A outra volta do parafuso - A voz do narrador: suas funções, suas memórias
Por: amandapinheeiro • 19/10/2016 • Trabalho acadêmico • 1.566 Palavras (7 Páginas) • 679 Visualizações
AS VOZES DO NARRADOR: SUAS FUNÇÕES, SUAS MEMÓRIAS.
Numa noite de natal, envoltos à lareira, alguns amigos, em clima de suspense, se dispõem a contar histórias de horror. Neste instante, um deles, Douglas, declara saber de uma história que ninguém jamais ouvira. A história já escrita, por uma bela letra de mulher, aguça a curiosidade dos amigos. “Que história seria essa?” Desde o prólogo tal questão assume um papel importante na novela, ao passo que introduz aos leitores as primeiras impressões e o que virá posteriormente. Desta forma, um narrador desconhecido introduz, assim, os relatos de Douglas e o que realmente passara nessa noite de natal. Sendo assim, o “me lembro” caracteriza esse narrador, entendido como o 1ª narrador, e Douglas, o 2ª narrador, que apresenta a experiência que viveu (memória). A partir do momento que o narrador se manifesta na história, ele deixa de ser ele para ser texto, ou seja, o mundo que ele cria, a própria personagem conta suas histórias. É o narrador que cria o mundo de ficção. Afinal, aquilo que o narrador sabe, ele pode contar a partir do princípio, do fim, de fora ou de dentro. A sala se torna o cenário da cena.
Cabe sobrelevar que o narrador cria uma situação e os personagens são os ouvintes. Como explícito, há dois narradores: o primeiro é apresentado com o “me lembro”, o qual pode-se ser visto desde o prólogo, e o segundo é Douglas. Nós leitores, temos a história da governanta que sai de casa ainda jovem para cuidar dos interesses de uma família: Marlow, Flora e seu tio. Entretanto a jovem não imagina o que ocorre na propriedade em que irá habitar. Sendo assim, a governanta já viveu a história e Douglas vai repassá-la adiante, contando que não aconteceu com ele, mas com a governanta, que lhe deixou a história que ele guarda consigo há quarenta anos, entretanto ele resolve ‘contá-la’.
É preciso destacar que nessa novela consiste a narrativa de moldura. Essa moldura constitui uma estrutura que encaixa a segunda história na primeira, que é lida por um dos narradores, “eu”- “não me lembro”, e por Douglas- o leitor. Ambos são personagens, e contam uma parte de história. Há assim, dois modos fundamentais: o narrador está fora dos acontecimentos narrados, e o narrador participa dos acontecimentos narrados. Ele conta a partir do que ele sabe de Douglas, ocorrendo a credibilidade por parte do leitor, ou seja, ela acredita no que vê. A moldura por sua função reafirma a história, envolvendo todas as pessoas. Douglas teve um contato com a governanta e se tocou pela moça. Assim, Douglas é o leitor, da segunda parte da história e, ao mesmo tempo, é narrador-personagem. Ele faz a transcrição exata do manuscrito, dividindo-o em algarismos romanos, como se fossem capítulos: I, II, III, IV, V, e assim sucessivamente.
A partir disso vemos que há dois modos fundamentais: o narrador está fora dos acontecimentos narrados, e o narrador participa dos acontecimentos. Ele conta a partir do que ele sabe de Douglas. A moldura envolve todas as pessoas, dependemos de Douglas, este teve um contato com a governanta, retomando seu papel de leitor, narrador e personagem. O primeiro narrador, o “eu”, conta a história de Douglas, que é o segundo narrador que conta uma história que lhe foi contada por, ainda, uma terceira pessoa. Convém ressaltar que há dois modos de narrar: o contar- sumário (resume). O mostrar- cena o qual resulta a narrativa moldura. Aparentemente é o Douglas que está contando. Antes de a história começar, entretanto, eu tenho contato com uma voz que não é de Douglas.
Todos nós passamos a ter perspectivas para a grande narrativa que começa em “I”. A narradora personagem (é uma narrativa do eu) passa a ter o mesmo ponto de vista do personagem; é envolvente, priorizando uma relação de proximidade. O 1ª e 3ª narradores dizem “Eu me lembro”, recuperam aquilo que lembram, e isso acontecerá com os acontecimentos que foram vividos, isto é, a percepção, as experiências de vida. A narrativa dá uma perspectiva da grande narrativa, a partir de Douglas já tem-se um ponto de vista.
Outro ponto importante é a narração, esta, por sua função, adere às escolhas técnicas que regem a organização da ficção na narrativa. Como já dito, há dois modos narrativos: o contar e o mostrar. O primeiro se refere à diegese- sumário, o narrador aparente, o discurso direto e indireto livre. O segundo diz respeito à mimese- cena, narrador menos aparente, diálogos, descrições, aspas, travessão.
A utilização do verbo “lembro” nos remete a memória, ou seja, não arquivou tudo, algo escapa a memória, e também nos remete a lembrança, ao passo que não pode ser acusada de mentira. A cena refere-se à narração, o qual ocorre num espaço determinado, no caso a sala, fazendo com que o leitor visualize o espaço definido. Como já citado, o sumário é aquilo que é vivido pelo personagem. O resumo das experiências que viveu também nos diz que o tempo é resumido, pois não sabemos o ano, o dia em que foi para a casa, todas as marcações são vagas por omissão da narradora. No seu quarto ela descreve, em tom de deslumbramento, como eram encantadores os espelhos, que dizem respeito à percepção. Talvez para outros, seria mais simples. Isto é, o espaço repercute a interferência que ela sofre desse lugar. Ela fala daquilo que só ela sabe. Tanto que o leitor entra e mergulha quase que vivendo com ela. Convém destacar o discurso intimista, ou seja, esperava uma coisa e surge outra. Em resumo, tudo deriva do “Lembro-me”.
A governanta parece frágil, se escreve para ter um leitor. Ela é verdadeira. Escreve o manuscrito, tão-somente que parece que não foi pouca coisa para ela. Pode-se admitir que ela imaginara que alguém leria seus escritos.
Sob essa ótica, há dois modos de narrar: o contar e o mostrar, como explícito no corpus do texto. O contar possui sete funções:
- função comunicativa: dirigir-se ao leitor (narratório) “caro leitor...”. Agir sobre ele, contato, direcionar.
- função metanarrativa: consiste em comentar o texto apontando para a organização interna.
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