A Leitura Crítica
Por: Andreza Bastos • 21/5/2017 • Trabalho acadêmico • 797 Palavras (4 Páginas) • 220 Visualizações
Aristóteles nos fala que a arte, a literatura, é imitação. Essa imitação pode ser de pessoas, superiores e inferiores, e também de ações. Em seus escritos, Aristóteles define o gênero tragédia como “representação de uma ação grave, [...], a qual, inspirando pena e temor, opera a catarse própria dessas emoções” (Poética, p. 24). Com a leitura do texto de Kafka fica claro o reconhecimento e identificação com as ações dos personagens e os sentimentos que nos desperta, e as reflexões que nos leva a fazer, por isso podemos defini-lo como sendo do gênero tragédia.
De acordo com Moisés (1985) o texto pode ser um apólogo, quando é protagonizado por objetos inanimados; uma fábula, quando é protagonizada por animais irracionais; e uma parábola, quando é protagonizada por seres humanos. Analisando os personagens do texto podemos ver que se trata de uma parábola, pois só existem personagens protagonizados por ser humanos. Flusser (2002, p. 81), em seu texto, também afirma que a mensagem de Kafka é uma parábola. Mas não se trata apenas de uma parábola, pode ser mais bem definido como uma parábola com estrutura alegórica, pois é constituído de metáforas que formam a história. “Acontece que a história simbólica não ofereça apenas uma lição global, mas que todos os pormenores tenham um sentido próprio, requerendo uma interpretação particular. A parábola então se torna alegoria.” (LEON-DUFOUR, 1999, p. 712)
Alegoria é quando se diz a para significar b (HANSEN, 2006, p.7) e Kafka faz isso quando fala do homem do campo, do porteiro e da lei. Kakfa em sua história utiliza a alegoria como uma máscara para se ter um melhor aproveitamento do pensamento que quer nos passar. O homem do campo representa a maior parte da população que pela falta de conhecimento passa a encarar a lei como algo obscuro e amedrontador. O porteiro representa alguém superior que conhece o mundo das leis, a burocracia, e se torna um obstáculo para o homem. Já a lei, representa o direito, quase intocável, de todo cidadão.
Com base nas palavras de Hansen, podemos definir o texto de Kafka como um bom texto, pois foi capaz de conseguir realizar uma boa alegoria. “[...], se uma ideia é simples, há alguma vantagem em representá-la através de uma rica figuração que pode ajudar a dissimular sua nudez, [...]”. Kafka fez com que a história da dificuldade de acesso ao direito e as leis se tornasse uma história mais rica e de maior rendimento, nos fazendo refletir que precisamos ter conhecimento sobre essas questões para que não seja preciso perder uma vida esperando uma autorização de alguém que rotulamos como superior para fazer valer o direito de cada um.
Porém, de acordo com Aristóteles, o texto de Kafka não é um bom texto. A história nos conta o que realmente aconteceu, o real, a verdade, e não conta uma história parecida com a verdade, ou como desejaríamos que fosse, o texto rompe com verossimilhança: “ [...] a obra do poeta não consiste em contar o que aconteceu, mas sim coisas quais podiam acontecer, possíveis no ponto de vista da verossimilhança ou da necessidade.” (Aristóteles). Ao final da história de Kafka vemos que não tem nada de verossímil, apenas a realidade de que o homem chegou ao seu fim sem a autorização para entrar na porta.
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