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Glauco Mattoso

Por:   •  26/5/2015  •  Artigo  •  2.080 Palavras (9 Páginas)  •  190 Visualizações

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA

Flávia Martins Louro

GLAUCO MATTOSO

Temas malditos e sonetos.

Osasco

2014


  1. Glauco Mattoso.

Com o nome de batismo de Pedro José Ferreira do Nascimento, mas assinando suas obras com um pseudônimo, Glauco Mattoso, é conhecido por sua extensa obra, que vem sendo compartilhada no meio literário desde a ditadura militar brasileira. Glauco, pseudônimo nomeado primeiro por Pedro ser portador de glaucoma, e segundo por ser admirador de Gregório de Matos; a este, admiração que torna sua obra uma ligação à severidade do mesmo.

O presente trabalho pretende discorrer uma análise geral sobre a obra poética de Glauco Mattoso; também conhecido como “poeta maldito” por tratar de temas não habituais antes, já que são considerados, até hoje, temas de escória. Pedro José Ferreira do Nascimento é o autor que está por trás de Glauco – também de outros -, e assim o nomeou por ser portador de glaucoma desde sua infância, e também por ser admirador de Gregório de Matos –  boca do inferno, pois tratou sua obra poética com os mesmo temas pouco usuais para um cunho mais subjetivo.

Desde o início de sua composição, Glauco Mattoso é admirado por críticos por seu estilo clássico aliado aos temas não usuais, e dão a ele uma fama de poeta marginal. Glauco não desfaz esta fama, já que em entrevista à tv Crónopolis, em 2010, o autor explica que ao passar por todas as dificuldades que a vida lhe trouxe (como por exemplo a cegueira, aos 40 anos), é como se nos poemas ele “vomitasse tudo” (MATTOSO, 2010). Esse tudo se estende aos mais ricos e distintos temas como: prostituição, violência, descriminação, sadomasoquismo, homossexualidade, podolatria, suicídio, e outros temas. Por isso, ainda nas palavras do escritor, “o problema é que falo da minha exclusão de forma suja e violenta.” (MATTOSO, 2010)

Contudo, quanto a ideia de ser uma poeta marginal, Glauco, em outra entrevista ao Estadão Cultura, em 29 de junho de 2010, deixa claro que a ideia de marginalidade atual difere da de sua época.

Glauco questiona a ideia de ser um “poeta marginal”, o que muitos criticos ainda acreditam ser a mais cabível, pois prefere deixar num passado menos maduro e com obras menos profundas.

“Já me chamaram de poeta "marginal", mas tal designação, no Brasil, restringe-se a uma geração informalista e colloquialista contemporanea, nos annos septenta, da rebeldia contracultural entre as Entrevista a Glauco Mattoso António Galrinho gerações hippie e punk, e, como ha muito já superei biographicamente tal phase, seria um adjectivo insufficiente, até porque só allude ao periodo em queeu ainda podia enxergar, no qual não produzi minha obra mais madura eabundante

Contudo, quanto à ser um poeta maldito, prefere que assim o seja.

“Ja me chamaram de poeta "maldicto", rotulo que ainda me cabe, pois minha postura anticonvencional, bem como minha thematica pornographica e politicamente incorrecta [...]”

Só que estes rótulos são pouco para a grandeza de suas criações. É certo que Glauco tem um pouco de cada adjetivo que lhe é atribuído, e para ele tudo é:

“Em certo momento, associei estes rotulos e me apresentei, pilhericamente, como um auctor "posmaldicto". Reconhecendo, ainda, que sou difficil de enquadrar pela methodologia academica, eu mesmo forjei alguns adjectivos appropriados ao meu caso lyrico, taes como "barrockista" (allusivo à influencia contracultural do rock e à influencia do preciosismo barroco) ou "pornosiano" (allusivo a um apuro formal como arcabouço duma thematica impura), afora outros que tambem se applicam à minha prosa, como "anarchomasochista", "deshumanista" e "desilluminista". De practico, mesmo, basta a constatação de que posso ser tido como herdeiro do eterno veio fescennino do idioma, que passa por Gregorio de Mattos ou Laurindo Rabello, no Brasil, e por Bocage, Madragoa ou Jazente, em Portugal, com equivalencias em Marcial, Aretino, Belli, Rimbaud ou Apollinaire, emfim.”

Criador de mais de um heterônimo, Glauco também é didaticamente separado em duas épocas de composição. A primeira, que diz respeito a uma parte de sua vida que a cegueira ainda não lhe tinha tomado posse, e que vai da década de 70 ao final da de 80, é posta, por Pedro Ulysses - um heterônimo do autor que tem como profissão crítico literário-, como a fase experimental, com composições que vão de poesia aos quadrinhos, ou poesia concreta; e de temas com sátiras brutais à ditadura militar brasileira, com gírias, palavrões e marginalidade. Quanto ao estilo, Glauco dialoga não só em conteúdo com seus poetas preferidos, mas também em suas formas fixas, que ainda que pouco utilizado na primeira fase, é o soneto.

O soneto Argentino, desta primeira fase do autor, mostra como é feroz ao tratar do tema ditadura com palavras fortes e ferozes, com palavrões que mostram a fúria deste poeta ao tratar de algo que vivia. O contraste deste vocábulo a delicadeza de um soneto, é o que mais impressiona.

SONETO 286 ARGENTINO

Durante a ditadura de Videla,

patota seqüestrava o cidadão,

mantido, clandestino, num porão.

Ali, menina virgem é cadela.

"Picana" ou felação? A escolha é dela.

Pudica, escolhe o choque, mas em vão:

seu corpo não resiste a uma sessão.

Acaba suplicando o pau na goela.

Quando ela chupa, ri o torturador

e xinga a moça até de "pelotuda"

porque prefere a pica em vez da dor.

A porra jorra sobre a voz miúda

da pobre adolescente, cuja cor

parece inda mais branca, assim desnuda.

(Mattoso, Glauco)

Ainda a esta fase, o soneto “Spic (sic) tupnic”, que é uma analogia ao Sputiniki, foguete lançado ao espaço que simboliza o progresso na União Soviética.

SPIK (SIC) TUPINIK (SONETO 2)

Rebel without a cause, vômito do mito

da nova nova nova nova geração,

cuspo no prato e janto junto com palmito

o baioque (o forrock, o rockixe), o rockão.

Receito a seita de quem samba e roquenrola:

Babo, Bob, pop, pipoca, cornflake;

take a cocktail de coco com cocacola,

de whisky e estricnina make a milkshake.

Tem híbridos morfemas a língua que falo,

meio nega-bacana, chiquita-maluca;

no rolo embananado me embolo, me embalo,

soluço - hic - e desligo - clic - a cuca.

Sou luxo, chulo e chic, caçula e cacique.

I am a tupinik, eu falo em tupinik.

O coloquialismo, a mistura de palavras e citações dão ao poema um ritmo típico da influência em Glauco, Tropicália. Que só mostra como o poeta estava envolvida não só em um movimento literário. Glauco tem em sua vasta lista de obras, a participação em um cd da tropicália, onde seus poemas eram musicados. Os poetas que o influenciaram nesta fase foram Torquato Neto, Caetano Veloso, Paulo Leminski e Gilberto Gil.

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