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A Leitura Contemporânea

Por:   •  4/2/2017  •  Resenha  •  1.674 Palavras (7 Páginas)  •  522 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS - UFBA

AVALIAÇÃO LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Salvador

2017

Questão 1:

Poderia dizer que o tempo é a própria contemporaneidade. Agamben faz questão de deixar claro que o contemporâneo mantém uma relação singular com o próprio tempo, que se aproxima e se afasta dele. Nos deparamos não com o presente, não com o tempo atual, com o que é do nosso tempo, afinal, o que é de fato do nosso tempo ? Justamente isso que está em jogo para Aganbem.

O presente, o agora, não existe de um nada, existe toda uma herança envolvida. O presente se estende para além do agora. O que quero dizer é que o passado e o futuro interagem a todo tempo, essa temporalidade institui uma relação particular. Pode – se recorrer ao passado a fim de reatualizar esse “tempo”, sempre vamos recorrer a toda uma vivência, uma história, pois somos formados a partir dela, e ao mesmo tempo, vamos pensar a frente, vamos sentir o agora.

É exatamente esse cruzamento entre o passado e o futuro que nos dá o entendimento do presente, podemos perceber isso na música, por exemplo:  

“O povo unido sem sigla de partido

Independente, coração valente e o orgulho ferido

Com a representação que não representa

Sem representatividade que não se apresenta

A gente enfrenta

Só fica na pista quem aguenta

O corrupto se esconde e da responsa e se ausenta

Nosso partido são corações partidos

A raiva tá inclinada pros verdadeiros bandidos”

Essa estrofe foi retirada da música “Brado Retumbante” do MV Bill, escrita na época da ditadura brasileira, e não publicada naquela ocasião por conta de toda uma repressão contida na época. A música foi lançada recentemente no seu albúm “Vitória pra quem acordou agora e vida longa pra quem nunca dormiu”, ou seja, uma música da época da ditadura que foi lançada ano passado e tem hoje todo um contexto político, que não permitiria para os ouvintes afirmar quando a música foi escrita, e nos faz pensar até quando essa realidade nos circundará.

Para Agamben O contemporâneo é aquele que transforma um tempo, e o coloca em relação a outro tempo de modo inédito a história, de “citá-la” segundo uma necessidade que não provém de maneira nenhuma de seu arbítrio, mas de uma exigência à qual ele não pode responder.

Questão 2:

Os três pontos predominantes apresentados por Resende são, fertilidade, qualidade e multiplicidade. A primeira evidência trazida por ela faz referência a fertilidade, que numa definição resumida faz menção a questões mercadológicas da produção literária brasileira, a autora demonstra que nunca se publicou tanto, e também a quantidade de editoras e escritores. As livrarias também vem se atualizando e tornando seu interior atrativo, para servir como atrativo para os leitores. Sem contar que os escritores não mais publicam pensando em prêmios ou na academia, sem contar nas ferramentas que facilitam essas publicações, como a internet, e a interação com o público.

 A qualidade, o segundo ponto trazido por ela, também tem relação com a fertilidade, o mercado está cheio, e cheio de qualidade, os escritores estão escrevendo rápido e bem. Não só a boa escrita como também a experimentação inovadora, a escrita cuidadosa, a brincadeira feita com a sintaxe, onde escritores a exploraram em toda sua possibilidade e a erudição, que pra Resende é inesperada.

O terceiro ponto abordado no texto diz respeito a multiplicidade, que surge como consequência da fertilidade. Segundo Resende (2008, p. 18), “multiplicidade é a heterogeneidade em convívio” que é nada menos que os vários temas abordados, e a “convivência” e diálogo entre eles, fechando portas para a exclusão. Sem falar que esse ponto pode ser evidenciado s formas de publicação, que não se limitam mais ao papel e a declamação. Surge também uma quebra com os mediadores, o que possibilitou também o aparecimento de vozes que se encontravam distantes da produção literária.

Podemos perceber que esses pontos trazidos por Beatriz Resende, nos ajuda a compreender o novo modelo de contos, que quebra com aquele modelo tradicional de contos, e causa um certo estranhamento. O conto “Outra Viagem”, nos abre para várias interpretações que vão depender do momento e vivência daquele que o ler. Ele brinca com a nossa sintaxe, mexendo com o leitor de uma certa forma, o que o conto quer nos contar ? essa questão fica em aberto, cabe ao leitor entender isso. Temos também a questão de multiplicidade em jogo, em outros tempos esse conto séria aceito ? Ou melhor, séria considerado conto ? Resende faz justamente isso, apresentar um novo modelo de literatura, mais atrativo e comercial. Posso citar outros exemplos como o livro “Passaporte” de Fernando Bonassi, que reúne episódios escritos durante sua viagem, chamo atenção também para a estética do livro, extremamente comercial.

Questão 3:

O texto, a princípio, já traz o que seria tendência nas últimas décadas do século XX, era a apropriação do cenário urbano e das grandes cidades. Os novos narradores se veem num lugar onde é preciso assumir um grande compromisso social, focalizando nas consequências da miséria humana, do crime e da violência. Heloisa coloca que o surgimento de uma literatura urbana tem haver com o conturbado crescimento do país, que se viu saindo de um período rural para um país urbano.

Segudo Silviano, o escritor brasileiro enfrentou, durante os anos posteriores ao golpe de 1964, uma escolha estilística fundamental. Ainda segundo Silvano:

“Após os picos criativos da década de 1950 – a realização das mais altas ambições criativas modernistas na obra de Guimarães Rosa, bem como a derrota da utopia de uma modernização racional encarnada pelo movimento concretista -, o escritor brasileiro ou seguia a co-americana em direção a uma literatura mágico realista e alegórica ou retornava aos problemas estilísticos não resolvidos pelo realismo social...”

Surge então a vertente autobiográfica e memorialista, não mais enquanto decisão existencial de opções de vida sob o regime autoritário, mas na procura por modos de existência numa democracia mais estável, porém ainda incapaz de solucionar seus problemas sociais. Outra tendência das novas formas de realismo foi a opção pelo hibridismo entre formas literárias e não literárias, exemplo disso é o romance-reportagem, espécie de realismo documentário inspirado no jornalismo. A principal inovação literária foi a prosa, batizada por Alfredo Bossi (1975) de brutalismo, iniciada em 1963 por Rubem Fonseca, com a ontologia de contos Os prisioneiros.

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