A Aquisição da linguagem de crianças surdas
Por: skyov • 24/4/2018 • Artigo • 4.847 Palavras (20 Páginas) • 532 Visualizações
Aquisição da linguagem de crianças surdas
Alissandra S. S. Sousa1, Caio C. Coêlho1, Carlos E. S. Ribeiro1, Christian B. S. Oliveira1, Cid C. A. Nery1, Khalil H. A. Sousa1, Ramsés E. P. M. Sousa1
1Universidade Federal do Piauí
Resumo
São inúmeras as teorias que tentam explicar, no íntimo da natureza humana e do ambiente em que vive, a questão do aprendizado da expressão e comunicação. O artigo em questão traz três perspectivas psicológicas sobre a formação da linguagem em crianças surdas e de que forma a convivência, seja com as pessoas próximas, com o ambiente ou com a própria genética, influenciam nesse desenvolvimento.
Palavras-chave: aquisição da linguagem; crianças surdas; teorias.
Introdução
O desenvolvimento da linguagem é fonte de pesquisa e desenvolvimento de teorias sobre como uma criança adquire o poder da comunicação. Seja pela estrutura genética determinante ou por estímulo verbal provocado pelo ambiente ao qual o indivíduo esteja envolvido (SCHIRMER et al. 2004).
Ivan Pavlov (1849-1936), e B.F. Skinner (1904-1990), em ideia à Teoria Behaviorista, com a concepção de a mente do ser humano se comparar a uma tábula rasa, ou seja, a linguagem é adquirida por condicionamento, através de estímulos reforçados positiva ou negativamente. Para estes teóricos, a repetição era o ponto chave para a aquisição da linguagem e os erros não são tolerados, inclusive, a punição exerce um papel determinante na inibição de comportamentos indesejados (PIZZIO; QUADROS, 2011).
Noam Chomsky (1957-), em vista à Teoria Gerativista, contraria os principais pontos do Behaviorismo apresentando a capacidade inata do ser humano para a linguagem, pressupondo que para haver desenvolvimento linguístico é preciso apenas que se acrescente a este fator (linguagem) um meio propício para aquisição. Chomsky questionou a ideia behaviorista de que a linguagem é aprendida pela repetição ao provar que crianças tem uma capacidade de produção e articulação de frases e enunciados que jamais foram ensinadas, apontando assim para a existência de uma gramática universal, na qual os indivíduos são providos em seu nascimento, porém só é ativada para aquela língua à qual a pessoa foi exposta, e as demais se tornam obsoletas e inativas (PIZZIO; QUADROS, 2011).
Lev Seminovich Vigotsky (1896-1934) traz, através da Teoria Sócio-interacionista, teorias de aquisição e aprendizado valendo-se principalmente dos conceitos da psicologia humanística e do linguista estruturalista Ferdinand Saussure. Vigotsky via a linguagem como um elemento social, compartilhada por indivíduos de uma comunidade linguística e parte do desenvolvimento cognitivo de uma pessoa. Para ele a linguagem é uma forma de comunicação e exerce uma função reguladora do pensamento e compreende tudo que envolve significação. A aquisição se dá em ambientes propícios para a mesma e dentro destes ambientes haviam zonas de desenvolvimento onde professor desempenha um papel essencial de mediação, muito embora todos os esforços sejam centrados no aluno, que ocupa o papel principal de todo o processo (PIZZIO; QUADROS, 2011).
Este trabalho tem por objetivo fazer uma apresentação esboçada sobre o processo de aquisição da linguagem da criança surda. O artigo busca subsídios teóricos nas mais proeminentes correntes linguísticas e psicológicas, através dos postulados de seus principais expoentes, a saber de algumas teorias correlatas a esse processo de aprendizagem, dentre elas o Behaviorismo, Geracionismo e Sócio-interacionismo.
Psicologia Behaviorista
O Behaviorismo, também chamado de Comportamentalismo, é uma abordagem psicológica que analisa o comportamento animal, seja ele humano ou não humano, a partir dos comportamentos apresentados por estes frente a um fator externo, como será visto adiante. Essa abordagem surgiu no começo do século XX e dominou a maior parte da psicologia norte-americana entre os anos de 1920 e 1960. Considerado o pai do Behaviorismo, John B. Watson (1878-1958) e suas ideias, passaram a ter maior atenção na ciência a partir de 1913. Watson, e aquilo que viria a ser conhecido como Behaviorismo Metodológico foram bastante influenciados pelas ideias do cientista russo Ivan P. Pavlov (1849-1936) (QUADROS; FINGER, 2007; SILVA; AGUIAR, 2009).
Outro importante teórico desse paradigma foi o psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), cuja abordagem é denominada Behaviorismo Radical. Skinner foi responsável por algumas ampliações importantes nesse enfoque psicológico e permaneceu sendo o teórico behaviorista mais conhecido desde a década de 1930 até seu falecimento, em 1990 (QUADROS; FINGER, 2007; SILVA; AGUIAR, 2009).
O Behaviorismo afirma que para que a psicologia seja considerada uma ciência empírica, esta deve conceber como seu objeto de estudo somente aquilo que pode ser observado e descrito de forma rigorosa e objetiva, ou seja, a análise de dados científicos dentro desta área do conhecimento, deve ser iniciada a partir da observação objetiva do comportamento dos organismos, e não se basear no funcionamento de sua mente, visto que todo e qualquer tipo de comportamento, seja ele humano ou não, pode e deve ser descrito e elucidado sem a recorrência de eventos mentais ou processos psicológicos internos (QUADROS; FINGER, 2007; SILVA; AGUIAR, 2009).
Para a abordagem behaviorista, o comportamento é a resposta dada por um determinado organismo a algum fator externo que o estimule, sendo que tal resposta pode sempre ser observada, descrita e quantificada. Além disso, também é possível observar e quantificar com rigor os fatores externos (estímulos ambientais) que dão origem a esse comportamento. Logo, o behaviorismo afirma que todos os tipos de aprendizagem são hábitos que resultam da interação entre estímulos, respostas e reforços, que são desenvolvidos na associação dos organismos com o meio no qual estão inseridos.
Portanto, segundo essa concepção, tais associações, por si só, já oferecerem explicações científicas necessárias e suficientes para todo e qualquer comportamento, tornando, portanto, desnecessária qualquer recorrência a possíveis pré-disposições inatas do ser humano. Dessa maneira, o ser humano, é concebido como uma espécie de ‘caixa preta’, cuja natureza interior não pode ser analisada ou sequer levada em consideração pela teoria psicológica (QUADROS; FINGER, 2007).
Aqui se percebe uma grande influência das ideias empiristas de John Locke, que deram origem à concepção filosófica conhecida como Empirismo, que defendia a experiência sensorial, ou seja, o ambiente como elemento formador das ideias e do conhecimento. Locke defendia que a mente humana é definida como uma tábula rasa, onde não há nenhuma impressão, sendo o conhecimento oriundo do ambiente, através da experiência sensível (SILVA; AGUIAR, 2009).
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