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ANÁLISE DO POEMA “É TARDE, MUITO TARDE DA NOITE”, DE JORGE DE SENA

Por:   •  19/8/2019  •  Monografia  •  1.870 Palavras (8 Páginas)  •  598 Visualizações

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                                          Faculdade de Ciências e Letras de Assis

Curso: LETRAS-LICENCIATURA

Departamento: Literatura

Disciplina: Tendências Contemporâneas na Literatura Portuguesa: Poesia

Docente: Sandra Aparecida Ferreira

Discente: Nayara Silva Camilo

ANÁLISE DO POEMA “É TARDE, MUITO TARDE DA NOITE”, DE JORGE DE SENA

I. O AUTOR

Jorge de Sena (1919, Lisboa – 1978, Santa Bárbara) foi uma pessoa singular. Transitou livremente pelas mais diversas áreas do conhecimento humano. Estudou piano por vários anos por insistência de sua mãe e desde então a música nunca mais deixou sua vida. Formou-se como Engenheiro Civil a Faculdade do Porto, em Lisboa onde trabalhou na Junta Autônoma de Estrada até 1959. Em 1959 se exila no Brasil para fugir da Ditadura Salazariana. No Brasil foi professor catedrático de Teoria de Literatura e Literatura Portuguesa na UNESP de Assis e UNESP de Araraquara. Naturalizou-se brasileiro em 1963. Em 1965 muda-se para o Estados Unidos onde leciona na Universidade de Winsconsin e na Universidade da Califórnia. Sena foi poeta, crítico literário, tradutor, publicou diversos artigos, ensaios e livros. Durante toda sua vida nunca se desvinculou da militância política e em seus textos expõe declaradamente sua formação filosófica-marxista. Dentre seus livros destacam-se Coroa da Terra (1947), Pedra Filosofal (1950), As Evidências (1955), Fidelidade (1958),Metamorfoses (1963), Arte de Música (1968) ,Peregrinatio ad Loca Infecta (1969), Exorcismos (1972) e Conheço o Sal e Outros Poemas (1974).

II. O POEMA: É TARDE, MUITO TARDE DA NOITE

É tarde, muito tarde da noite,

trabalhei hoje muito, tive de sair, falei com vária gente,

voltei, ouço música, estou terrivelmente cansado.

Exactamente terrivelmente com a sua banalidade

é o que pode dar a medida do meu cansaço.

Como estou cansado. De ter trabalhado muito,

ter feito um grande esforço para depois

interessar-me por outras pessoas

quando estou cansado demais para me interessarem as pessoas.

É tarde, devia Ter-me deitado mais cedo,

há muito que devera estar a dormir.

Mas estou acordado com o meu cansaço

e a ouvir música. Desfeito de cansaço

incapaz de pensar, incapaz de olhar,

totalmente incapaz até de repousar á força de

cansaço. Um cansaço terrível

da vida, das pessoas, de mim, de tudo.

E fumo cigarro após cigarro no desespero

de estar tão cansado. E ouço música

(por sinal a sonata para violino e piano

de César Franck, e depois os Wesendonck Lieder)

num puro cansaço de dissolver-me

como Brunhilda ou como Isolda

no que não aceitarei nunca

l’amor che muove il sole e l’altre stelle.

Nada há de comum entre esse amor de que estou cansado,

e o outro que não ama, apenas queima e passa, e de cuja

dissolução no espaço e no tempo em que vivo

estou mais cansado ainda. Dissolvam-se essas damas

que eram princesas ou valquírias, se preferem, no eterno.

Eu estou cansado de não me dissolver

continuamente em cada instante da vida,

ou das pessoas, ou de mim, ou de tudo.

Qu’ai-je á faire de l’eternel? I live here.

Non abbiamo confusion. E aqui é que

morrerei danado de cansaço, como hoje estou

tão terrivelmente cansado.

II.I. ANÁLISE

O poema é construído por versos livres, possui duas estrofes, sendo a primeira com nove versos e a segunda com vinte e oito. O poema se desenrola em forma de relato, desabafo e reflexão do eu lírico sobre a vida.

O primeiro verso é o que dá o título ao poema “É tarde, muito tarde da noite” e é o que abre o mundo no qual o eu-lírico está inserido: altas horas da noite. Em seguida, no segundo verso, ele enumera tudo que ele fez durante o dia e fecha, no terceiro verso, que agora, nessa hora tarde ele ouve música e está “terrivelmente cansado” depois de realizar todos esses afazeres. Nos dois próximos versos a voz explica a tamanha imensidão do cansaço sentido através dos advérbios terminados com o sufixo –mente. Os usos desses advérbios se aplicam as circunstâncias que expressam modo e ele realça essas circunstâncias da medida do cansaço acrescentando o sufixo em duas palavras seguidas: Exactamente terrivelmente com a sua banalidade/ é o que pode dar a medida do meu cansaço. 

No sexto verso a voz afirma - com um ponto final-  novamente o seu estado de ânimo (ou no caso, a falta dele):

Como estou cansado. De ter trabalhado muito,

ter feito um grande esforço para depois

interessar-me por outras pessoas

quando estou cansado demais para me interessarem as pessoas.

E segue sequenciando o que fizera para se estar envolto de toda essa exaustão. No final da primeira estrofe, o eu-lírico expressa sua falta de interesse que mesmo usando todas suas forças, ele não consegue ver graça nas pessoas.

        A segunda estrofe se inicia do mesmo modo que a primeira se iniciou “É tarde”, mas o depois lamentando por aquilo que ele escolheu fazer, já que devia ter tomado outra atitude, no caso, dormir:

É tarde, devia ter-me deitado mais cedo,

há muito que devera estar a dormir.

Mas estou acordado com o meu cansaço

e a ouvir música. Desfeito de cansaço

incapaz de pensar, incapaz de olhar,

totalmente incapaz até de repousar á força de

cansaço. Um cansaço terrível

da vida, das pessoas, de mim, de tudo.

        O verbo ‘dever’ está conjugado na primeira pessoa do singular do pretérito imperfeito do indicativo. O uso desse tempo pode designar um fato passado, mas ainda não concluído. Além de transmitir uma ideia de continuidade e duração, que pode resultar numa ação que se configurou em um hábito. Percebemos que essa voz esfalfada tem consciência daquilo que faz e daquilo que deveria estar fazendo. No terceiro e quarto verso da segunda estrofe o ‘eu’ anuncia que sua companhia é o cansaço e a música. Em seguida relata todas as suas incapacidades devindas de todo esse cansaço avassalador que assola tudo.

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