Discurso E Silêncio

Nesta obra, a autora apresenta a questão do silêncio numa diferente linha de raciocínio, como uma parte fundamental da linguagem em suas situações.

Eni Orlandi traz a temática do silêncio como um fundamento no qual é significante por si só (fundante), ele vem antes da linguagem e tem demasiada importância.

No livro, entra-se no elemento político da linguagem quando apresenta o conceito da “política do silêncio”: tomar ou tirar a palavra, obrigar a dizer ou silenciar, ter posição de fala etc.

Sendo assim, a autora divide o silêncio como fundador (o silêncio não fala, ele significa) e a política do silêncio, subdividindo-se esta última em silêncio constitutivo (o dizer que cala algum sentido) e local (censura).

Segundo a autora, o homem, no início de sua história, usava predominantemente o silêncio em sua introspecção e, com o passar do tempo, essa atitude introspectiva deu lugar à verbalização cada vez mais presente e efetiva.

Conforme proposto pela obra, a sociedade atual exige a fala e a consequente exclusão parcial do silêncio (ou total, pois “um homem sem fala é um homem sem sentido”). Pois então, o homem é obrigado a exercer sua sociabilidade (neste caso, usando a fala), já que em silêncio ele não tem sentido. Deste modo, o silêncio não é tido como mediador das relações entre linguagem, mundo e pensamento.

Nota-se uma reversão dos conceitos tradicionais da linguagem, colocando-se sempre o silêncio como um princípio fundamental, por exemplo: não pensar o silêncio como falta, mas a linguagem como excesso; comparar o mar como sendo o silêncio e suas ondas como a fala (ou seja, a fala é apenas o “movimento periférico” do silêncio).

Na política do silêncio são postas em análise as posições da opressão e do oprimido (este com maior enfoque, sendo apresentados vários exemplos de artistas que usaram tais recursos em sua obra, como Chico Buarque na música Cálice) em suas formas de silêncio.

Percebo que Eni Orlandi foi muito “feliz” em suas colocações, mostrando uma teoria inteligente e de bom embasamento, com argumentos bem elaborados. De forma geral, é interessante como a questão do silêncio é abordada e a sua importância no movimento dos sentidos.

Eni Orlandi é autora de outros livros no campo da linguística e análise de discurso, como “Discurso e Leitura”, “Língua e Conhecimento Linguístico", “Discurso Fundador” e “Política Linguistica na América Latina”.