Ella é o todo
Por: Rondinelle Boning • 17/4/2015 • Tese • 1.394 Palavras (6 Páginas) • 199 Visualizações
R.S.Boning
ELLA
Parte Um
Nicholas
— UM —
O Milagre e a Maldição
M
eu nome é Nicholas Figueiredo Bergamin e eu sou o homem mais sortudo do mundo. Fui abandonado no lixo pela minha mãe, uma provável adolescente viciada em drogas que não tinha as mínimas condições de cuidar de uma criança. Tudo bem até ai, mas acho que não seria necessário me abandonar no lixo. Hoje eu já sou um homem feito e penso que se você tem plena consciência de que não pode cuidar de uma criança, nem tente fazer uma. Ou, então, talvez, se eles realmente não podiam cuidar de mim, que pelo menos me deixassem em um orfanato, ou algo assim.
As pessoas são muito egoístas e só pensam no calor do momento, nem passa pela cabeça delas que você pode envolver um inocente nisso.
Certo.
Minha mãe foi imatura e meu pai, provavelmente, um adolescente sem nenhum tipo de responsabilidade. Por isso gosto de me ver como um homem de sorte.
Fui encontrado por um gari, enrolado em várias sacolas plásticas, dentro de uma caixa de sapatos. Condições mais do que propicias para que eu estivesse morto hoje, mas não estou. Por sorte, ou por um ‘milagre’, como eu gosto de chamar, fui encontrado pelo Sr. Adolfo, o meu pai, que hoje já está morto, mas se ele estivesse vivo eu lhe deveria a minha vida, literalmente falando. Ele mesmo, quando ainda estava vivo, me contou várias e várias vezes essa história do dia em que me encontrou: “Ouvi um choro, o seu choro. Primeiramente achei que fosse o miado algum filhotinho de gato revirando o lixo, mas quando me aproximei, vi que o som abafado vinha de uma velha caixa de sapatos, quando abri a caixa quase desmaiei, não era um gato, havia um bebê enrolado em sacos plásticos, quase morrendo sufocado. Rasguei as sacolas e te tirei de lá, as lágrimas rolavam pelo meu rosto. Liguei para a policia e em minutos duas viaturas chegaram, te tiraram de mim. Você foi levado para o hospital, ficou internado alguns dias, sua história foi contada em todas as emissoras do país. Todos se emocionaram com a minha entrevista, contando como te achei. Centenas de possíveis novos pais adotivos começaram a surgir para você: madames que adoram aparecer na mídia e posam como boas samaritanas, casais ricos, e até possíveis avós legítimos, mas o DNA pago pelo governo – que desejava solucionar logo esse problema – provou que eles não eram seus avós”.
“De verdade, eu acho que era meu destino cuidar de você. Eu já era casado, tinha uma esposa, mas não possuía um filho. Apesar de uma profissão humilde, vivia bem e nunca deixei faltar comida na mesa. Achei muitas coisas valiosas nesse meu trabalho, como na vez que encontrei uma carteira recheada de dinheiro, mas você é o maior tesouro da minha vida. Quando disseram que eu poderia ficar com você, foi uma alegria infindável, indescritível. Assistentes sociais nos visitavam quase toda semana, recebemos muitas doações. Roupas, leite, fraudas, berço, carrinho de bebê. O garotinho que hoje poderia estar morto, ganhou uma nova chance e em apenas um dia, centenas de padrinhos que ofereciam um futuro próspero para você. Todos queriam te ver, te pegar no colo, você foi uma celebridade por muito tempo”.
E eu realmente fui uma celebridade. Apareci em todos os jornais do país, mais uma vez, mas com 35 anos de idade. Um dos desconhecidos que me apadrinharam quando fui encontrado no lixo, havia morrido. Apesar de ter pago os meus estudos na melhor escola particular do estado, apesar de ter bancado todos os meus gastos com roupas, alimentação, calçados e viagens, durante toda a minha vida, eu nunca o tinha visto pessoalmente. Seu nome de batismo, Claudemir Silva, não representava nada para mim ou para o país, mas o codinome e marca Humberto Bohaz eram muito conhecidos. Ele era dono de uma das maiores redes de Shoppings Center’s do Brasil. O empresário de apenas 65 anos tinha dedicado toda sua vida ao seu império. Nunca se casou, nunca teve um filho, viveu para trabalhar e morreu trabalhando.
Agora deve estar se perguntando por que eu apareci em todos os jornais mais uma vez? Bem, o Sr. Claudemir Silva, ou Humberto Bohaz, como preferir, deixou todo o seu império, negócios, ações, imóveis, automóveis e toda a rede dos Shoppings Bohaz, no meu nome, passado em testamento. A noticia pipocou em todos os jornais de todo o mundo. O bebezinho encontrado no lixo voltou ao estrelato, mas ao invés do lixo, agora era a vez do luxo me levar ao auge.
O que se seguiu já era de se esperar: fui processado por várias pessoas que diziam ser filhos, primos, sobrinhos, ou um parente distante de Bohaz e que por lei, tinham direito a parte ou a toda herança deixada por ele. Nenhum deles venceu, ou mesmo tinham algum laço sanguíneo com o falecido. Três anos depois, tudo o que era de Humberto Bohaz passou a ser meu e dos meus pais adotivos. Mudamos-nos da casinha simples para uma mansão, meu pai largou o trabalho e eu passei a ser o presidente dos negócios Bohaz. Trabalhei duro. A empresa cresceu ainda mais, com toda essa mídia nos rodeando a todo instante, atrás do novo escândalo. Paparazzi’s me perseguiam, criando histórias de romance entre possíveis acompanhantes de luxo e eu. Não que fosse totalmente mentira. Eu sempre tinha uma nova namorada, mas a culpa não era minha, deixe-me explicar melhor:
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