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Análise De Poema

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Por:   •  18/11/2013  •  1.636 Palavras (7 Páginas)  •  645 Visualizações

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Sentimento do Mundo - Análise da obra de Carlos Drummond de Andrade

Publicado pela primeira vez em 1940, "Sentimento do mundo" é a terceira obra de Drummond e reúne 28 poemas. Neste livro, o poeta abraça de vez a poesia de cunho social, refletindo o momento de instabilidade e inquietação dos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Porém, a temática do eu (a terra natal, o indivíduo, a família etc.), muito presente nos seus livros anteriores, ainda aparece com destaque em Sentimento do Mundo.

Os poemas deste livro foram escritos entre 1935 e 1940, época em que o mundo tentava se recuperar da Primeira Guerra Mundial e enfrentava a ascensão de regimes totalitários: a Alemanha de Hitler, Franco na Espanha, Mussolini na Itália e o Estado Novo de Getúlio Vargas no Brasil. E, dentro deste contexto histórico-social, o poeta individualista de Alguma Poesia e Brejo das Almas revê seu fazer poético e toma consciência do mundo, voltando-se para a experiência coletiva.

Porém, mesmo o poeta estando mais preocupado em escrever poesia social, a temática do eu continua ocupando lugar de destaque em Sentimento do Mundo, mas dessa vez com uma pitada de ironia e com um sentido mais universal. Assim, o eu não aparece mais como um indivíduo isolado, mas sim como alguém presente e conectado ao mundo. Aqui, o eu volta-se para assuntos mais universais e este seria o sentimento novo da poesia drummondiana a partir de então.

Na vanguarda do movimento modernista (que já demonstrava sinais de esgotamento em 1940), Drummond renova sua temática existencial, buscando novos caminhos para temas como o amor, a morte e o tempo. Ainda bebendo da fonte modernista, os poemas de Sentimento do Mundo não possuem rima e seus versos têm as mais diversificadas métricas, tendo até um poema em prosa ("O Operário no Mar").

Apesar de em "Sentimento do Mundo" Drummond ter tomado consciência do indivíduo num mundo que precisa ser salvo, ele reconhece também o fatal distanciamento entre os homens. Através da utilização constante do vocativo, como se chamasse o povo para uma união coletiva, dá-se vazão à ânsia do eu-poético de reunir os homens.

Essa vontade de união entre os homens contrasta com a pessimista e sombria visão de mundo do autor. Embora o eu-lírico seja completamente descrente do presente e não acredita em dias melhores, no fundo há uma utópica esperança permeando todos os poemas do livro. Através do uso constante do vocativo e da terceira pessoa do plural, pode-se concluir que esta esperança de dias melhores nasce do ser coletivo, do "nós". Somente com a união entre os homens é que se pode escapar desse presente sombrio e tenebroso.

O espaço interior aparece como símbolo de proteção, sendo intimamente associada a um privilégio de classe. Como exemplo, temos os moradores do "terraço mediocramente confortável" de "Privilégio do Mar", a princesa que mora numa "casa feita de cadáveres" (ou seja, em ruínas) em "Madrigal Lúgubre" e até mesmo o eu-lírico de "Mundo Grande". Nesses momentos é que a posição de nosso eu lírico torna-se crítica, pois será exatamente essa atitude alienada do burguês, que busca refúgio em um espaço fechado, que Drummond denunciará nesses e em outros poemas de Sentimento do Mundo.

Análise dos principais poemas do livro

"Sentimento do Mundo" - Aqui o poeta nos revela sua limitação e impotência perante o mundo ("tenho apenas duas mãos/ e o sentimento do mundo"), mas se declara "cheio de escravos". "Sentimento do mundo" pode ser entendido também como um poema sobre o próprio fazer literário ("minhas lembranças escorrem"), onde os poemas ("escravos") surgem como armas ("havia uma guerra/ e era necessário/ trazer fogo e alimento") resultantes do "sentimento do mundo" do qual o poeta se conscientiza a partir dessa obra. Drummond revela neste poema uma visão de mundo extremamente pessimista, com um amanhecer "mais noite que a noite".

"Confidência do Itabirano" - A alienação e o sentimento de dispersão que aparecem no primeiro poema do livro ("Sinto-me disperso,/anterior a fronteiras") são vistas como consequências do isolamento geográfico e social de um eu marcado pela decadência ("Tive ouro, tive gado, tive fazendas./Hoje sou funcionário público."). "Confidência do Itabirano" se fundamenta em uma série de antíteses ("vontade de amar" versus "hábito de sofrer", etc.), em um impasse poético entre o coletivo ("ferro nas calçadas") e o individual ("ferro nas almas"). A dor do poeta não é apenas causada pela saudade da terra natal, mas também pelo destino do país, que se modernizava e esquecia cidades como Itabira, que é "apenas uma fotografia na parede".

"Poema da Necessidade" - as inquietações e preocupações impostas pelo ritmo frenético da vida moderna são representados um atrás do outro por meio de repetições (anáfora). As necessidades que nos são impostas (ler isso, acreditar naquilo, fazer aquilo outro) contrastam com as necessidades mais básicas e verdadeiras do homem: "É preciso viver com os homens/é preciso não assassiná-los". A necessidade de agir de acordo com os padrões e reprimir o ego esbarra no desejo íntimo.

"O Operário no Mar" - poema em prosa cujas imagens rompem a barreira do real fundamentando-se em bases surrealistas. O operário, figura idealizada do movimento socialista, aparece como um Cristo ("Agora está caminhando no mar"), mas seu corpo não é santo ("aparentemente banal") e não há nenhuma coisa que o ajude a passar pelas turbulências ("não vejo rodas nem hélices no seu corpo") do cotidiano. O poeta deixa claro que há uma diferença entre o trabalho braçal do operário e o trabalho (talvez cômodo) do fazer poético ao dizer: "Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar". Mas há um sorriso que liga os dois e a esperança de que no futuro o eu-poético consiga compreender o operário.

"Canção do Berço" - neste poema o poeta transmite através de uma irônica amargura a mensagem de que o futuro já está marcado desde o berço: o amor, a carne, a vida, os beijos ou mesmo o mundo não têm

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