A Complexidade Morfológica e Custos de Processamento Lexical
Por: Pedro Henrique • 18/6/2021 • Resenha • 1.397 Palavras (6 Páginas) • 190 Visualizações
RESENHA DESCRITIVA
VILLAVA, A.; PINTO, C. Complexidade Morfológica e Custos de Processamento Lexical. Alfa, São Paulo, v.62, n.1, p.151-172, 2018.
No artigo “Complexidade Morfológica e Custos de Processamento Lexical”, Alina Villalva e Carina Pinto (2018) pretendem contribuir para a discussão de avaliação da complexidade das palavras, tendo como base dados do processamento da leitura. Além disso, as autoras realizam testes relacionados à composicionalidade de palavras, através dos métodos de priming morfológico e decisão lexical. Nesse teste são utilizadas palavras formadas, a partir do processo de derivação, pelo sufixo -oso. Essas palavras foram classificadas em três conjuntos, sendo o primeiro formado por estruturas composicionais, o segundo constituído por palavras onde ocorre um alomorfe do sufixo, e o terceiro composto por palavras onde ocorre um alomorfe da forma base.
A princípio, é necessário compreender que as línguas são sistemas complexos, formados por elementos complexos. O léxico de uma língua deve ser avaliado em três aspectos distintos: o primeiro diz respeito ao cálculo do índice de complexidade de cada unidade lexical, o segundo ao cálculo da complexidade das palavras, e o terceiro à avaliação do grau de complexidade das relações entre palavras. Dimensões essas, que são de grande relevância para a compreensão do processamento de palavras e do acesso lexical.
As autoras discorrem sobre a complexidade de palavras simples, pretendendo determinar se todos os radicais que podem ocorrer em palavras simples têm o mesmo índice de complexidade morfológica ou se existem fatores que afetam esse valor. Há uma distinção básica entre radicais que podem ocorrer em palavras simples, exemplificada palavra ([tóxic]o), e radicais que não podem ocorrer em palavras simples, podendo ser observado na palavra ([aqu]ífero). A um primeiro momento, as autoras optaram por considerar apenas o primeiro tipo de radicais, ou seja, aqueles que podem ocorrer em palavras simples. Para a construção das listas que serviram de base para o trabalho experimental das autoras, foram selecionadas duas séries de radicais intransitivos e nominais (e.g. veneno, mentira, luxo, conflito).
Ao mencionarem sobre a avaliação da complexidade das palavras complexas, as autoras relatam que tal fato eleva o nível de dificuldade do trabalho, visto que, não há trabalho feito nesse domínio, nem para o português nem para outras línguas. No caso desse trabalho, são relevantes apenas estudos relacionados ao estatuto dos radicais inerentemente transitivos, e à alomorfia nos sufixos derivacionais. Para construir a terceira série de dados, as linguistas fizeram o uso de variantes de radicais que só ocorrem em palavras complexas (e.g. aquoso – água; medroso – medo). Foi também observado que, a existência de formas alternantes também pode afetar os afixos, no caso do sufixo -oso, verifica-se a existência da forma alomórfica -uoso cuja distribuição não é determinável no português contemporâneo. A segunda série dos dados usados nesse estudo também apresentam esse alomorfe do sufixo (conflituoso, luxuoso).
Em relação ao cálculo da complexidade morfológica, é relatado, a princípio, sobre a necessidade de identificar o que pode determinar o índice de complexidade de cada palavra e a necessidade de encontrar instrumentos de validação das estipulações construídas pela análise linguística.
Existem estudos experimentais que demonstram que a natureza da estrutura morfológica das palavras tem um papel a desempenhar no reconhecimento visual das palavras, e no acesso lexical. O quadro do paradigma de priming desenvolve um tipo de experimentação, que tem ajudado na investigação de propriedades e na verificação do seu papel na ativação lexical. Os estudos de Frost et al. (2005) e Velan e Frost (2011) demonstram a existência de dois processos. O primeiro sugere que, o estádio morfo-ortográfico caracteriza as fases mais precoces do reconhecimento da palavra, tal processo é ativado logo quando a palavra (complexa e composicional) é lida, ativando o reconhecimento das formas (base e afixo). O segundo processo sugere que o estádio morfo-semântico é ativado posteriormente, e as formas anteriormente reconhecidas, são semanticamente interpretadas.
Existem, porém, outros trabalhos que sugerem que os constituintes morfológicos são armazenados no léxico mental, sendo assim, o significado se produz através da compreensão do significado de cada unidade. Estudos de priming morfológico de Laudanna e Burani (1995) ou o de Järvikivi et al. (2006) demonstraram que, palavras que possuem afixos, com diversos alomorfes apresentam latência de resposta mais longa, sendo assim, o processamento visual das palavras morfologicamente complexas pode ser afetado por diversos fatores.
Como forma de testar algumas premissas sobre o processamento morfológico e a complexidade dos constituintes morfológicos, nesse trabalho, foram realizadas quatro experiências. A intensão aqui, foi verificar se a introdução de um prime que corresponde à forma de um alvo derivado facilita ou não o processamento visual dessas palavras complexas, sendo assim, uma resposta positiva indicaria que a análise morfológica está disponível e facilita a compreensão dos derivados. A realização do mesmo teste de priming, com três diferentes intervalos de exposição ao prime, permitirá verificar se o processamento morfológico é realizado numa fase mais inicial ou num momento mais tardio do processamento visual.
Considerando os dados morfológico, de acordo com as autoras, essa experiência foi elaborada a partir do processo de adjetivação denominal no sufixo -oso. Foram selecionadas formas derivantes com duas ou três sílabas (veneno, luxo, medo) e derivados de quatro ou cinco sílabas (venenoso, luxuoso, medroso). Foi também levantado a frequência de ocorrência das palavras no português europeu, através da base de dados do “Corpus de Referência do Português Contemporânea” o CRPC.
Nesse trabalho foram relatadas quatro experiências, sendo uma de decisão lexical e três de priming morfológico com decisão lexical, que utilizaram três tempos diferentes de exposição ao prime: 50ms, 100 ms e 150ms. Na decisão lexical, foi incluída a lista experimental formada por trinta palavras apresentadas como alvo na prova de priming. No caso do priming morfológico, os testes incluíram três séries de dez pares de palavras, sendo o prime fornecido pela forma derivante do alvo. Além disso, foram usadas como fillers, pseudo-palavras construídas para esse teste.
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