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Veiga Valle como possibilidade de estudo de Historia regional

Por:   •  20/3/2024  •  Artigo  •  4.284 Palavras (18 Páginas)  •  61 Visualizações

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VEIGA VALLE (1806-1874) COMO POSSIBILIDADE DE UM ESTUDO

DE HISTÓRIA REGIONAL. UMA COMPARAÇÃO DA DIVULGAÇÃO

DO “SANTEIRO GOIANO” E O SILENCIAMENTO DE OCTO MARQUES

Fernando Martins dos Santos[1]

Resumo: Veiga Valle nasceu na cidade de Meia Ponte, mas logo mudou-se para a capital da província goiana, Cidade de Goiás, antiga Vila Boa. A obra de Veiga Valle era exclusivamente sacra e, além de artista, ele era político e membro da elite vilaboense. Após o seu falecimento, em 1874, sua obra foi esquecida e só resgatada em 1940, no processo de transferência da capital, da Cidade de Goiás para Goiânia. Nesse contexto, se deu a criação da chamada identidade vilaboense, que foi reivindicada como o berço da cultura goiana. Sendo assim, suas obras foram apropriadas pelos intelectuais locais no século XX, como principal representante do auge do ouro que a cidade viveu. Enquanto a obra de Veiga Valle era amplamente divulgada, outros artistas eram silenciados, como Octo Marques (1915-1988), que não era membro da elite e pintou a antiga capital fora do contexto luxuoso que se pretendia divulgar.

Palavras-chave: Veiga Valle; Octo Marques; identidade vilaboense.

O ensino brasileiro sempre priorizou a História Nacional em relação a História Regional. Apesar de ser negligenciado, o estudo da história regional proporciona o conhecimento importante das peculiaridades de cada região, além de possibilitar um pensamento histórico individual e coletivo. Ademais, a história Regional pode contribuir para a formação de uma identidade, já que ela proporciona a valorização das experiências vivenciadas, nas quais as relações sociais podem aparecer com mais clareza. A partir dela, se pode resgatar experiências coletivas e particulares, ligadas a um determinado tempo e espaço, através de sentimentos de pertencimento e identidade.        
        Assim, o presente texto busca contribuir para o estudo da História Regional a partir das motivações que levaram a divulgação do santeiro Veiga Valle e o silenciamento de Octo Marques. Para tal, organiza-se em dois momentos: o primeiro destacará o artista goiano Veiga Valle (1806-1874) e as motivações dele ter sido apropriado e amplamente divulgado como um dos principais representantes da identidade vilaboense. O segundo, a contraposição de um artista silenciado, Octo Marques (1915-1988), trazendo a discussão das motivações de seu silenciamento, uma vez que ambos os artistas representaram a identidade vilaboense em momentos específicos.

VEIGA VALLE

José Joaquim da Veiga Valle nasceu em 09 de setembro de 1806, no arraial de Meia Ponte, atualmente Pirenópolis. Ele era descente de duas famílias tradicionais da província, os Pereira Veiga e os Pereira Valle. No arraial de Meia Ponte, se tornou membro da Irmandade do Santíssimo Sacramento[2], filiou-se a Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional[3], em 1832. No primeiro pleito eleitoral para a Câmara de Vereadores, em Meia Ponte, ele se candidatou, mas não foi eleito. Sua primeira eleição ocorreu em 1836 e, nesse intervalo, se tornou Juiz de Paz e do corpo de jurado da cidade.

[pic 1]

Imagem 01: José Joaquim da Veiga Valle. Fonte: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

        Veiga Valle morou em Meia Ponte até 1841, quando mudou-se para a então capital da província, a Cidade de Goiás. Foi durante sua vivência em Meia Ponte que ele iniciou a sua produção artística. Não é possível saber com exatidão como se deu o seu aprendizado, mas é importante destacar que em Meia Ponte existia um ambiente envolto de igrejas, o que lhe proporcionou um olhar apurado para iniciar a confecção de suas peças sacras.

Após a mudança para a Cidade de Goiás, Veiga Valle se casou com a filha do então presidente da província, José Rodrigues Jardim. Da mesma forma que participou da vida política em Meia Ponte, ele pretendeu o mesmo caminho na capital, no entanto, não mais como vereador, e sim como deputado provincial e, para isso, eram necessários mais votos. Depois de inúmeras tentativas, em 1862 ele conseguiu se eleger e permaneceu no cargo até 1872, mantendo a média de votos.

[pic 2]

Imagem 02 – Veiga Valle. Século XIX. Nossa Senhora Imaculada. Escultura em madeira dourada e policromada, 26cm. Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás – GO. Foto: Fernando Santos, 2020.

        Como se pode ver na imagem acima, a obra de Veiga Valle é exclusivamente sacra. Dentre elas, as madonas são maioria, mas o artista também esculpiu santos, como: São Sebastião, São Miguel Arcanjo, Santo Antônio, São Joaquim e ainda Meninos-Deus. Segundo Salgueiro (1983), a maioria de suas peças não são inteiriças, as mãos e faces eram esculpidas separadamente, tendo a madeira cedro como sua preferência.

[pic 3]

Imagem 03 – Veiga Valle. Século XIX. Detalhe Nossa Senhora Imaculada e Detalhe. Escultura em madeira dourada e policromada, 26cm. Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás – GO. Foto: Fernando Santos, 2020.

        As peças de Veiga Valle não trouxeram nenhuma inovação em sua produção, pois seguiram os padrões exigidos da iconografia da encomenda. No entanto, como se pode observar na imagem acima, é no esgrafiado que ela se destaca, pela luminosidade, leveza e diversidade decorativa com seus medalhões ovais, os buquês, folhas de acanto, entre outros. Segundo Salgueiro:

É no esgrafiado que Veiga Valle se revela excelente desenhista, conhecia dos princípios que dispõem os ornamentos numa superfície. Fazia a mão livre um esqueleto da composição com os ornamentos principais: em seguida preenchia os espaços vazios com finos traços regulares e contínuos, em listras horizontais ou inclinadas, compondo o desenho.

(...)

Em suas obras, há ornamentos no plano e em alto-relevo, que geralmente são feitos nas bordas dos mantos, denominados “pastilhamento”. Sobre camada mais grossa e ainda úmida de gesso-cola, faziam as incisões com instrumentos apropriados. Imprimindo a forma dos desenhos, criam relevo, ou pastilho, sobre o qual se aplicará a folha de ouro. Além do pastilhamento, há bordas douradas com trabalhos nervurados em baixo-relevo, ornatos em que a simetria é obtida por um “ferrinho”.

Os ornamentos lembram lavores de ourivesaria aliando a delicadeza da concepção à fineza da execução. Revelam um gravador com domínio do desenho decorativo sem paralelo na imaginária brasileira. (SALGUEIRO, 1983, p. 71 e 72).

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