Análise Da Crônica "Um Caso De Burro" De Machado De Assis
Casos: Análise Da Crônica "Um Caso De Burro" De Machado De Assis. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: amanchris • 22/3/2015 • 975 Palavras (4 Páginas) • 22.095 Visualizações
Análise da crônica “Um caso de burro” de Machado de Assis
A crônica, assim como grande parte da obra de Machado de Assis, trata-se de uma crítica à sociedade da época, usando principalmente a ironia, que é um de seus maiores trunfos. Nesta, o escritor compara um burro a um ser humano, provavelmente um negro, denunciando os maus tratos sofridos por eles naqueles tempos.
Logo no primeiro parágrafo, o autor já menospreza o “animal”, afirmando que as pessoas não darão importância para tal situação. Também vemos muito adjetivo para que ele fale apenas de um burro, nos deixando com a “pulga atrás da orelha”. Podemos ver ambas as afirmações no trecho: “...Receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.”
No segundo parágrafo, o autor nos informa o lugar onde o burro se encontra: “Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado.”. Há uma grande simbologia ao redor dessa praça, primeiro por ser um centro político (sede do governo), econômico (comércio) e religioso (conventos e igrejas) da época. E também por ser uma grande praça pública, é o lugar aonde estava o pelourinho, onde os escravos eram castigados, trazendo ideia de que o “burro” era marcado pra morrer, depois de já ter sofrido bastante. No mesmo parágrafo, vemos o quão mal o burro estava: “Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente que parecia estar próximo do fim.” Um pouco acima, vemos que já haviam construído o trilho dos bondes, então podemos supor que este era um trabalhador que puxava os bondes de tração animal, e que achava que, com a chegada dos bondes elétricos, teria algum descanso. Enganou-se, é claro.
No terceiro parágrafo, percebemos uma forte ironia de Machado. Primeiro, ele compara o burro a um ser humano recebendo esmola e ainda cita: “Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão.“ Criticando as pessoas que passaram pelo trabalhor, denominada “burro”, e o trataram realmente como um animal, o deixando com um pouco de capim e uma lata d’água, ao invés de trata-lo como uma pessoa. Também diz “O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos.”, além de mencionar que aquela seria sua última refeição. Ou seja, o “burro” já está em seus últimos instantes, quase morto.
Durante toda a crônica, Machado faz fortes críticas aos maus tratos sofridos pelos trabalhadores da época, onde o escravo só podia apanhar e, se ameaçava falar, apanhava novamente. Podemos ver isso claramente em trechos como: “... Um menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para esperta-lo, então eu não sei conhecer meninos...” ou “...O destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar.“; “Quando algum homem, desses que chamam patuscos, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara.”; E“O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, em resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conformidade.”Em resumo, tinham que aguentar tudo calados, já que não eram
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