CONTO A TRISTE HISTÓRIA DE EREDEGALDA, SEGUNDO A TEORIA DA LEITURA
Por: Patricia Bernardes • 31/5/2018 • Pesquisas Acadêmicas • 4.720 Palavras (19 Páginas) • 5.037 Visualizações
CONTO A TRISTE HISTÓRIA DE EREDEGALDA, SEGUNDO A TEORIA DA LEITURA
JOSÉ MAURO BRANT
Patrícia Bernardes Mendanha
Universidade Estadual de Goiás (UEG – Goiás)
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Resumo: Este paper tem como objetivo analisar o conto A Triste História de Eredegalda, de José Mauro Brant (2013), sob a perspectiva dos teóricos BARTHES (1987), CANDIDO (1972), ECO (2012) AFRÂNIO ( e CH0ARTIER (2011). Por conseguinte, esta análise propõe mostrar meios de interpretações que o leitor pode ter de um texto ou livro. E o papel do leitor quanto colaborador de sentidos.
Palavras-chave: Eredegalda, leitor, sentido.
“A Literatura, como toda arte é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade.” (Afrânio Coutinho)
Considerações iniciais
A epígrafe de Afrânio, diz como os autores podem se comunicar com o leitor, transmitindo aquilo que está em seu espírito. Faz com que ele transmita para o leitor, em formas de palavras, dentro de uma narrativa, aquilo que aconteceu com sua realidade contemporânea, para que o leitor possa compará-la com a realidade moderna. Nesse sentido o autor usa técnicas de escrita, como descrever a experiência humana vivida por ele na contemporaneidade, assim atrai o olhar do leitor, para a sua realidade fazendo com que ele seja capaz de interpretar a literatura e o texto em análise, envolvendo-o com a modernidade. Dessa maneira, a literatura tenta mostrar para o leitor, que independente do local, da época e de sua estrutura, o autor vai além de suas escritas e descrições, manifestando-se o poder do belo, que há em uma obra, expondo para o leitor fatos passados, possibilitando um diálogo com fatos presentes.
Diante destas considerações, o trabalho tem como objetivo analisar a narrativa do conto A Triste História de Eredegalda, de José Mauro Brants (2013), obra esta destinada aos alunos das escolas públicas do ensino fundamental básico.
composta por 272 paginas e 39 capítulos, obra em que o autor faz uma autobiografia, provando para o leitor que é possível uma obra ser somada aos elementos pessoais e os sociais. E “Conta de dividir e trinta e seis bolos” que está presente no livro “O tesouro da casa velha” (1989), obra póstuma da autora Cora Coralina, contendo dezenove contos, nos quais a escritora “...soube transformar sua vivência em agudíssima memória e essa memória em verdadeira expressão de arte [...] que são registros históricos e sociais de uma época em que ela mesma foi personagem” (VERAS, 1989, p. 5). Ela expõe sua vida para leitor, transformando o “negativo algo fascinador” (FRIEDRICH, 1991, p. 44). Além de dedicar-se aos contos que relembram memórias vividas pela a autora, Cora Coralina também dedicava-se parte de sua vida, escrevendo lindos poemas, que por sinal dialogavam com seus contos.
O início do Romance no século XVIII, na Inglaterra
No século XVIII, o homem comum encontra no contexto da Inglaterra, o espaço apropriado para a escrita do “eu”, em virtude principalmente, da queda do absolutismo, acontecimento que contribuiu para a resolução do individualismo moderno. Esse individualismo está relacionado á consciência da liberdade de ascendência econômica e social da classe burguesa: o homem burguês é visto como um indivíduo empreendedor que tem no “eu” a medida do mundo.
Segundo Costa Lima (1986), antes do século XVIII, a experiência do “eu” sempre se integrava a um modelo de conduta, geral e por conseguinte, impessoal. Nesse sentido, antes desse período, não era adequado, referir-se a autobiografia ou a qualquer outro modelo ou narrativa que manifesta-se a confissão, com base no cotidiano do homem comum.
No contexto histórico-cultural da ascendência da burguesia, o romance manifesta-se como a fonte principal de entretenimento e de notícias dos ingleses, por descrever os interesses íntimos e a vida cotidiana da sociedade burguesa.
Destacaram-se na época, os romancistas Daniel Defae e Samuel Richardson, pois eles enfatizaram em suas narrativas ficcionais, aparências da realidade vivida. Daniel Defae, em “Robinson Crusoé”, atinge um nível tão elevado de verossimilhança na apresentação dos episódios narrados, que o leitor fica convencido de sua transparência.
A verossimilhança do romancista de Defae toca no ponto crucial da narrativa autobiográfica, sendo a transparência do relato. O diário de Robinson Crusoé soa verossímil e conveniente, mas os fatores textuais e para-textuais apontam para a sua ficcionalidade, pela a nomeação do personagem que vive um naufrágio, sendo Robinson Crusoé e não Daniel Defae, o escritor de carne e osso, que nunca saiu da Inglaterra e nem passou vinte e oito anos de sua vida em uma ilha deserta.
O caminho para o Romance Memoralista Brasileiro
O romance passou por uma longa fase de desenvolvimento. Embora, na segunda metade do século XVIII o romance tenha se espalhado por toda a Europa, foi segundo Ferinc Féher, no século XIX que atingiu o apogeu, época que correspondeu ao Romantismo e, depois ao Realismo. Féher (1972) diz que “o século XIX é o período do triunfo do romance, durante o qual, a epopeia burguesa afasta irresistivelmente de seu caminho todos os seus concorrentes vetustos.”
O ápice do novo gênero, foi tão prazeroso, que a partir de 1850, ele foi associado, basicamente ao surgimento de obras-primas como as de Flaubert, Zola, Dostoieveski, Talstói, Eça de Queirós, Joseph Conrad e o nosso querido Machado de Assis. Estes já encontravam-se cansados das idealizações românticas e foram motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época, sendo assim, os escritores buscam por uma da arte mais objetiva, que retrate o homem e o momento, porém ficam evidente sua face não revelada até o então: o cotidiano massacrante, o casamento por interesse, o amor adúltero, a falsidade, o egoísmo e a impotência do ser humano comum diante dos poderosos.
O romance enfrenta uma relativa queda no século XX, tal queda se deu por causa das Guerras Mundiais e do surgimento de formas de expressão visual como a televisão e o cinema. Mas isso não o impediu de se desenvolver, como diziam alguns historiadores literários, ao contrário “depois da Guerra de 1939-1945, enfrentando na tempestade dos que forcejavam por enterrá-lo, o romance portanto se renovou profundamente e sobreviveu”. (Konder, citado em Fehér 1972). A sua produção se mantém estável graças a consideração da prosa intimista/psicológica, que já vinha sendo desenvolvida no século anterior e que no século XX, consegue uma abordagem mais profunda, Idem (1972) diz que “a melhor maneira de refutar a tese da morte do romance seria exatamente essa: indicar os romances que estão surgindo e deixar falar os fatos”.
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