almas curvadas sob o peso de grandes pedras.

Virgílio

Venha, Dante, vamos tentar saber o caminho para o segundo círculo.

Dante se curva para tentar falar com uma das almas que o reconhece.

Oderiso

Dante!

Dante

Oderiso, o artista famoso, o pintor mais conhecido de Florença! Eu sempre admirei suas obras!

Oderiso

Não, não digas isso! Outros pintores da minha época eram muito melhores do que eu!

Dante

Mas... você sempre se dizia o melhor!

Oderiso

Enquanto eu vivia na terra, subestimei o mérito de outros artistas porque meu orgulho me colocava acima de todos. Agora, me arrependo disso, amargamente...

Dante

E... por que este peso nas costas?

Oderiso

É a humildade, a lição...

Entra um anjo e estende as asas para Dante, enquanto as almas se afastam.

Anjo

Vinde! Aqui perto há uma senda!

O anjo guia os dois poetas. Toca o braço de Dante e um dos P desaparece.

Dante

Mestre! De que carga me livrei para me sentir assim mais leve?

Virgílio

Quando todos os P tiverem desaparecido de teu braço, não sentirás mais cansaço algum. O anjo que nos guiou acaba de te livrar do primeiro, o símbolo do orgulho. Vamos!

Som de vozes falando de amor e generosidade. Entra um amontoado de almas que se tocam como se fossem cegos.

Dante

Cegos?!

Virgílio

Repara nas pálpebras.

Dante se aproxima e, ao ver os olhos da alma, recua vivamente impressionado.

Dante

( Para Virgílio) Costuradas com arame! ( Apontando as almas) Posso falar-lhes ...?

Virgílio acena afirmativamente e Dante começa a falar. É interrompido pelas almas.

Alma 1

Quem é? Por favor, fale mais alto!

Alma 2

Ouço uma respiração. É um ...vivo?

Dante

Sim. Dante Aliguieri, de Florença. Posso perguntar-lhes o porque de não terem os olhos abertos?

Alma 1

Para olharmos só para dentro.

Alma 2

No passado nossos olhos feriram nossos semelhantes.

Alma 1

( Chorando)É a inveja que nos corroeu.

Entra o anjo e Virgílio faz um sinal para Dante se apressar.

Anjo

( Tocando o braço de Dante com a asa e apagando mais um P) Venha por esta ladeira.

As almas saem e os dois poetas seguem o anjo que se afasta. Fumaça e sons de rezas implorando perdão. Em meio à fumaça um ponto de luz cresce.

Virgílio

É certamente o anjo querendo levar-nos para o próximo círculo

Dante

Que almas rezam em meio a esta fumaça?

Virgílio

Ali se purificam os que foram dominados pela raiva.

O anjo toca o braço de Dante que respira aliviado. Anoitece e Dante e Virgílio param.

Virgílio

Paremos um pouco.

Descansam. Algazarra de almas que correm.

Dante

( Despertando Virgílio) Por que correm?

Virgílio

Aqui estão os que foram dominados pela preguiça. Mas o anjo quer que nos apressemos. É o quinto círculo, o dos apegados ao dinheiro.

As almas se afastam. O anjo toca o braço de Dante. Entram num desfiladeiro onde as almas estão deitadas de bruços.

Dante

Todos de bruços. Por que?

Virgílio

Pergunte a eles.

Dante

Por favor...

Uma das almas tenta levantar mas não consegue.

Alma

Estamos apegados ao pó!

Violento tremor na montanha. Vozes vindas de todos os círculos entoam aleluia.

Dante

( Assustado) O que é isso?

Alma (vitima) – Estácio

( Levantando-se com alegria) Não se assustem. O fenômeno que acabais de assistir é a alegre manifestação dos espíritos, em meu louvor. Durante quinhentos anos aqui fiquei expiando minhas faltas e, agora... estou liberto.

Virgílio

Quem és tu?

Estácio

Sou Estácio, poeta romano, no tempo do imperador Tito. Vivi em Roma um século depois da morte do grande poeta Virgílio. Não pude conhecê-lo mas, minha admiração por ele é tanta que daria tudo para Ter sido seu contemporâneo.

Dante se agita, mas Virgílio faz- lhe um sinal para ficar em silêncio.

Estácio

(Percebendo a agitação de Dante) O que houve?

Virgílio

Diga-lhe, Dante, quem sou eu.

Dante

( Com veemência) Velho e notável poeta! Na tua frente está aquele que você tanto almejava conhecer! Meu mestre e meu guia é o próprio Virgílio.

Estácio

( Caindo aos pés de Virgílio) Mestre! Deixe-me acompanhá-lo, nem que seja por alguns minutos!

Virgílio faz um gesto de concordância e os três seguem juntos. Chegam ao pé de uma árvore onde os frutos maduros pendem dos galhos mais altos. Os galhos mais baixos estão secos e sem folhas. Almas esqueléticas esticam as mãos, mas não alcançam os frutos.

Virgílio

Ali estão os que na terra só viveram para comer. O anjo se aproxima. Vamos!

O anjo toca o braço de Dante, as almas e a árvore desaparecem. Entra uma fogueira com chamas descomunais.

Anjo

Além daqui não passareis sem vos purificar nesse fogo. Entrai nas chamas e ouvi o canto que vem de longe. Sai

Dante faz um gesto de pavor.

Virgílio

Caro filho: Nem um só fio do teu cabelo será consumido pelas labaredas. Vamos, penetra na fogueira!

Dante

Mas...

Virgílio

Saiba, filho querido, que entre ti e Beatriz nada mais há que esta barreira de fogo...

Dante

( Penetrando resolutamente nas chamas)Ah, Beatriz, me guie mais uma vez!

Virgílio e Estácio também entram nas labaredas. Luz num bosque com árvores, pássaros e um rio.

Virgílio

Daqui serás conduzido por tua própria vontade. Senta-te ou percorre este bosque de delícias, até que ao teu encontro venha Beatriz. Este é o paraíso terrestre. Aqui acaba a minha missão. Vá na minha frente, segue o teu caminho!

Dante

Mas, mestre...

Virgílio

Vá na frente, meu caro amigo!

Dante segue na frente, Virgílio e Estácio saem. Junto ao rio entra Matilde, uma moça de grande beleza. Canta. Dante, inebriado não vê a partida de Virgílio.

Dante

Senhora... Mestre, quem é? ( Vira-se e não vê Virgílio) Mestre, mestre!

Matilde

Ele já se foi.

Dante

E ... Beatriz?

Matilde

Beatriz te espera. Mas, antes, deverás banhar-te neste rio. Meu nome é Matilde e é meu dever conduzir-te para as águas. Elas apagarão de tua memória todo o teu passado, deixando somente as boas ações.

Dante mergulha no rio. Logo que sai, a luz se intensifica . Som de uma sinfonia suave e grandiosa que irá perdurar até o final da peça. Entra Beatriz, carregada por anjos, sai Matilde..

Então Dante e Beatriz finalmente se encontram

Dante

Daqui para frente não encontro palavras. O que vi, o que senti no Paraíso ninguém pode descrever. Prefiro o silêncio. Mas... o silêncio também não é o melhor caminho. Como poderei descrever para meus irmãos da terra o que passei para te encontrar novamente mesmo depois de ter falecida?

Beatriz

Dante meu grande amor tudo o que você passou foi apagado de sua memoria e deixado só os aprendizados dos nove círculos em que passou.

Dante

Tão pequena, vista daqui! Como se tornam pequenos os problemas humanos!

Beatriz

Daqui do paraíso a vista é impressionante

Dante

Este talvez seja o meu lugar, Beatriz. O nosso lugar!

Beatriz

Você irá conhecer o círculo onde eu habito, Dante. Vamos para o Sol!

Beatriz e Dante voam até o Sol.

Dante

É muita luz, mas sem calor!

Beatriz

No sol estão os espíritos dos sábios ( Um espírito voa ao longe) Aquele deve ser Tomás de Aquino.

Dante

Tomás de Aquino, o grande pensador! E lá , algo se move! Parece um pássaro, e está vindo em nossa direção!

Beatriz

É uma águia que lembra a justiça.

Dante

Aqui estão os que lutaram pela justiça.

Beatriz

Exatamente. No próximo círculo estão os espíritos contemplativos. É Saturno. Vamos!

A águia sai e entra uma escada grandiosa onde descem anjos e espíritos.

Dante

Uma escada de anjos! Como o sonho de Jacó!

Beatriz

Subamos por ela. O céu das estrelas fixas é a última esfera. É aqui que eu vivo.

Passado algumas horas conversando Dante e Beatriz se abraçam e se despedem

Dante

Aqui me despeço de vocês. Volto à terra onde nasci um dia e, um dia irei partir. Que o relato deste sonho iniciado numa floresta densa possa ser conhecido um dia com o nome de Divina Comédia. Adeus ( Sai de cena)

FIM

...

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