Coleções de provérbios, enigmas e fábulas
Resenha: Coleções de provérbios, enigmas e fábulas. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: davyla • 9/4/2014 • Resenha • 1.345 Palavras (6 Páginas) • 317 Visualizações
de uma grande série de testos de potes, seguida de colecções de provérbios, adivinhas e fábulas.
Foi em 1946, que ouvimos falar, pela vez primeira, nos testos de potes dos Cabindas. O colega, que deles nos falou, deu nos então uma explicação resumida do significado dos mesmos.
No ano seguinte vimos nas bagagens de outro missionário um certo número desses objectos.
Agora, de passagem por Lisboa, tivemos o prazer de ler o presente estudo sobre o mesmo. tema, que julgamos ser o primeiro a publicar-se.
O que caracteriza essencialmente os testos não é o facto de serem esculpidos e terem um certo valor artístico, mas sim a particularidade de, por meio deles, se transmitirem mensagens, se assim podemos dizer. São como que «cartas» dirigidas a alguém, segundo a expressão do autor da obra.
Sabíamos que em varias partes da África existe a transmissão de mensagens curtas e estereotipadas por meio de som - conforme a oscilação e a sequência desses sinais auditivos - tirados do tambor ou do batuque.
No caso presente, não se trata de sinais emitidos por membranas. Estamos em presença de sinais visuais, expressos, através de figuras gravadas em madeira, que querem dizer alguma coisa: constituem os elementos de uma transmissão de ideias. Nesta originalidade de expressão, não conhecemos fenómeno similar, no campo da etnografia.
Tal arte parece aproximar-se da escrita ideográfica dos chineses e também da hieroglífica dos egípcios. Talvez se possa chamar pictografia - no sentido lato do termo - destinada a transmitir um número restrito de assuntos.
Isto quanto à caracterização e classificação gerais.
Mas desçamos ao concreto.
Antes de mais, convém observar que, para pôr em harmonia o significante e o significado - ou em palavras mais simples -, para tirar um sentido das figuras esculpidas nos testos «falantes», é necessário proceder com muita arte e grande sabedoria, e conhecer perfeitamente a relação existente entre as figuras e os provérbios, dos quais o povo, em estudo, possui um tesouro muito variado.
E' praticamente impossível conseguir tal decifração sem recorrer aos velhos do povo de N'Goyo, Kakongo e Loango, mais conhecido por Cabinda, uma vez que são os únicos depositários validos e orais da sua cultura.
Foi graças ao seu auxílio que o Padre José Martins Vaz pôde reunir uma colecção de 276 peças e, o que é mais importante, interpreta-las. Para isso teve também de entrar nos meandros da etnografia local.
Tal auxílio dos anciãos torna-se ainda mais indispensável, quando se, sabe que, há cerca de 70 anos, caiu em desuso a oferta mútua de testos, o que equivale a dizer, o emprego da engraçada e singular linguagem pictórica. Tanto mais é de felicitar o autor por ter arrancado ao olvido um dado etnográfico tão significativo.
Cada figura apresenta uma locução proverbial, contendo muitas vezes uma admoestação ou sentença moral.
Como se opera, partindo de uma imagem, tal evolução de ideias, no espírito de um Cabinda?
As vezes, é directamente pelo objecto representado. Por exemplo, um cogumelo. A sua presença quer dizer: onde se comem cogumelos é sinal que há uma rapariga que os foi buscar ao mato. Por extensão temos aqui representada a grande soma de trabalhos e canseiras da mulher Cabinda.
Outras vezes, porém, as figuras sugerem uma locução metafórica, o que é muito consentâneo com o pensamento pouco discursivo - diga-se, para evitar mal entendidos - directamente discursivo desses povos.
Exemplo: o esquilo e a árvore com uma toca.
Sentido directo: quando chove, o esquilo tem onde se abrigar.
Sentido interpretativo: quando a mulher é maltratada pelo marido ela encontra protecção junto da família.
Antes de continuarmos estas considerações, seja-nos permitido referir um modo de proceder, um tanto ou quanto análogo, não na forma de transmissão, mas pelo emprego de metáforas:
No planalto da Huila, entre a etnia dos Nhanecas, quando se quer-verberar um defeito de algum vizinho, que tenha repercussões sociais desagradáveis, existe o costume de dar a um filho, ou a um cachorrinho, um nome que é a primeira, ou as duas primeiras palavras de um provérbio, tendo este muitas vezes sentido caustico. Assim cada vez que se chame pelo filho, ou pelo cão, o visado terá de "engolir a pílula".
Na série de rifões analisados pelo Padre António Silva há um em que a carapuça se aplica à mulher que foi visitar a «família», sem trazer nada para casa.
O provérbio em questão é este: «A mulher foi à floresta dos omipapas (árvores que dão lenha muito boa para o lume) e nem sequer trouxe uma acha.»
O cachorrinho vingador terá o nome, posto pelo marido, de «foi aos omipapas». (Vide Revista Portugal em África»- 1947-Pag. 270).
O estudo ora publicado sobre os bilhetes esculpidos dos Cabindas, apesar do seu valor ímpar e do seu sugestivo interesse, não deixa inteiramente satisfeito o leitor, com certa curiosidade etnográfica, pois, apesar de se referir a muitos aspectos da vida deste povo ele pretende ser uma simples síntese ou ficheiro, no dizer textual do autor, exige um trabalho mais completo e desenvolvido, mais
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