Concepção de linguagem
Tese: Concepção de linguagem. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: rinaldo123 • 6/10/2013 • Tese • 2.120 Palavras (9 Páginas) • 381 Visualizações
O trabalho com a língua portuguesa na perspectiva dos gêneros textuais
(Texto de orientação teórica do Caderno Pedagógico 01 – Sequência Didática: uma proposta para o ensino da Língua Portuguesa nas séries iniciais – AMOP – Cascavel, 2007 com adaptações)
1- Concepção de linguagem
A concepção de linguagem que hoje orienta esta proposta metodológica de trabalho com a língua é a do sociointeracionismo, a qual reconhece a natureza social da linguagem enquanto produto de uma necessidade histórica do homem de organizar-se socialmente, de trocar de experiências com outros indivíduos e de produzir conhecimentos.
Nessa perspectiva, a linguagem é compreendida como forma de interação, uma vez que permeia todos os nossos atos, articulando nossas relações com os outros, com os objetos e com o meio, constituindo-nos enquanto sujeitos, diferenciando-nos, enfim, dos animais pela nossa capacidade de abstração. Dessa forma, a linguagem, segundo Geraldi (2005, p. 41), é o "lugar de interação humana. Por meio dela, o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria levar a cabo, a não ser falando; com ela o falante age sobre o ouvinte, constituindo compromissos e vínculos que não preexistiam na fala". Devido, portanto, à sua natureza social, entendemos, assim como Geraldi, que a linguagem só se realiza por meio da interação, dentro de situações concretas de produção.
Se reconhecemos, portanto, a natureza social da linguagem, devemos admitir o caráter dialógico e interacional da língua, pois tudo o que dizemos ou escrevemos, dirige-se a interlocutores concretos que, numa relação dialógica, trocam ideias sobre o mundo e nosso conhecimento se constrói nesse processo de interação. Conforme Bakhtin (1997), a língua reflete as relações sociais "relativamente estáveis" dos falantes. Logo, ela carrega marcas de sua história, de quem a produz, do lugar onde é produzida e em função de que(m) é empregada. Dessa forma, conhecemos a nossa língua não através de dicionários e manuais, mas sim pelos enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na interação com as pessoas que nos rodeiam.
2- Os gêneros textuais como objeto de ensino
Considerar a natureza social da linguagem e o caráter dialógico e interacional da língua significa reconhecer os gêneros como a materialização da interação entre os sujeitos que, por intermédio do uso da língua, elaboram formas mais ou menos estáveis de discursos que, segundo Bakhtin (1997), revelam a esfera social à qual pertencem. Cada esfera social (jurídica, familiar, literária, jornalística, científica, entre
outras) tem um discurso que lhe é próprio e que a representa nas diferentes situações discursivas. Esses discursos, por sua vez, concretizam-se em textos socialmente construídos, denominados por Bakhtin (1992) de Gêneros do discurso e por Bronckart (2003) de gêneros textuais1".
Mas, o que são gêneros textuais? Para simplificar essa definição, podemos dizer que os gêneros textuais são os textos que circulam em nossa sociedade, presentes no nosso dia a dia, seja em casa, no trabalho, na rua, na igreja, no mercado, enfim, espalhados por todos os lugares. Por onde formos, encontraremos um texto de um determinado gênero nos informando, instruindo, persuadindo, ensinando, entre tantas outras funções sociais que exercem. Para Marcuschi (2003), os gêneros são os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica.
Perfeito (2005a) explica essas características:
- conteúdo temático: "o que é que pode ser dizível nos textos pertencentes a um gênero". (BRASIL, 1998, p.21);
- construção composicional: a estrutura (o arranjo interno) de textos, pertencentes a um gênero;
- estilo: os recursos linguístico-expressivos do gênero e as marcas enunciativas do produtor do texto.
Para tornar mais concreta essa definição, a figura abaixo representa uma esfera social e alguns dos muitos gêneros produzidos por essa esfera. Vejamos:
2.1- Gêneros textuais X Tipologia textual
A tipologia textual está relacionada com a composição interna do texto, isto é, com as sequências discursivas que nele predominam. Por sequência discursiva entenda as partes (palavras, frases, parágrafos, desenhos, cores...) que organizam o discurso, isto é, os elementos sintáticos, semânticos (verbais e não-verbais), gramaticais, que organizam internamente o gênero textual. Enquanto os gêneros textuais são incontáveis devido à sua grande quantidade e ao surgimento de novos gêneros diariamente, os tipos textuais abrangem apenas cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narrativas, argumentativas, expositivas/explicativas, descritivas, injuntivas (e dialogais).
Assim, se tomarmos como exemplo o gênero textual Fábula, normalmente o classificamos como "de tipo narrativo" porque predomina, na sua organização interna, sequências discursivas narrativas. Isso não significa, porém, que um texto desse gênero seja organizado, internamente, apenas por esse tipo de sequência; ao contrário, nele encontramos, muitas vezes, a descrição. Vejamos:
Três bois sempre dividiam tudo entre si. Um leão, querendo comê-los, não o conseguia por causa de sua união. Desuniu-os, então, com palavras enganosas e os separou um dos outros. E, ao encontrar cada um deles separadamente, devorou-os. La Fontaine (adaptação)
Este exemplo ilustra bem como a tipologia é constituída dentro de um gênero textual. Embora o texto apresente sequências descritivas (primeira linha e início da segunda), o que realmente predomina são as sequências narrativas, o que caracteriza, portanto, o texto como narrativo.
Dessa forma, dificilmente encontraremos um texto (seja de que gênero for) constituído apenas por um tipo de sequência. Na verdade, ele pode ser composto por duas, três e até mais sequências discursivas. Porém, uma delas sempre predominará, definindo, assim, a tipologia textual. O quadro abaixo apresenta uma pequena demonstração dessa relação entre esfera social, gêneros e tipologia.
Injuntiva
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