As Crônicas De Noel Rosa
Trabalho Universitário: As Crônicas De Noel Rosa. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: lucienecaruso • 2/9/2014 • 2.474 Palavras (10 Páginas) • 403 Visualizações
FACULDADE PINHEIRO GUIMARÃES
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
HABILITAÇÃO: JORNALISMO
Aluno: Luciene Angles C.
As crônicas de Noel Rosa: O jornalismo expresso através da música
Anteprojeto de monografia apresentado como requisito para avaliação na disciplina “Trabalho de Conclusão de Curso I” do Curso de Comunicação Social (habilitação: Jornalismo) da Faculdade Pinheiro Guimarães, disciplina ministrada pelo prof° Marcelo Carvalho no 1° semestre de 2011.
Rio de Janeiro, 26 de abril de 2011
Hipótese
A cidade do Rio de Janeiro nos 30 é reconstruída por Noel Rosa através da poesia e da música, com seus bairros típicos, cultura e os personagens que habitavam o cotidiano criando recortes e deslocamentos da história de forma poética andando na contramão da repetição dos paradigmas do seu tempo. Noel é vanguardista quando abandona a sintaxe parnasiana e a morfologia redundante, para dar conta de uma cidade que não está nos livros de história e com isso traz para sua obra e para a própria música a significação destes fatos e personagens através de uma linguagem cheia de novos significantes.
Seria então Noel Rosa o grande cronista carioca? As letras expressas em suas canções, contam fatos do cotidiano da cidade, pessoas, lugares, e dessa maneira, estaria ele fazendo jornalismo através da música?
Introdução:
Noel Rosa foi sambista, cantor, compositor, bandolinista, violonista e um dos mais importantes e maiores artistas da música brasileira.
Foi ele que na década de 30 juntou o morro e o asfalto através de suas canções.
Sua visão ampla e realista fez dele mais do que artista um grande cronista brasileiro. Através de sua obra podemos observar o cotidiano da época e entender o processo político e social da cidade do Rio de Janeiro.
A crônica jornalística é um gênero narrativo que segue uma linha temporal. Ela narra os fatos do cotidiano e se comunica pela literatura.
Trataremos nesse trabalho, da questão do jornalismo como crônica, inserido nas canções do autor.
Noel Rosa teve uma vasta e densa produção apesar do pouco tempo de vida. Produziu aproximadamente trezentas músicas, fruto de basicamente oito anos de trabalho que vai de 1929 até 1937. Dentre suas músicas existem clássicos do cancioneiro popular que contam casos da cidade, e falam da vida política e social de seu tempo se incorporando ao imaginário social coletivo.
Ele começou a escrever ainda cedo, no colégio São Bento, onde editava o jornalzinho “O Mamão” manuscrito de ambos os lados, satirizando professores, contando anedotas e fazendo críticas ao colégio.
Grande observador da cidade, Noel ironiza as máximas da civilização como um típico cronista trazendo para a canção o dia a dia dos cariocas, seus costumes e dramas.
Com um formato tão íntimo e familiar, foi talvez o compositor que mais tratou da cidade do Rio de Janeiro.
Fugindo do padrão de seu tempo, Noel busca o caminho do perene e universal -contando em suas letras, as histórias da cidade - ao contrário de seus contemporâneos que transitavam no campo do folclorismo, modinhas e do romantismo açucarado.
Grande na construção de sambas, Noel apresenta neles os fragmentos da rotina e do corriqueiro, que não interessam ao sistema oficial e nem estão presentes nos livros de história.
Poderíamos arriscar dizer que se estivesse vivo no tempo da internet, teria um blog para poder se expressar livremente sem tomar qualquer partido a não ser o dele mesmo.
Questão:
A crônica assim como o texto informativo produzido pelos jornalistas é pautada em acontecimentos cotidianos que constituem a base histórica, porém, diferente da notícia, a crônica pode levar toques pessoais do autor do texto, elementos como ficção, fantasia e criticismo, situando-se entre o Jornalismo e a Literatura, fazendo com que o cronista possa ser considerado o poeta dos acontecimentos do dia-a-dia.
Narrada em primeira pessoa, a crônica é um texto curto, que dialoga com o leitor, transmitindo a visão do autor sobre determinado assunto.
O que nos apresenta o compositor-cronista está próximo do que aponta
Beatriz Resende, em sua Tese:
A concepção de história como articulação entre passado em ruínas e a tempestade do progresso que o futuro traz, reagindo contra a representação homogênea ou contínua da história,propondo a compreensão do fragmentário, parece-nos a única capaz de conviver com a leitura de crônicas de um momento anterior ao nosso. Elas serão, então, percebidas como alegorias iluminadoras de nosso próprio cotidiano (RESENDE, BEATRIZ, ANO1999, p. 37).
Noel é um híbrido de Sambista, repórter e poeta que eterniza pequenos fatos do cotidiano e reporta ao ouvinte as histórias da cidade como no caso de Quando o Samba Acabou, que podem ter circunstâncias e fatos ligados a vida do autor ou até mesmo ser baseado em uma corriqueira notícia de jornal e apresenta vários traços de crônicas:
Lá no morro da Mangueira
Bem em frente à ribanceira
Uma cruz a gente vê
Quem fincou foi a Rosinha
Que é cabrocha de alta linha
E nos olhos tem seu “não sei quê”
Numa linda madrugada
Ao voltar da batucada
Pra dois malandros olhou a sorrir
Ela foi-se embora e os dois ficaram
Dias depois se encontraram
Pra conversar e discutir
Lá no morro uma luz somente havia
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