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UNIDADE IV– HISTÓRIA E TESTEMUNHO

Por:   •  21/11/2018  •  Resenha  •  1.295 Palavras (6 Páginas)  •  249 Visualizações

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UNIDADE IV– HISTÓRIA E TESTEMUNHO

                

        O resumo refere-se à quarta unidade da disciplina cuja discussão enfocou-se na noção de testemunho, procurando entender o que o conceito significa no âmbito do debate sobre memória. Para tanto, além da exposição do tema em sala de aula, trabalhamos com o texto Testemunho e a Política da Memória: O tempo depois das catástrofes (2005), de autoria do historiador e crítico literário Márcio Selligmann-Silva e do texto História, Memória e Testemunho, que compõe o livro Lembrar, Escrever, Esquecer (2006) da filósofa Jeanne Marie Gagnebin. Complementarmente, fomos apresentados ao trabalho de análise de quadrinhos sobre as ditaduras latino-americanas (Argentina, Brasil e Uruguai), designado como Quadros da Barbárie, Quadros da Memória, do historiador Clóvis Gruner.

        A ideia de testemunho ganha visibilidade e importância no decorrer do século XX, estando estreitamente vinculado às catástrofes que este século viu ocorrer – a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, a Shoah, o Gulag, as ditaduras na América Latina, etc. Trata-se de uma noção atrelada a eventos traumáticos, difíceis de pôr em termos, que orbita no campo-limite da memória e do esquecimento (confrontando-se com este último). Constrói-se de modo aproximado à ideia de trauma, tal como formulada por Freud, ou o que Benjamin postula como choque (GAGNEBIN, 2006). Partindo desta prévia, procuramos explorar como cada um dos autores deteve-se sobre a noção.

Selligmann-Silva (2005) procura discutir o conceito de testemunho de modo abrangente, buscando o que nele está em jogo. Observa-o por diversos ângulos, aproximando a temática ao seu campo de estudo, a saber o campo literário. Central em sua análise, a ideia de testemunho como testis e como superstes, duas dimensões basilares que, como concebe, não devem sublimar uma a outra – afinal, pondera essencial “ter claro que não existe a possibilidade de se separar os dois sentidos de testemunho, assim como não se pode separar historiografia da memória” (p.81). Testis atrela-se a dimensão visual do testemunho – testemunha aquele que viu – que possui força de veracidade. Superstes, por sua vez, está vinculado àquele que sobrevive a dado evento, ao que “subsiste a”; atrelando-se à audição e surge entremeada ao próprio ato de narrar – testemunhar – o ocorrido. É um significado mais atual, que surge no bojo da vivência de certos eventos (de quase-morte) e dos debates contemporâneos. Testis remonta à história, enquanto superstes à experiência.

Ele começa seu texto ponderando sobre como o tema do testemunho tem sido alvo de interesse de uma infinidade de campos de conhecimento. Passa então, a uma narrativa de como o testemunho se faz presente nas tragédias da Grécia Clássica, trazendo o julgamento de Orestes narrado na obra de Ésquilo. Trata-se aí de denotar sua relação com o contexto jurídico, apontando para o que seria sua natureza masculina/falocêntrica. Com a tragédia de Ésquilo, parece haver uma intenção de demarcar um princípio para ideia de testemunho. Nessa perspectiva tradicional, a qual se vincula e se tece uma de suas dimensões – a de testis –, a ideia estaria atrelada a convencimento, a existência de evidências que atestam uma verdade, ao cenário do crime e do tribunal – tal como na tragédia supracitada. Para introduzi-la e explorá-la, recorre à Benjamin, à Freud e ao anônimo autor de Ad Hereniun, reiterando a sua associação com a masculinidade – uma masculinidade positivista e representacionista, “com uma concepção instrumental da linguagem e que crê na possibilidade de se transitar entre o tempo da cena histórica (ou “a cena do crime”) e o tempo em que se escreve a história (ou se desenrola o tribunal)” (p.81). Os julgamentos jurídicos e a escrita da história estão vinculados prioritariamente a esta dimensão.

Para fazer uma ponte, transitando entre essa tomada visual do testemunho para ao que designa como sua perspectiva auricular, recorre ao linguista francês Benveniste. No âmbito da superstes, ou seja, do sobrevivente, a experiência não é comensurável às palavras e o que ganha centralidade é o ato de dizê-las. A linguagem e a criação ganham aqui destaque. Trata-se de pensar o evento – vivido – como algo que escapa, que não encontra meios de ser dito tal e qual. Ao postular sobre esta perspectiva que ganha corpo e relevância na atualidade, Selligman-Silva apresenta sua posição: evita contrapô-las, defendendo o entendimento do testemunho em sua complexidade que agencia, de modo complementar e também conflitivo, visão, oralidade narrativa e capacidade de julgar. Para ele, o testemunho encontra-se no vértice entre a história e a memória; entre fatos e narrativas. E, desde esse lugar, pensa-o como uma potência no campo da literatura – cuja relação com o “real”, que o testemunho traz consigo, passa a ser revisitada.

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