ANÁLISE DOS POEMAS: E O RIO E VAGA PELO NOTURNO DE JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO
Por: Valdomiro Rodrigues • 20/4/2018 • Artigo • 2.817 Palavras (12 Páginas) • 434 Visualizações
ANÁLISE DOS POEMAS: “E O RIO” E “VAGA PELO NOTURNO” DE JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO
Cleudenice Soares[1]
Daniele Abreu[2]
Elisabeth Silva Costa[3]
Selma Fabricia C. de Lima[4]
Resumo: O presente trabalho pretende discutir acerca da poética amazônica manifestada pelo poeta, professor e ensaísta paraense João de Jesus Paes Loureiro. Apresenta-se aqui sua poesia como escritos ensaísticos relacionados intimamente com a forma de produção criativa mostrada por este artista. Através de pesquisas, leituras e análises pretendeu-se no presente artigo mencionar aspectos relevantes sobre o tema abordado. Assim, discutir a criação poética de Paes Loureiro nos poemas “E o rio” e “Vaga pelo noturno” da obra Água de fonte, num cenário real amazônico até o espaço ficcional demonstrado na arte da palavra, denota um fazer poético único que tráz o mítico descrito num imaginário devaneante da arte através da cultura amazônica e da palavra. Diante disso, observa-se que é de grande valia ampliar esse cenário perpassando pela crítica temática na visão abordada por Daniel Bergez (2006), assim como sobre a Escola de Genebra de Jérôme Roger (2002) entre outros.
Palavras-Chave: Paes Loureiro, Amazônia, Poesia, E o rio, Vaga pelo noturno.
1 Vida e Obra
João de Jesus Paes Loureiro, poeta, folclorista, ensaísta e dramaturgo nasceu no dia 23 de junho de 1939 em Abaetetuba, cidade paraense situada à margem do Rio Tocantins. Cursou faculdade de Direito, de Letras, Artes e Comunicação, na Universidade Federal do Pará. Foi perseguido e várias vezes preso pela ditadura militar, sofreu torturas, perseguições e privações de oportunidades profissionais. No final da década de 70 tornou-se professor de Educação Artística na Escola Técnica Federal do Pará e de História da Arte, Introdução à Filosofia, depois, Estética Cultura e Comunicação, na UFPA. Mais tarde foi Mestre em Teoria Literária e Semiologia, pela PUC de Campinas em 1984 e Doutor em Sociologia da Cultura pela Sorbonne, Paris, França, em 1990 entre outras funções. Teve várias de suas obras publicadas como: Tarefa: Pará: Falângola, 1964; Cantigas de amar de amor e de paz - Poesia. Belém: Graf. Globo, 1966; Epístolas e Baladas – Poesia entre outros.
2 Considerações sobre Crítica Temática e a Escola de Genebra
A crítica temática fundamentou-se a partir de ideias Românticas, sua maior busca era entender o desejo e o conhecimento espiritual através de sensações internas que constituiam a imaginação verdadeira, para Bergez (2006, p.103), ela “ concede uma atenção muito particular ao ato de consciência do escritor”.
Historicamente, após a ruptura de dois genebreses Marcel Raymond e Albert Béguin com a recusa da classificação positivista da literatura por escolas e a confissão de um questionamento pessoal como fonte e razão da crítica, surgiram novos estudos apoiados numa concepção de consciência de leitura literária, a qual Jean Starobinski, Georges Poulet, Jean Rousset e Jean-Pierre Richard se identificaram com os vanguardistas genebreses. A partir desses estudos surge a Escola de Genebra, que retoma pressupostos românticos sobre a arte, e segundo Jérôme (2002, p.78) foi “uma das correntes mais importantes da crítica contemporânea e um movimento coerente de pensamento”. Marcel Proust também contribuiu com a crítica temática quando definiu o “eu profundo”, que para Starobinski é o mesmo que “sujeito” do objeto, o qual contrpõe-se à psicanálise que convoca conflitos que se afrontam, já a crítica temática busca o acerto das contradições.
Dessa maneira, para Jérôme (2002, p.80), a crítica temática “se manifesta a partir da experiência da sensação, definida como ponto imaginário de interseção do sujeito e do mundo”, ou seja, está ela ligada à forma e à percepção do poeta com objetos exteriores construídos de diferentes formas pela consciência de cada um. É nesse âmbito da relação de cada um com objetos exteriores, os quais descrevem a paisagem criadora, que se encontra a poesia de João de Jesus Paes Loureiro, mestre na descrição de tempo, espaço e sensações de seu cenário inspirador: a Amazônia. Detentor de uma poesia auto reflexiva, não só nos formatos, mas também, nos temas, sendo uma verdadeira criação do mundo imáginário amazônico recriando a paisagem misturada com a linguagem, descrevendo em palavras aquilo que se imagina, uma engrenagem de algo muito maior.
3 Análises dos poemas de Paes Loureiro
O poema abaixo faz parte da obra intitulada Água de Fonte do poeta e ensaísta João de Jesus Paes Loureiro o qual constantemente expõe em seus trabalhos elementos que remetem à Amazônia e ao povo que ali vive representado pelo ribeirinho, canoeiro etc. O poeta Paes Loureiro consegue por meio da poesia mostrar sua própria alma e a de todos que habitam aquele ambiente peculiar e místico que é a Amazônia. Essa tendência proporciona uma diferente compreensão do mundo contemporâneo.
O artefato do sonho, o rio, é uma constante na obra de Paes Loureiro. Este rio que inunda o ser, aquele que o observa e se deslumbra ao vê-lo. Este rio o qual não é o mesmo sempre, assim como as pessoas que também seguem seu próprio percurso e visam chegar a algum lugar.
Na obra Água de Fonte a presença de poemas bem estruturados em versos é constante, porém o poema “Vaga pelo noturno” se apresenta de forma mais prosaica com apenas alguns versos em sua composição:
Vaga pelo Noturno
Vaga pelo noturno deslizar do rio claro artefato do
Sonho. Um barco iluminado? Um verso feito aceso
Candelabro mítico? Leve rumor de asas de um
presságio?
Um barco
iluminado Sagrado resplendor de algum mistério.
Viático na busca de naufrágios. Jorrar de fontes
Sagradas. Epifania de boiúna ou florescer de súbitos
Jasmins pelo negrume de uma noite imóvel.
(Melancolia de haver tudo o que havia, menos a
Infância, menos a infância, menos a infância...)
Noite ontem hoje.
E eu a escutar, em sua concha íntima, os
Cânticos de outrora nesta hora, a respirar a brisa de
...