A IMPORTÂNCIA DO RAP NACIONAL NA CULTURA BRASILEIRA
Por: Leticia Blanco • 16/2/2018 • Artigo • 5.387 Palavras (22 Páginas) • 236 Visualizações
RAP: O GRITO DO OPRIMIDO QUE PRECISA SER OUVIDO – UMA PESQUISA SOBRE A IMPOTANCIA DO RAP NACIONAL NA CULTURA BRASILEIRA.
Rap: The oppressed’s scream that needs to be heard – a research about the importance of national rap in Brazilian culture.
Ana Luiza Barreto da Silva ¹
Leticia Blanco Fins Costa ²
Resumo
O preconceito no Brasil, em especial o racismo, costuma ser um assunto pouco discutido e velado, sendo percebido de forma mais sutil nos discursos disseminados em sociedade. Além da propagação de ideias preconceituosas e intolerantes através do discurso, criou-se o mito que o racismo não faz mais parte da cultura brasileira atual, fazendo com que este tema não seja levado a sério ou debatido com mais frequência, sendo assim, acaba sendo abafado. Essa pesquisa possui como objetivo principal analisar como os movimentos culturais como o rap são importantes para combater o racismo ainda existente no Brasil, através da conscientização de problemas sociais, culturais e políticos, assim como a restauração da autoestima da cultura afro-brasileira e as demais minorias estigmatizadas. Para alcançar tal objetivo, será utilizado a ótica da Análise Crítica do Discurso (ACD) e também a concepção tridimensional da Teoria Social do Discurso de Fairclough (2001) para analisar os discursos encontrados nas letras de rap, bem como suas características linguísticas – como a predominância do português não padrão (PNP), gírias e palavrões – que marcam esse estilo musical e trazem a identidade dessas minorias estigmatizadas, enaltecendo suas vozes na sociedade.
Palavras-chaves: Análise Crítica do Discurso, Hegemonia, Preconceito, Racismo, Rap, Ideologia.
Abstract
Prejudice in Brazil, especially racism, is often a little discussed and veiled subject which is noticed in a subtler way in the discourses that are disseminated in society. Besides the propagation of prejudice and intolerant ideas, it was created a myth that racism is no longer part of Brazilian current culture what does not let this theme to be taken seriously or debated with more frequency, therefore this subject is commonly muffled. This research has as main objective to analyze how cultural movements, such as the rap, are important to fight against the racism, that still exists among Brazilian society, through awareness of social, cultural and politics issues and also restore the afro-Brazilian culture’s self esteem as the others stigmatized minorities. In order to achieve this objective, it will be used the Critical Discourse Analysis’ optics (CDA), such as the three-dimensional conceptions of Fairclough’s Social Theory of Speech (2001) to analyze the discourses found in the rap’s lyrics, likewise its linguistics characteristics – as the predominance of the Portuguese non-standard (PNS), slangs and curse words – which marks this musical style and brings the identity of the stigmatized minorities, extolling their voices in society.
Keywords: Critical Discourse Analysis, Hegemony, Prejudice, Racism, Rap, Ideology.
¹Graduanda em Letras Português/Inglês pela Universidade Veiga de Almeida• albs.levita@gmail.com
²Graduanda em Letras Português/Inglês pela Universidade Veiga de Almeida• leticiablancof@gmail.com
Introdução
O rap, que inicialmente fora introduzido por imigrantes jamaicanos nos bairros periféricos dos Estados Unidos como um modo de animar a plateia em festas de rua, foi adquirindo com o tempo um aspecto político e ganhando um forte discurso de resistência. Similarmente, no contexto social brasileiro, o rap construiu um cenário musical inovador: o ritmo e a batida da música não eram mais os focos principais, mas sim, levar à população a conscientização dos problemas vividos pelas populações mais pobres no Brasil, as quais são majoritariamente encontradas nas favelas.
Embora atualmente o rap tenha conquistado um espaço maior em outras camadas sociais, ainda é possível ser observado a sua associação a um gênero musical “inferior” ou “não culto” e ser constante alvo de crítica e preconceito por parte de uma hegemonia, que geralmente o rotula como música que faz apologia criminalidade e ao uso de drogas, principalmente por esse gênero musical pertencer a classes sociais consideradas inferiores.
Esse fato mostra e ressalta a pouca discussão que há no Brasil quanto ao racismo e o preconceito em relação às classes sociais, além de haver uma constante diminuição da cultura e problemas desses grupos sociais específicos. É exatamente por essas questões que o rap se torna importante, pois além de denunciar o preconceito velado, ele ressalta a estima desses grupos dando relevância a sua cultura, tornando-se assim não somente um gênero musical, mas também um movimento social e cultural.
Tendo em foco todo o contexto social que formou o rap, através da Análise Crítica do Discurso (ACD); usando como base as teorias de Teun Adrianus van Dijk no livro discurso e poder (2008) e a concepção tridimensional da Teoria Social do Discurso de Fairclough (2001), ressaltaremos a importância do rap como um crescente movimento na sociedade brasileira, pois denuncia os problemas sociais do Brasil, como o racismo, que precisa ser debatido para mostrar que este ainda se faz presente em nossa sociedade e como sua visibilidade pode ser fundamental para que essas minorias sejam ouvidas.
Rap nacional: mais que um ritmo musical, uma forma de intervenção no discurso hegemônico enraizado.
O rap foi introduzido ao Brasil nos meados dos anos 80 e de início foi um gênero musical rejeitado por ser considerado violento e de periferia. Somente nos anos 90 foi ganhando popularidade aparecendo em rádios e desde estão, vem se mostrando como um movimento cultural e uma peça fundamental na luta contra o racismo e a desigualdade social no Brasil. Neste movimento, o rapper ou MC – em sua maioria negros e do sexo masculino – ganham voz e fazem deste movimento seu instrumento para o desabafo e manifestar sua indignação sobre os problemas vividos por ele na vida cotidiana: geralmente são abordados assuntos como o desemprego, o racismo, a violência, desestabilidade familiar, o uso e o tráfico de drogas, e mais recentemente; o machismo.
Através das letras das músicas, o leitor é capaz de entender pela perspectiva dos negros, dos pobres e dos favelados como a sua realidade é distante e injusta, assim como, perceber essas questões por serem muitas vezes esquecidas e ignoradas, acarretam consequências negativas sobre essa minoria marginalizada. Como por exemplo, questões históricas ou sociais que são frequentemente alteradas ou diminuídas (até mesmo ignoradas) que fazem com que se esquecem do porquê de uma situação atual existir: como a escravidão e a falta de oportunidades para a camada social mais pobre. Além disso, o rap se difere por manter as gírias e os palavrões, assim como o português não padrão (PNP) comuns nas áreas periféricas, mantendo sua essência e enaltecendo o seu contexto social.
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