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Teoria Da História

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Por:   •  15/8/2014  •  9.346 Palavras (38 Páginas)  •  317 Visualizações

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Teoria da História ( Unidade I )

1 HISTÓRIA E MEMÓRIA

Foram diferentes, em muitos aspectos, as histórias das diferentes regiões do país; de afrodescendentes, indígenas e brancos de origem europeia; de homens, mulheres e homossexuais; de camponeses, operários, industriais e profissionais liberais e tantos outros grupos que viveram e vivem em nosso país. Nelas, História, memória e passado parecem ter o mesmo significado. Na verdade, embora História e memória tenham como referência o passado, são conceitos diferentes, mas estreitamente interligados. As palavras das historiadoras Zilda Yokoi e Tereza Aline P. Queiroz revelam isso: Passado e memória dão conteúdo, identidade e espessura a todos os humanos. Por mais isolado que se encontre um grupo, uma comunidade ou mesmo um só indivíduo, todos estão imbuídos de um passado, de uma memória e de uma história.

1.1 memória e História: dois conceitos diferentes

A História refere‑se àquilo que foi vivido, é o estudo do passado, é por meio de documento que se escreve a história. A História se constitui como uma área de conhecimento em que o passado é reconstruído a partir de uma operação intelectual. Já a memória diz respeito à lembrança daquilo que aconteceu. Nem todos os acontecimentos ficam na memória coletiva, a memória compreende lembranças e esquecimentos.

O sociólogo francês Maurice Halbwachs (1877‑1945) cunhou o conceito de memória coletiva na década de 1920. A História tem múltiplas funções. Um historiador transforma o passado em História e contribui p/ a formação de uma memória coletiva.

São as palavras que salvam o já vivido e o conservam entre nós. Salvam os feitos e os acontecimentos da sua total desintegração no esquecimento. A memória do já vivido e a sua narração numa história é o que possibilita a construção da História e das nossas histórias pessoais. Só os feitos e os acontecimentos narrados em histórias são capazes de salva, guardar nossa existência e nossa identidade.

Só conservados pela lembrança é que os feitos e os acontecimentos podem entrar no tempo e fazer parte de um passado. Têm produzido efeitos devastadores no sentido da desintegração das identidades coletivas. Garantir a preservação da memória coletiva é condição de afirmação da identidade dos diferentes grupos sociais.

1.2 A memória coletiva numa perspectiva histórica

No âmbito da antropologia é possível considerar que a memória étnica atua na reprodução dos

comportamentos nas sociedades humanas. A aquisição da linguagem falada ampliou as possibilidades de reprodução de comportamentos sociais e de armazenamento da memória para além dos gestos e hábitos repetidos. Os registros pictóricos e a escrita tornaram possível que isso se desse em algo exterior aos indivíduos.

A memória coletiva pode ser dividida de acordo com a existência, ou não, da escrita, embora não se possa fazê‑lo de forma absoluta. Os povos sem escrita ancoram sua memória basicamente na tradição oral. As sociedades letradas contam com mais suportes para armazenamento de memórias, mas nelas também subsiste a transmissão oral.

Podemos identificar as seguintes fases considerando o nível de oralidade e de utilização da escrita como suporte para a memória ao longo do tempo:

• oral: sociedades sem escrita;

• oral → escrita: pré‑história/antiguidade;

• oral/escrita: período medieval;

• escrita: século XVI (imprensa);

• eletrônica.

Numa sociedade em que a oralidade é a principal forma de armazenamento da memória, quase todo o edifício cultural está fundado sobre a lembrança dos indivíduos, a palavra não é apenas forma de comunicação entre as pessoas, mas exerce a função básica de gestão da memória social. “Saber de cor” é fator de sobrevivência cultural e os mais velhos.

Alguns países da África Ocidental, há indivíduos‑memória, como os chamados griots, considerados guardiões da tradição oral de seu povo, de suas origens e de sua história.

Lembramos quando conseguimos estabelecer uma rede associativa – técnicas mnemônicas bastante utilizadas pelas sociedades que ancoram sua memória na tradição oral. Os mitos nas sociedades orais são narrativas carregadas de emoção dramatizadas, agradáveis de serem ouvidas com o uso de rimas, músicas e rituais diversos.

Os mitos são narrativas próprias de uma dada cultura, exercem a função de explicar a origem do seu povo e de seus costumes, fenômenos naturais ou eventos do seu passado, por meio da ação de personagens imaginários que podem ser homens comuns, deuses ou semideuses. O advento da escrita cria uma nova situação em que os relatos não precisam mais ser reproduzidos ao vivo: Listas, ordenações, tabelas e sucessões de palavras começam a surgir como primeiros usos da escrita na Mesopotâmia relacionados à contabilidade e inventários dos templos p/ cobrança de impostos. Ao tratar da questão da memória no período medieval, o historiador francês Jacques Le Goff revela alguns procedimentos: Nas sociedades chamadas feudais, o acesso à escrita era monopólio de alguns homens, os quais pertenciam todos à Igreja, Palavras, gestos, enfiados num ritual. Tomava‑se o cuidado, de introduzir na assistência crianças bem jovens e, de bater‑lhes violentamente no momento principal da cerimônia, esperando que, ligando‑se a lembrança do espetáculo à lembrança da dor, elas esqueceriam menos rapidamente o que tinha se passado diante delas. Ou conservava‑se cuidadosamente um certo objeto que, nos ritos de investidura, passara de uma mão a outra, sob o olhar do povo, para significar a transmissão de um direito – como esses ramos, essas facas, essas pedras que se encontram ainda, nos arquivos, ligados a um pergaminho, a um documento que um escriba fora chamado para redigir.

Hoje a memória eletrônica tem ampliado de forma extraordinária a possibilidade de guardar informações em bancos de dados, sons, imagens e arquivos digitalizados em geral, com impacto crescente nas possibilidades de armazenamento da memória.

1.3 os “lugares de memória”

A memória se cristaliza nos objetos, nos artefatos, nas construções, nos gestos e nas imagens. Uma ferramenta, um artefato ou um edifício, são locus de conservação da memória. Como componentes da cultura material, conservam

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