A Ramificações da Linguística
Por: Liara Batista • 3/7/2017 • Resenha • 8.484 Palavras (34 Páginas) • 1.278 Visualizações
LÍNGUISTICA
2.1 Ramificações da Linguística
Como vimos, tanto a linguagem quanto as línguas podem ser estudadas sob diferentes pontos de vista. Portanto, o campo total da linguística pode ser dividido em diversos subcampos segundo o ponto de vista adotado ou a ênfase especial dada a um conjunto de fenômenos, ou premissas, ao invés de outro. A primeira distinção a se estabelecer é entre a linguística geral e a descritiva.
A linguística geral e a descritiva não são absolutamente isoladas. Cada uma depende explícita ou implicitamente da outra: a lingu1stica geral fornece conceitos e categorias em termos dos quais as línguas serão analisadas; a linguística descritiva, por sua vez, fornece dados que confirmam ou refutam as proposições e teorias colocadas pela linguística geral. Por exemplo, o linguista geral poderia formular a hipótese de que todas as línguas possuem nomes e verbos. O linguista descritivo poderia refutá-la com base em uma comprovação empírica de que houvesse pelo menos uma língua em cuja descrição tal distinção não se verificasse. Porém, para refutar ou confirmar a hipótese, o linguista descritivo deve operar com determinados conceitos como "nome" e "verbo" que lhe foram fornecidos pelo linguista geral.
Segunda distinção. Linguística histórica: Investigação sobre os detalhes do desenvolvimento histórico de línguas específicas e da formulação de hipóteses gerais sobre as mudanças das línguas. Tanto nesta área como na não-histórica, o interesse pode estar na linguagem em geral ou nas línguas, em particular. É conveniente mencionar agora os termos 'diacrônica' e 'sincrônica', mais técnicos para o caso. Foram inicialmente usados por Saussure (cuja distinção entre 'langue' e 'parole' já foi mencionada no capítulo anterior). Uma descrição diacrônica de uma língua percorre o desenvolvimento histórico da ipesma e registra as mudanças que nela ocorreram entre pontos sucessivos no tempo: "diacrônico'', portanto, é equivalente a "histórico". A descrição sincrônica é não-histórica: apresenta uma imagem da língua tal qual ela se encontra em determinado ponto no tempo.
Uma terceira distinção é a que se verifica entre língüística teórica e aplicada. Essencialmente, a lingdística teórica estuda a linguagem e as línguas com vistas a construir uma teoria de sua estrutura e funções, independente de quaisquer aplicações práticas que a investigação da linguagem e das línguas possa ter, enquanto que a aplicada ocupa-se da aplicação dos conceitos e descobertas da lingüística a urna série de tarefas práticas, inclusive o ensino de línguas. Em princípio, a distinção entre.lingüística teórica e aplicada independe das outras duas até agora .estabelecidas. Na prática, pouca diferença há entre os termos "lingüística teórica" e "lingüística geral": a maioria dos estudiosos que utilizam o termo "lingüística teórica" parte do pressuposto de que o objetivo desta é formular uma teoria satisfatória da estrutura da linguagem em geral. No que diz respeito à lingüística aplicada, fica claro que ela se vale tanto do aspecto geral quanto do descritivo.
Quarta distinção: refere-se a uma visão mais estreita ou mais ampla do escopo do assunto. Não há uma distinção terminológica universalmente aceita para tal caso: usaremos os termos 'microlingüística' e 'macrolingüística', dizendo que na microlingüística adota-se a visão mais estreita, e na macrolingüística a mais ampla. De forma mais estreita, a rnicrolingüística trata unicamente de sistemas linguísticos, sem contar a forma pela qual as línguas são adquiridas, armazenadas no cérebro ou utilizadas em suas várias funções; sem contar a interdependência entre língua e cultura; sem contar os mecanismos fisiológicos e psicológicos envolvidos no comportamento linguístico; em suma, independente de tudo que não seja um sistema linguístico, considerado (como Saussure, ou melhor, seus editores, diriam) em si e por si. De forma mais ampla, a macrolingüística trata de tudo o que é pertinente, de alguma forma, seja qual for, à linguagem ou às línguas. Uma vez que, além da lingüística, muitas outras disciplinas se ocupam da lingua(gem}, não causa surpresa que várias áreas interdisciplinares se tenham identificado com a macrolinguística, recebendo nomes distintivos: sociolinguística, psicolinguística, etnolinguística, estilística etc. Um ponto que se deve enfatizar é que a distinçãó entre microlingüistica e macrolingüística depend~ da diferenciação entre linguística teórica e aplicada. Há, em principio, um aspecto teórico em cada ramificação da macrolinguística. De tal maneira que em certas áreas da linguística aplicada, como o ensino de línguas, é essencial adotar-se a visão mais ampla da estrutura e funções das línguas, ao invés da mais estreita. B por isso que alguns autores incorporaram o que aqui denominamos macrolingüística à linguística aplicada.
2.2 A linguística é uma ciência?
A linguística é normalmente definida como ciência da linguagem, ou alternativamente, como estudo científico da linguagem cujo precursor foi Ferdinand de Saussure. Para que possamos compreender o porquê de ela ser caracterizada como uma ciência, tomemos como exemplo o caso da gramática normativa, uma vez que ela não descreve a língua como realmente se evidencia, mas sim como deve ser materializada pelos falantes, constituída por um conjunto de sinais (as palavras) e por um conjunto de regras, de modo a realizar a combinação desses.
Assim, a título de reforçarmos ainda mais a ideia abordada, consideremos as palavras de André Martinet, acerca do conceito de Linguística:
“A linguística é o estudo científico da linguagem humana. Diz-se que um estudo é científico quando se baseia na observação dos fatos e se abstém de propor qualquer escolha entre tais fatos, em nome de certos princípios estéticos ou morais. ‘Científico’ opõe-se a ‘prescritivo’. No caso da linguística, importa especialmente insistir no caráter científico e não prescritivo do estudo: como o objeto desta ciência constitui uma atividade humana, é grande a tentação de abandonar o domínio da observação imparcial para recomendar determinado comportamento, de deixar de notar o que realmente se diz para passar a recomendar o que deve dizer-se”.
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